É impossível saber quantos recordes serão quebrados na Olimpíada do Rio, em 2016, mas algumas apostas parecem certas: será a competição mais digital da história – a expectativa é que 12 bilhões de páginas de internet sejam vistas durante os 17 dias do torneio – e a mais móvel de todas: 60% de todo acesso ao conteúdo virá de dispositivos como smartphones e tablets. Na Olimpíada de Londres, em 2012, essa participação foi de 40%.
Para dar conta desse tráfego, o Comitê Rio 2016 fechou um acordo com a Microsoft para criar e manter no ar os três principais sites da competição. É o maior contrato já fechado pela Microsoft no país em termos de processamento de dados na nuvem, o que a empresa chama internamente de Azure. A estimativa é que quatro petabytes serão processados durante os jogos. Segundo alguns cálculos, um petabyte corresponderia à memória de 800 seres humanos ou dois mil anos de música tocando sem parar.
O primeiro site, previsto para entrar no ar em abril de 2016, cem dias antes dos jogos, vai mostrar o revezamento da tocha olímpica em 250 localidades brasileiras. Na abertura da competição, em 5 de agosto, vai estrear o site principal, com pontuação, classificação e quadro de medalhas atualizados em tempo real. O terceiro site será o dos Jogos Paralímpicos, que ocorrem depois da Olimpíada.
“Queremos que a competição seja vista por todos os brasileiros. Por isso, a iniciativa é tão importante. Trata-se da nossa voz digital”, diz Renato Ciuchini, diretor comercial do Comitê Rio 2016.
A Microsoft vai usar simultaneamente seis centros de dados próprios, no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia. Pelo modelo da nuvem, softwares e informações ficam armazenados nesses prédios, em vez de ocupar espaço no computador do usuário. O acesso é feito via internet, daí a necessidade de uma infraestrutura reforçada. No caso da Olimpíada do Rio, a estimativa é que 400 milhões de páginas sejam vistas por dia.
Os sites estarão disponíveis em vários idiomas e os sistemas vão melhorar a experiência do usuário, exibindo o conteúdo de maneira fluida mesmo em regiões onde a banda larga é deficiente, diz Luis Azeredo, diretor da divisão de serviços da Microsoft.
O orçamento para a realização da Olimpíada do Rio é de R$ 7 bilhões. Os recursos são 100% privados: 45% vem de patrocinadores locais, entre 15% e 20% da venda de ingressos, 5% com licenciamento e varejo, e o restante do Comitê Olímpico Internacional, o COI, que repassa uma parte da receita obtida com a venda de direitos de transmissão e verbas de patrocínio globais. Esses recursos são administrados pelo Comitê Rio 2016, que organiza a competição. É comum pensar que essa é uma tarefa do Comitê Olímpico do Brasil, mas o papel do COB é outro: cuidar dos atletas olímpicos brasileiros.
O comitê avalia três critérios para contratar produtos e serviços, afirma Ciuchini. Os dois primeiros são de caráter técnico e comercial. O terceiro é o patrocínio. A Microsoft tornou-se fornecedora oficial dos Jogos Olímpicos. Os detalhes financeiros do acordo não são revelados, mas nessa condição a companhia pode receber exposição de marca em troca de parte dos produtos fornecidos.
As conversas entre o Comitê Rio 2016 e a Microsoft começaram há cerca de um ano. O processo envolveu uma longa consulta ao COI e à multinacional francesa Atos, principal responsável pela tecnologia dos Jogos Olímpicos. Os dados serão gerados pelos sistemas da Atos, mas exibidos pelos da Microsoft. Além da infraestrutura, a companhia americana também terá participação no conteúdo dos sites, numa parceria com a agência de mídia digital Isobar.
O acesso por smartphones será um dos maiores desafios para a Microsoft, diz Azeredo. A companhia terá de assegurar que os sites sejam vistos por quaisquer dispositivos e sistemas operacionais. Há uma infinidade deles: o iOS, da Apple; o Windows, da própria Microsoft; e as diversas versões do Android, do Google. Depois, existe a questão de como o conteúdo será exibido. O tamanho e a resolução das telas dos dispositivos variam muito atualmente o que eleva a dificuldade técnica.
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João Luiz Rosa, do Valor Econômico