Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Síndrome de WhatsApp

Hoje apelei para uma profissional de enorme competência, a Lili. Comecei de novo um tratamento de fisioterapia. Em dezembro, a médica já tinha me receitado também uma injeção de anti-inflamatório, além de bolsas de água quente e exercícios. Mas os exercícios só comecei agora, porque piorei.

Estou com várias tendinites de novo, além de dor nas costas. Não vou pôr a culpa no excesso de trabalho nem em ninguém. O problema sou eu mesma. Passei as férias lendo os três grossos volumes da biografia do Getúlio, escrita pelo Lira Neto (Companhia das Letras). Ótima, aliás. Só que li metade na cama e a outra metade na esteira de praia. Deitada.

O resto do tempo, quando não estava dormindo, cozinhando ou lavando louça, passei lendo notícias no iPad, checando o Instagram e trocando mensagens por SMS, WhatsApp e e-mail, entre outras atividades no celular. Alguém pode imaginar a posição do meu pescoço?

A Lili me contou que hoje mesmo atendeu um rapaz de 18 anos com uma baita hérnia de disco no pescoço. O rapaz é alto, mas o agravante, segundo ela, é o tempo que ele passa checando o WhatsApp. Síndrome de WhatsApp, me disse com a maior naturalidade.

Sempre tremendo

Escrevo WhatsApp e na imaginação ouço vozes pronunciando What’s Up! Mas melhor seria dizer What’s Down! Para baixo! É para o celular que a gente dobra o pescoço. É com o celular que a gente também tensiona o indicador, ou o polegar, ou ambos: para digitar. A propósito, também estou com tendinite na mão direita.

Voltei ao trabalho e passo o dia inteiro em frente a um computador enorme, lindíssimo. Pescoço projetado para a frente do corpo, esse é um dos meus vícios posturais. Outro problema é que a mega tela do computador, descobri hoje, mais de dois anos depois de comprá-lo, é que é grande demais para mim. Eu, que sou pequena, tenho de levantar a cabeça para enxergá-la direito, e com isso tensiono o pescoço.

A alternativa seria levantar a altura da cadeira, mas aí os meus pés não alcançariam o chão e detesto aqueles apoios de pé. Sinto que fico engessada. Quem acredita que um mobiliário “padrão” serve para quem é pequeno ou para quem é grande? Quantos serão os “normais”?

Outra alternativa para o meu caso, pensei agora, seria abaixar a altura da mesa, mas aí eu não poderia dividi-la com outras pessoas, como faço hoje.

O custo de passarmos mais tempo conectados não é só de eletricidade, telefonia, troca de equipamentos com obsolescência programada, atualizações de softwares etc. O custo é de saúde física.

Mas tem três coisas que eu adoro no WhatsApp. 1) Funciona. Até em circunstâncias em que o SMS não funciona (não me pergunte por que o SMS anda tão ruim); 2) Ele não tem publicidade! Que delícia não ser interrompida por mensagens que não estou interessada em receber 3) É uma forma de comunicação mais barata que SMS e telefonia.

Mas sou do tipo que entende o WhatsApp como instrumento de comunicação um a um. Não gosto de receber no WhatsApp mensagens que não foram escritas especificamente para mim.

Minha filha é diferente. Acho que meu assistente também, porque os dois vivem com o celular sem som, mas sempre tremendo em cima da mesa por conta do grande número de mensagens que recebem. Não gosto disso porque me interrompe o fluxo do raciocínio, da memória, do trabalho. Distrai. Tira a concentração e a produtividade. É chato, viu?

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Marion Strecker é jornalista e cofundadora do UOL