Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A vida com os tablets

Coincidindo com os cinco anos do iPad, a Apple lançou, no final de 2014, uma nova campanha on-line, mostrando diversos trabalhos realizados nos tablets, computadores e smartphones da marca. É maravilhoso constatar, mais uma vez, como há gente criativa no mundo – e, pelo menos no meu caso, um tanto humilhante perceber como estamos longe de conseguir realizar algo tão bonito. Há ilustração, fotografia, videoarte, tudo espantosamente bom; para lustrar um pouco a nossa autoestima nacional tão machucada nos últimos tempos, há até uma série de fotos abstracionistas feitas pelo brasileiro Marcelo Gomes, um paraense radicado em Nova York. Ele clicou simples folhas de papel colorido usando o aplicativo Slow Shutter como “pincel” num iPhone 6 Plus (confiram: www.apple.com/start-something-new).

Confesso que, há tempos, os dois iPads que tenho em casa andam subutilizados: é que as telas dos smartphones ficaram tão grandes e tão boas, que acho mais simples usar a ferramenta que está à mão – e carregada. É claro que não sou a única a agir assim: analistas de mercado supõem que as ótimas telas dos novos telefones sejam, justamente, as principais responsáveis pelas quedas nas vendas dos tablets. Mas eu quis verificar até que ponto isso é verdade, e fiz algumas perguntas no Facebook:

– Vocês têm iPad? Qual deles? Ainda usam? Para quê? Se têm outro tipo de tablet, qual é?

Obtive 1.094 respostas. E percebi que, apesar do tamanho cada vez maior dos celulares, a maioria das pessoas continua intensamente envolvida com os seus tablets, sobretudo iPad 2 e Mini, com alguns Samsung Galaxy de diferentes tamanhos de permeio.

Companheiros de viagem

Sonja Gradel, por exemplo, tem um iPad Air, e o que ela conta descreve às mil maravilhas a maneira como tantos de nós nos relacionamos com as telinhas. Vejam se vocês não se reconhecem: “Não assisto a nada no Netflix ou na Apple TV sem meu iPad ao lado. Aparece uma referência a um lugar ou situação, lá vou eu no Google. Gosto de um ator ou diretor, vou lá no Google saber mais. E as premiações? Não assisto a nenhum Grammy ou Oscar sem estar logada no Messenger, falando com meus amigos sobre tudo, torcida, roupas, cabelos. Uma diversão! Também quando leio biografias tenho que estar com o iPad ao lado. A cada referência que me cause curiosidade, iPad/Google responde na hora. Não me vejo mais sem ele. Fora todo o resto, né? Reunião de trabalho? Só com iPad. Mostro meus trabalhos, procuro links no YouTube, é simplesmente essencial.”

Cláudio Moreira Dos Santos, outro que confessa que não vive mais sem o seu iPad 2, lembra, porém, que levou uns seis meses para descobrir para que ele servia: “Eu ligava, deslizava os dedos pela tela de um lado para o outro, ficava assombrado com a tecnologia que desconhecia, treinava aqui e acolá nos aplicativos, e depois desligava e deixava no escritório de casa.” Familiar também, não?

O astrólogo Waldemar Falcão usa aplicativos de Mapa Astral, o multimídia Levindo Carneiro desenha, escreve e faz apresentações para seus 24 livros, as artistas Denise Weller e Beth Klock pintam o sete. A maioria lê livros, jornais e revistas, e a fotógrafa Cristina Carriconde escreve, encabulada, que já fez até um calo na mão de tanto usá-lo: “Preguiça de ir para o PC!”

Para muitas pessoas, que às vezes nem os utilizam quando estão nas suas cidades, os tablets são companheiros de viagem ideais. Armazenam guias, mapas, roteiros e reservas, oferecem dicionários, conversores de moeda e de medidas, e podem até, dependendo do caso e das redes, dar uma mãozinha como intérpretes. Eles servem ainda como central de comunicações, diário de bordo e, em última instância, como máquina fotográfica.

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Cora Rónai, do Globo