Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O lado obscuro e caro da computação em nuvem

Os benefícios que as empresas obtêm ao migrar suas aplicações de computadores para serviços em nuvem estão se mostrando muito mais complexos do que selecionar um parceiro e apertar uma tecla, dizem executivos que fizeram a transição. Na ausência de controles adequados de custos, eles dizem que a computação em nuvem pode causar desperdícios de recursos valiosos.

O que observar? Especialistas dizem para sempre ter os custos futuros em mente quando planejar a mudança. Entre os erros mais comuns estão a contratação em excesso de capacidade computacional, não programar a desativação de programas fora do expediente, não usar ferramentas para monitorar os ciclos de computação desperdiçados ou deixar os programadores pensarem que os ciclos são gratuitos. Nesse sentido, podem ser úteis as lições aprendidas por pioneiros na migração para a nuvem, como o Netflix Inc., que oferece vídeos por streaming, e a Thermo Fisher Scientific Inc., uma empresa de equipamentos e serviços de ciência da vida.

Adrian Cockcroft, um ex­arquiteto de computação em nuvem do Netflix que comandou a transição que a empresa fez de seu centro de dados próprio para a unidade de serviços de internet da Amazon Inc., diz que os engenheiros do Netflix criaram um software que automaticamente desligava os sistemas em momentos de menor demanda e podiam prever a hora de voltar a operar. Outro programa customizado do Netflix monitora os recursos em nuvem consumidos por cada região ou serviço.

“Se você cria aplicativos que consideram que as máquinas são efêmeras e podem ser substituídas em alguns minutos ou segundos, então você acaba desenvolvendo aplicativos que levam o custo em consideração”, diz Cockcroft, sócio da empresa de capital de risco Battery Ventures.

O argumento econômico para a adoção da computação em nuvem é baseado na ideia de que consumir recursos à medida que eles são necessários custa menos que o capital investido numa sala cheia de servidores e as despesas com a manutenção deles. Mas a facilidade com que os departamentos podem acessar mais recursos on­line apenas com um cartão de crédito corporativo pode ser um problema. Contratar muita capacidade de computação pode ser tão fácil como pedir comida demais em um restaurante ou deixar a torneira aberta em casa.

Cerca de 60% dos servidores de aplicações em nuvem podem ser reduzidos ou eliminados porque as empresas os contrataram em excesso, diz Boris Goldberg, um dos fundadores e diretor de tecnologia da Cloudyn Ltd., que cria software para monitorar e gerenciar a computação em nuvem.

Mark Field, vice­presidente de tecnologia da informação da Thermo Fisher, lembra­se do dia em que descobriu que o atrativo de “pagar pelo que usar” da computação em nuvem tinha um outro lado. A empresa contratou capacidade de computação da Amazon Web Services para desempenhar pequenas tarefas. Mas, às sextas­feiras, os engenheiros deixavam tarefas sendo processadas por todo o fim de semana, anulando qualquer possibilidade de redução de custos. Field ordenou que qualquer solicitação de serviços em nuvem passasse pelo seu departamento. Toda semana ele analisa as contas dos serviços em nuvem e encontra servidores subutilizados ou que ficam ligados quando não estão em uso.

Lição crucial

Como o Netflix, a Thermo Fisher criou um software que pode iniciar ou interromper sistemas de computadores inteiros de acordo com a demanda. Fisher também preferiu trocar mais máquinas caras por serviços mais baratos da Amazon Web Services porque concluiu que os servidores que estava usando tinham mais capacidade do que precisava. Em dezembro, a Thermo Fisher reduziu em US$ 20 mil sua conta com a Amazon Web Services em relação ao mês anterior.

A capacidade de administrar os custos da computação em nuvem está virando uma prioridade para as empresas à medida que a tecnologia se torna cada vez mais importante. Os investimentos mundiais em serviços públicos em nuvem devem atingir um total de US$ 59,5 bilhões, ante US$ 45,7 bilhões em 2013, segundo a firma de pesquisa IDC. O mercado de computação em nuvem deve apresentar uma taxa de crescimento anual composta de 23% até 2017.

Gautam Roy, vice­presidente de infraestrutura e operações de TI da Waste Management Inc., possui “cicatrizes das batalhas” de suas primeiras tentativas de usar a computação em nuvem. Quando ele gerenciava a infraestrutura de TI e sistemas de software da bolsa de opções de Chicago, a Chicago Board Options Exchange, em 2009, os custos dos serviços em nuvem excederam as estimativas em 35% porque engenheiros deixavam tarefas sendo executadas quando não estavam trabalhando.

Na Waste Management, Roy depende hoje muito das tecnologias de virtualização de servidores e de desktop. A empresa usa alguns serviços em nuvem para fazer a gestão das vendas, mas Roy diz que pode adotar mais soluções em nuvem porque o mercado amadureceu muito desde sua época na bolsa.

James Cutler, diretor de TI da petrolífera QEP Resources Inc, recomenda negociar e planejar a customização de software como parte da estratégia de migrar para a computação em nuvem. Num exemplo, ele precisou de funcionalidades customizadas de um fornecedor de serviços em nuvem que não pôde atendê­lo no prazo desejado. Como resultado, a QEP está pagando, também outro provedor de aplicações fisicamente instaladas para garantir a funcionalidade necessária.

Cutler diz que essa foi uma lição crucial que ele agora adota enquanto analisa serviços de armazenamento e a recuperação de dados em nuvem no caso de desastres. No futuro, diz, “vamos ser mais cuidadosos com o que colocar em nuvem”.

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Clint Boulton, Wall Street Journal