Embora tenha surgido nos meios militares dos Estados Unidos no início dos anos 1960, com objetivos militares e em plena Guerra Fria, sendo nas duas décadas seguintes bastante utilizada e aperfeiçoada em universidades, somente no começo dos anos 1990 a internet deixou de ser privilégio dos militares e das universidades e virou sucesso de público e fenômeno mundial. Cresceu rapidamente e em 1995 passou a causar forte impacto na mídia impressa internacional.
Desde então, estão acesas as luzes amarelas do americano Audit Bureau of Circulations (ABC). Em queda desde 1984, a circulação dos jornais nos EUA sofreu um duro golpe com a chegada da internet. Já em 1995, houve expressiva queda na circulação de nove entre os dez maiores jornais norte-americanos: Newsday -7,03%; San Francisco Chronicle -5,18%; New York Daily News -5%; Chicago Sun-Times -4.34%; Los Angeles Times -4.18%; The New York Times -1,38%; e Washington Post -1,41%.
Como uma gigantesca serpente de enroscadura estonteante e de olhos luminosos hipnotizantes, a internet começou a atrair os jornais para seu ninho digital e a asfixiar suas versões impressas. O decréscimo na circulação de jornais americanos passou a ser acelerado. Em 2005, registrou o ABC, a circulação média dos jornais americanos nos dias de semana caiu 2,6%. Em 2008, de acordo ainda com o ABC, em mais de 500 jornais dos Estados Unidos, a circulação durante a semana caiu 4,6%, e as edições de domingo desceram 4,8%. E a serpente apertando, asfixiando. O decréscimo chegou em 2009 a um nível assustador: a circulação diária caiu 10,6% e, aos domingos, 7,5%, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Circularam, nesse ano, cerca de 30 milhões de jornais impressos contra 34 milhões do ano anterior. O jornal que teve a maior queda foi The San Francisco Chronicle, em torno de 26%. Acenderam-se as luzes vermelhas do ABC. Analistas deram uma explicação: A internet está acelerando um declínio que começou há meio século e a recessão americana colocou mais jornais na espiral do estado terminal.
Brasil segue tendência mundial
Em 2010, a circulação de jornais caiu 4,99% comparada a uma redução de 8,74% nos seis meses anteriores, revelou o ABC. Aos domingos, a queda foi de 4,46%. Em 2013, a venda do Washington Post para Jeff Bezos, um empresário da internet, dono da Amazon, por US$ 250 milhões, foi o desfecho de uma década de espantosa queda de circulação do jornal que revelou o escândalo de Watergate.
Levantamento da época mostrou o tamanho da asfixia: de 2004 a 2013, a circulação média diária do Washington Post caiu de 726 mil para 447 mil exemplares, um tombo de 38%. No mesmo período, a tiragem da edição de domingo caiu de 1 milhão de exemplares para 646 mil, redução de 36%.
No Brasil a circulação dos jornais caiu 1,9% em 2013, seguindo uma tendência mundial. Conforme o IVC-Instituto Verificador de Circulação, a média diária em 2013 foi de 4,43 milhões de jornais, somando todos os diários do território nacional. O número confirma o decréscimo gradual dos jornais, que já haviam caído 1,8% em 2012 na comparação com 2011. O IVC calculou: cerca de 4,43 milhões de jornais em circulação diária no Brasil em 2013, enquanto no ano anterior foram 4,52 milhões, queda de 1,9%.
Morte lenta
Cada vez mais jornais são fechados, editoras entram em concordata, jornais endividados vendem suas sedes históricas para pagamento de dívidas, jornais tradicionais reduzem suas edições impressas e outros simplesmente são engolidos pela internet ficando apenas com edição digital. Milhares de jornalistas são demitidos. É a serpente apertando.
Nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Brasil, os jornais estão perdendo mais e mais leitores para a internet. E ela está cada vez mais gigantesca, mais forte e mais fatal, deixando os jornais impressos agonizando e morrendo. De acordo com Future Exploration Network (FEN), que auxilia grandes organizações com insights sobre o futuro e estratégias de vantagens competitivas, mais de dois mil jornais americanos já foram fechados desde o advento da internet e os Estados Unidos serão o primeiro país do mundo a abolir o jornal impresso já em 2017.
Quando a gigante anaconda – que pode chegar aos 15 metros de comprimento e pesar uma tonelada, mas não é venenosa – ataca, enrosca e imobiliza sua presa de porte grande ou pequeno – bezerro, veado, capivara ou jacaré – e vai apertando, apertando, até matá-la por asfixia. É o que a predadora internet está fazendo com os jornais no mundo. É o inexorável abraço de anaconda.
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Jota Alcides é jornalista e escritor