Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A cultura do deficiente auditivo

Em sua coluna de domingo [22/10/06], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, tratou de uma das responsabilidades de um jornal: educar os leitores. Segundo ela, os protestos sobre a presidência da Universidade Gallaudet, instituição educativa só para surdos, deu ao diário uma excelente oportunidade para apresentar aos leitores um mundo pouco conhecido: o dos deficientes auditivos. No entanto, a ombudsman avalia que teria sido necessária uma análise mais aprofundada do tema na cobertura do caso.

Os protestos de estudantes, funcionários e ex-alunos contra a presidente designada Jane K. Fernandes começou há meses, mas atingiu seu clímax na semana passada com uma segunda votação dos funcionários da universidade demonstrando a falta de confiança em sua liderança – e um voto para o presidente aposentado I. King Jordan, que se tornou o primeiro presidente surdo da instituição depois de protestos históricos de estudantes em 1988.

Feedback dos leitores

Leitores que são contra a indicação de Jane não gostaram da publicação de um editorial escrito por ela e publicado pelo jornal no dia 14/10, nem dos editoriais de apoio a ela, que pediam fim aos protestos. Nancy Bloch, executiva-chefe da Associação Nacional de Surdos e de ex-alunos do Gallaudet, considerou ambos ‘superficiais’. A repórter especializada em educação superior do jornal, Susan Kinzie, revelou que o tema lhe rendeu mais comentários dos leitores do que qualquer outra matéria já escrita por ela.

Mais informações

Não foi publicado pelo jornal um perfil de Jane, nem artigos explorando a importância que o fato tem nacionalmente. De acordo com o blog Deafeye, destinado a deficientes auditivos, grupos de surdos em todo o país estão apoiando os manifestantes.

Jane nasceu surda, freqüentou escolas públicas e faz leitura labial. Ela só veio aprender a linguagem dos sinais americana (ASL, sigla em inglês) aos 23 anos. Muitos protestantes rejeitam a indicação de Jane porque ela não cresceu usando a linguagem dos sinais, por sua relação fria com os alunos e por não ter qualidades de um líder.

Segundo David Rosembaum, editor-chefe do SIGNews, publicação mensal para usuários da linguagem dos sinais, a questão do uso da ASL não tem a ver com o fato da não aceitação de Jane. ‘Existem outros líderes que aprenderam a linguagem dos sinais mais tarde na vida e que têm as qualidades de liderança necessárias’, opina.