Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Pesquisadora afirma que nações já têm exércitos cibernéticos

– É possível fazer guerra no ciberespaço? A provocação é feita pela pesquisadora de internet e sociedade da Universidade de Harvard, Camille François, que acredita que é difícil definir o conceito de ciberguerra. Para ela, embora o assunto esteja sendo discutido há mais de três décadas, ainda não existem regras, limites ou processos que possam definir uma guerra no ciberespaço, mesmo reconhecendo que algumas nações hoje já tenham montado exércitos cibernéticos e realizem operações virtuais. A pesquisadora também foi uma das palestrantes da Campus Party 2015, feira de tecnologia e cultura digital, que acontece em São Paulo.

– É difícil definir a ciberguerra. Até os diretores da agência de inteligência americana afirmam que não temos ideia do que se trata, embora falemos nisso o tempo todo – afirmou François.

Ela citou como caso recente a invasão dos arquivos da Sony, que lançou o filme “A Entrevista”, cujo enredo retrata um complô para assassinar o ditador da Coreia do Norte. Primeiro, cita a pesquisadora, havia evidências de que se tratava de uma retaliação norte-coreana. Mas a própria Sony admitiu ter proteção baixa contra ataques de hackers.

– Foi um incidente de larga escala, mas não foi possível qualificar esse ataque como ciberguerra. Ninguém sabe quem é quem na internet e estão nascendo termos como cibervandalismo, ciberterrorismo – afirmou a pesquisadora.

Ela citou também o caso da destruição do programa de tratamento de Urânio do Irã, que mais tarde soube-se foi parte de uma operação liderada pelos Estados Unidos e Israel.

– Ninguém sabe o que os Estados podem fazer na internet – afirmou a pesquisadora.

François lembra que nos anos 80, ainda durante a Guerra Fria, o primeiro conceito de ciberguerra era que qualquer pessoa poderia invadir arquivos de um país, via internet, e destruir tudo. O filme Jogos de Guerra ilustrou esse pensamento. O filme conta a história de um adolescente, aficionado por computadores, que consegue acesso ao sistema bélico dos EUA e, sem saber, dá uma ordem de ataque que pode causar a terceira guerra mundial.

– O filme impressionou o presidente Ronald Reagan, já que embutia o aspecto político – disse a pesquisadora.

Em 1995, a revista Time também fez alusão à ciberguerra dizendo que ela “era um conjunto misterioso de todos os cenários futuristas”. Só no fim dos anos 2000, aconteceram os primeiros ataques cibernéticos a países, como foi o caso da Estônia, 2007, deixando os sites do governo fora do ar. O governo estoniano acusou a Rússia. O motivo seria a remoção de uma estátua que marcava a vitória russa contra o nazismo. Mas o governo russo não estava envolvido nos ataques, como acabou sendo provado, e a origem desconhecida até hoje.

Em 2008, o mesmo aconteceu com a Geórgia, que estava em guerra com a Rússia, mas também não foi possível atribuir a autoria dos ataques aos russos.

– Sabemos que os exércitos cibernéticos pensam e conduzem operações no ciberespaço fora das regras conhecidas. Mas não sabemos o que é um ato de guerra no ciberespaço e nem como lidar com isso – diz ela.

Miguel Nicolelis: macacos em testes

Outra palestra concorrida na Campus Party foi a do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que lidera o projeto Andar de Novo, responsável por um exoesqueleto controlado pela mente.

Ele contou que para desenvolver o exoesqueleto, estrutura criada para fazer pessoas com paralisia voltarem a andar, trabalhou com macacos. E revelou que esses animais adoram jogar videogames e receber recompensas quando ganham. Os macacos jogavam games cerebrais e equipamentos captavam sua atividade cerebral.

Depois de removerem o joystick, uma macaca continuou jogando apenas usando o cérebro, ou a força do pensamento. É esse conceito que permite que pessoas com paralisia consigam andar usando o exoesqueleto.

