Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Como um app explode

Onde importa na tecnologia, não se fala de outra coisa: Meerkat. A palavra quer dizer suricato, um simpático bichinho do Sul africano. Timão, o personagem Disney do Rei Leão, é um suricato. Mas não importa. Meerkat é o nome dum app para iPhones que explodiu com tanta intensidade na última semana que o Twitter se viu obrigado a bloqueá-lo. Quase. À vera, a história é mais complexa. O Meerkat ameaça o Twitter. E esta história ensina muito sobre como um novo produto estoura no mundo digital.

O aplicativo serve para exibir em vídeo um acontecimento ao vivo. Ligue o celular, então o Meerkat, aponte a câmera e pronto. O app gera um link que pode ser enviado via Twitter e para ser acompanhado por quantos o desejarem. O vídeo não fica armazenado em qualquer lugar. Ou assiste-se ao vivo ou está perdido. E é interativo. O espaço na tela é compartilhado com tweets de quem acompanha a transmissão.

É um aplicativo novíssimo. Foi mencionado por um blog chamado Product Hunt, popular no Vale do Silício por desencavar o que de mais recente foi produzido nas empresas inovadoras que nascem. Mas seu estouro não foi no Vale, ali ao sul de San Francisco. Explodiu mesmo em Austin, Texas. No South by Southwest ou, para quem é do ramo, SXSW.

SXSW é um gigantesco festival de música que ocorre em Austin desde 1987. Para as bandas que vão, trata-se de uma grande oportunidade de aparecer. E o público tem uma característica: é todo digital. Por conta do notório interesse, inclusive por ser frequentado por pessoas do Vale do Silício, um braço pequeno do festival, voltado para multimídia, foi rebatizado em 1999 SXSW Interativo. Hoje é, talvez, mais relevante do que o festival de música. Os fatos o dizem: duas redes sociais importantes tornaram-se conhecidas ali nas ruas de Austin durante as conferências. Uma, o Foursquare. Outra, o Twitter.

E a privacidade?

Todos os anos uma novidade se estabelece no South by Southwest. É o assunto que domina todas as conversas, o app da moda que todos usam. Eleitas já fracassaram. O Sonar, que permitia descobrir em quais redes sociais você tem conexões com alguma pessoa, foi o assunto da edição de 2011 e naufragou dois anos depois.

O Meerkat é a escolhida deste ano. E, para uma conferência em que inúmeras palestras e debates ocorrem em várias salas, muitas delas interessantes, mas com vagas limitadas, faz sentido. Foram transmitidas amadoristicamente ao vivo.

Parte da integração do Meerkat com o Twitter foi interrompida. O novo app se ligava ao Twitter para facilitar que usuários acompanhassem as transmissões. Mas, quando se tornou repentinamente popular, havia uma informação que ninguém tinha. Semanas atrás, o Twitter comprou o Periscope, um outro app que faz essencialmente a mesma coisa. Eles já apostavam na ideia de que muita gente adotaria um método de transmissão para eventos ao vivo. O Twitter quer o seu.

Mas será? Porque há duas dúvidas legítimas sobre a utilidade de um serviço assim. A primeira é simples: o público para eventos ao vivo que não são transmitidos profissionalmente talvez não seja grande o bastante. A segunda é mais contundente. Não há novidade. Sites como UpStream já fazem isso faz tempo.

Caso o estouro se torne consistente e transmissões via celular se popularizem, haverá outro problema. Privacidade. Alguém pode estar transmitindo você sem o dizer.

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Pedro Doria, do Globo