Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A grande aliança anti-Google

Há pelo menos dois anos os principais caciques da internet norte-americana vinham estudando estratégias sobre como enfrentar o avassalador crescimento da Google, uma empresa que surgiu como um mecanismo de buscas na web e hoje é a marca mais valorizada da internet mundial.

A Microsoft resolveu agora partir para a ofensiva anunciando sua intenção de comprar a Yahoo!, o segundo sistema de buscas mais usado na internet e que desde o final de 2006 vinha apresentando uma performance claudicante, sem conseguir evitar a desvalorização constante de suas ações na bolsa Nasdaq (de empresas eletrônicas).

Na verdade, são duas empresas em dificuldades que decidem juntar forças para evitar o pior. Se a Yahoo! perdia terreno para a Google, a Microsoft não consegue evitar a erosão constante de sua hegemonia no mercado de software. Primeiro foi o golpe sofrido como o sucesso do sistema operacional de código aberto Linux. Depois veio o golpe causado pelo navegador Firefox, que está acabando com a histórica supremacia do Explorer.

A Microsoft também reagiu com muita lentidão ao fenômeno web 2.0 – ou web social –, formado por projetos baseados na colaboração e participação de usuários. Mas o golpe mais severo aconteceu depois do lançamento bombástico do sistema operacional Vista, destinado a substituir o Windows XP. O Vista está há um ano no mercado e ainda não emplacou, tanto que cada vez mais compradores de computadores novos exigem a troca do Vista pelo XP.

Pulo do gato

A Microsoft e a Yahoo! reinavam absolutas na web, no final dos anos 1990, quando os garotos Larry Page e Sergei Brin criaram a Google, no dormitório da Universidade Stanford, onde eles estudavam engenharia. Menos de uma década mais tarde, a situação se inverteu totalmente, num processo que está se transformando numa espécie de versão corporativa da lei de Darwin.

A mastodôntica Microsoft e a pouco criativa Yahoo! acabaram atropeladas pela agilidade e inventividade da geração Google, que teve a coragem de desafiar hegemonias e fazer um aposta no futuro, numa época em que os grandes estavam mais preocupados com o faturamento do presente. A Google criou um modelo de negócios inteiramente novo, baseado na acumulação de informações fornecidas pelos seus usuários.

O segredo da Google foi descobrir um sistema de hierarquização dos resultados de buscas apostando que o crescimento da internet complicaria enormemente a localização de endereços na rede. Hoje, 58,3% das buscas na web norte-americana e 86% das realizadas na Inglaterra são feitas com a ajuda do sistema criado por Larry e Sergei.

O mecanismo de busca passou a guardar todas as informações deixadas pelos seus usuários. Este banco de dados tornou-se ainda maior quando a empresa lançou o correio eletrônico Gmail, grátis e praticamente ilimitado. Foram estas informações que permitiram a Google criar sistemas de publicidade que se revelaram uma mina de ouro, porque incluíam os pequenos anunciantes, eternamente marginalizados pelas agências de publicidade.

Ficção virtual

A combinação de informações recolhidas de usuários, gratuitamente, e o faturamento tipo grão de milho por meio dos sistemas Adwords e Adsense fizeram as ações da Google disparar nas bolsas. Hoje, as ações da empresa valem três vezes mais que as da Yahoo!, aumentaram de valor 65,1% em novembro de 2007 e custam 21 vezes mais do que em agosto de 2004, quando a Google tornou-se uma empresa de capital aberto.

A compra da Yahoo! pela Microsoft pode ser vista de duas maneiras: uma expressão do canibalismo concentrador entre as grandes empresas para assegurar a sobrevivência das mais aptas, ou mais um sintoma de que as hegemonias são efêmeras na era virtual, por conta da inovação constante e do permanente desafio em detectar tendências presentes para antecipar oportunidades futuras.

Agora só falta a Google, comprar a livraria virtual Amazon, para que o documentário de ficção Epic 2014 [há uma versão mais atualizada chamada Épic 2015, que pode ser acessada aqui] se torne cada vez mais verossímil. A peça criada por Robin Sloan e Mark Thompson afirma que no ano 2014 um hipotético megaconglomerado chamado Googlezon dominaria a internet, monopolizando toda a informação e provocando o desaparecimento dos grandes impérios jornalísticos.

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Jornalista, editor do blog Código Aberto