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Campus Party: Regulamentação do marco civil da internet ainda tem pontos polêmicos

João Sorima Neto # 6/2/2015

A consulta pública à sociedade para a regulamentação do Marco Civil da internet termina neste mês de fevereiro, mas ainda existem alguns pontos polêmicos em aberto. Entre eles, quais empresas têm direito a guardar os dados dos usuários garantindo privacidade a quem usa a rede. Outro ponto que ainda levanta discussão é a chamada neutralidade da rede, impedindo que os provedores de internet permitam que um conteúdo seja acessado com mais velocidade que outro. O assunto foi tema de discussão, nesta sexta-feira, durante o Campus Fórum, realizado durante a 8ª edição da Campus Party, feira de tecnologia e cultura digital que acontece em São Paulo.

– O Marco Civil da internet no Brasil é um exemplo internacional. Nem países como a Alemanha têm uma legislação desse tipo, E há inovação também na forma de sua regulamentação, que está sendo feita através de uma consulta publica – disse Virgílio Fernandes Almeida, secretário de Política de Informática (Sepin), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O Marco Civil da internet é a lei que determina os princípios, garantias e deveres de quem utiliza a internet no país. Ele entrou em vigor o ano passado, mas ainda precisa ser regulamentado. Os três pontos básicos do Marco são a neutralidade da rede, a privacidade e a liberdade de expressão. A regulamentação dessa lei vai promover pequenos ajustes técnicos e está sendo feita de forma inédita. Pela primeira vez na história, a presidência decidiu recorrer a uma consulta pública para dar suporte ao decreto de regulamentação.

O presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet) Eduardo Neger disse que a a garantia de neutralidade da rede estimula o empreendedorismo. Na prática, qualquer pessoa pode criar um site, colocá-lo no ar sem precisar pedir autorização a qualquer órgão. Pelo princípio da neutralidade, todas as informações que trafegam na web devem ser acessadas na mesma velocidade por todos. Para ele, este é um terreno fértil para o empreendedor. Com a neutralidade, um pequeno empresário, por exemplo, pode criar um produto, e disputar o mercado em igualdade de condições com grandes companhias.

– Esse princípio é um estímulo ao desenvolvimento de novas empresas – afirmou.

Dados citados pelo secretário de Política de Informática (Sepin), Virgílio Almeida mostram que a atividade econômica gerada pela internet terá peso de 2,5% na composição do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2016. Na China e Índia, o peso será de 5% e na Inglaterra de 12% no mesmo período.

– Isso mostra que o Brasil tem uma oportunidade imensa para fazer crescer sua economia digital – afirmou Almeida.

Para a advogada Veridiana Alimonti, que participou das discussões do Marco Civil como representante do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a regulamentação deve fechar algumas portas sobre quem pode guardar dados de usuários. O Marco Civil proíbe, por exemplo, que provedores de conexão à rede armazenem registros de navegação de usuário. Também determina que provedores de serviços excluam definitivamente dados do usuário quando este encerra sua conta.

– Quem tem o poder de guardar dados pode transformá-los num grande negócio, violando a privacidade do usuário, já que terá acesso a dados do cartão de crédito e saberá o que este consumidor compra, por exemplo – disse o deputado federal licenciado Júlio Semeghini, secretário de Inovação do governo de São Paulo, que sempre esteve envolvido nas discussões para criação dos princípios da internet brasileira.

O relator do projeto do Marco Civil, o deputado Alessandro Molon, também presente ao debate, disse que devem guardar as informações de usuários apenas as ‘empresas indispensáveis’ para garantir a segurança dos dados.

Para Virgílio Fernandes, da Sepin, os efeitos do Marco Civil já são sentidos pelos usuários. Ele lembra que enquanto em países da Ásia ou Europa, por exemplo, os direitos humanos têm sido reduzidos na internet, no Brasil eles são garantidos pelo fluxo de informação livre pelo Marco Civil.

– Nosso próximo desafio é regulamentar esse marco e acertar os ‘detalhes’ – afirmou.

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João Sorima Neto, do Globo