O interesse do Alibaba Group Holding em comprar a empresa americana Yahoo tornou-se o teste mais recente da capacidade de companhias chinesas com ambições globais se expandirem e, ao mesmo tempo, continuarem em linha com os controles econômicos e sociais de Pequim.
O diretor-presidente do Alibaba, Jack Ma, disse em uma conferência na sexta-feira (30/9) nos Estados Unidos que a companhia chinesa de comércio online estava interessada em comprar a empresa americana de buscas e foi procurada por empresas de private equity e outras para um possível acordo. Não se sabe se o Alibaba tomou medidas formais para fazer uma oferta e um porta-voz da companhia não quis dar mais detalhes.
Os rumores de negociação rapidamente suscitaram questões de segurança. A direção do Alibaba argumenta que a empresa é privada e já tem vasta presença nos Estados Unidos, por meio da sua plataforma de comércio online, enquanto empresas americanas também usam sua plataforma Taobao.com para manter contato com compradores chineses. Além disso, os servidores do Yahoo estão nos Estados Unidos e, por isso, Pequim não teria autoridade direta sobre eles. Ainda assim, analistas e advogados dizem que qualquer possível acordo seria analisado de perto por reguladores americanos devido à suscetibilidade de dados pessoais na internet. “Uma grande questão seria se a negociação poderia ser vista como um problema de segurança nacional”, disse Neil Torpey, presidente do escritório de Hong Kong da empresa americana de advocacia Paul Hastings LLP, especializada em direito corporativo, incluindo mercado de capitais e fusões, e aquisições.
Questão de segurança nacional
Outros esforços de companhias chinesas para se expandir no exterior já foram abandonados no passado pela desconfiança em relação ao que às vezes é chamado de “modelo chinês” – um termo geral para a combinação entre valores de empresas livres e um forte papel do governo e do Partido Comunista na China. Questões políticas atrapalharam compras de companhias estrangeiras no passado como, em 2005, a tentativa mal-sucedida da Cnooc de adquirir a americana Unocal Corp. Diferentemente da estatal Cnooc, o Alibaba, com sede na cidade de Hangzhou, no Leste da China, é uma companhia privada sem participação do governo.
Michael Clendenin, diretor-gerente da consultoria em tecnologia RedTech Advisors, em Xangai, disse que um exemplo melhor seria a aquisição da divisão de computadores pessoais da IBM pela Lenovo, em 2005. A Cfius, comissão governamental americana que pode barrar negociações se achar que a segurança nacional pode ser colocada em risco, aprovou a transação da Lenovo depois que a companhia chinesa concordou em retirar algumas operações do campus da IBM, onde funcionários faziam trabalhos para o governo. Na época, um instituto chinês estatal tinha 30% da Lenovo.
“Um ícone da internet americana”
O Alibaba já fez pequenas aquisições de empresas de internet nos EUA, adquirindo, no ano passado, duas companhias de comércio online. Por ser uma companhia chinesa, o Alibaba teria que contar com a boa vontade de Pequim para manter sua licença para fazer negócios. O caminho mais provável para uma oferta pode ser um esforço conjunto, e esta oferta deve ser estruturada de uma maneira que permita ao Alibaba se dividir e ganhar controle dos ativos do Yahoo na Ásia, deixando outros ativos do Yahoo nas mãos de outros investidores, sugere Clendenin, da consultoria RedTech.
Além das operações nos Estados Unidos, o Yahoo tem desenvolvido negócios em lugares como Taiwan e Hong Kong e detém cerca de 35% de participação na Yahoo Japan Inc.
Mesmo se o negócio fosse aprovado, a fusão entre Yahoo e Alibaba poderia enfrentar problemas de opinião pública. “Você não acha que muitos usuários podem ficar assustados?”, questiona Bill Bishop, um investidor de Pequim que acompanha a internet na China. “Por mais bagunçado que esteja, o Yahoo é um ícone da internet americana”, afirmou ele.
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[Owen Fletcher é do Wall Street Journal, em Pequim]