Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A maior biblioteca digital do mundo

Quando fundaram o Google, em 1998, os estudantes americanos Sergey Brin e Larry Page tinham como ambição fazer com que toda a informação disponível no mundo estivesse acessível a qualquer pessoa com uma conexão de internet. Na semana passada, mais precisamente na terça-feira (14/12), os dois empresários de sucesso se aproximaram mais um pouquinho desta meta – pelo menos ao que diz respeito à porção da informação mundial em língua inglesa. Neste dia, foi anunciada a criação de um acordo com algumas das mais importantes bibliotecas de pesquisa dos EUA para a digitalização de seus acervos, que serão colocados gratuitamente na Rede.

A idéia é transcender o papel atual da internet e torná-la o maior banco de pesquisas em obras literárias, coleções especiais e trabalhos universitários do mundo. Pelo menos inicialmente, o processo de digitalização dará muito trabalho: os livros e documentos passarão por sofisticados scanners com câmeras de alta-resolução capazes de capturar todos os detalhes das páginas de papel e convertê-las em um arquivo digital. Executivos do Google se recusam a dar detalhes sobre a tecnologia usada ou sobre o custo do projeto, mas pessoas envolvidas acreditam que haja um gasto de US$ 10 por cada um dos 15 milhões de livros previstos no acordo. Bibliotecários estimam que o trabalho deva durar pelo menos uma década para ficar completo.

Direitos autorais

As instituições envolvidas contam com nomes de peso como Harvard, Oxford, Stanford, Universidade de Michigan e a Biblioteca Pública de Nova York. Só poderão ser digitalizados os livros antigos o bastante para estarem fora das restrições de direitos autorais. As obras sob estas normas serão digitalizadas, mas terão apenas alguns trechos disponíveis online.

O mesmo acontece com um projeto anterior do Google relacionado a literatura. Assim como a livraria virtual Amazon, o sítio de buscas lançou há pouco um programa de leitura em parceria com editoras literárias. Através dele, internautas podem ler trechos de livros de editoras como HarperCollins, Penguin, Houghton Mifflin, Scholastic e Random House. O truque consiste em deixar que o visitante leia apenas um número pequeno de páginas – o suficiente para que ele decida se tem interesse pelo livro e se quer comprá-lo.

A não ser pela regra dos direitos autorais em comum, os acordos entre o Google e as instituições são levemente diferenciados. Em Harvard, o projeto se limitará inicialmente a 40 mil volumes; em Stanford, todos os oito milhões de livros da biblioteca serão escaneados; e, em Oxford, o trabalho abrangerá apenas os volumes publicados antes do ano 1900.

O plano do Google é incorporar o acervo digital ao serviço regular já prestado na internet, que hoje conta com cerca de oito bilhões de páginas em seu banco de dados e recebe diariamente a visita de dezenas de milhões de internautas. Como acontece com seus outros serviços, o Google irá vender espaço publicitário para gerar receita do material proveniente das bibliotecas. Em contrapartida, cada biblioteca receberá sua própria cópia do banco de dados digital, e poderá optar por disponibilizá-la em seu próprio sítio de internet.

Fonte global de informação

Representantes das instituições mostraram-se bastante receptivos ao projeto. ‘Nós sempre pensamos em nossas bibliotecas em Harvard como uma fonte global de pesquisa’, afirma o presidente da universidade, Lawrence H. Summers. ‘Dentro de duas décadas, a maior parte do conhecimento mundial estará digitalizado e disponível, espera-se, para consulta gratuita na internet, assim como é gratuita a leitura nas bibliotecas de hoje’, completa Michael A. Keller, bibliotecário-chefe da universidade de Stanford. Paul LeClerc, presidente e executivo-chefe da Biblioteca Pública de Nova York, vê o acesso online a seu acervo literário como uma expansão do domínio das bibliotecas, e não como uma troca do espaço físico pelo virtual. ‘Os bibliotecários irão adicionar uma nova dimensão ao seu trabalho’, diz ele. ‘Mas não irão abandonar sua missão de coletar material impresso e mantê-lo por décadas ou séculos’.

Já Daniel Greenstein, bibliotecário da Biblioteca Digital da Universidade da Califórnia, um projeto com o objetivo de organizar e armazenar material digital existente, acredita que as bibliotecas do futuro gastarão mais energia juntando informação e tornando-a acessível – e mais facilmente manejável – na internet do que gastando tempo e dinheiro para manter suas coleções impressas.

Mesmo divergindo quanto ao futuro dos processos de armazenagem das obras literárias, LeClerc e Greenstein concordam em um aspecto: a possibilidade de digitalização destas obras significa uma mudança grandiosa para o mundo em que vivemos. E esta mudança é só o ponto de partida. Outros projeto virão em breve. Por agora, além da iniciativa do Google, a Biblioteca do Congresso dos EUA já possui seu próprio plano de disponibilizar na Rede suas obras mais preciosas na tentativa de democratizar o acesso à informação, que antes era restrito a seletos grupos. Também na semana passada, representantes da Biblioteca do Congresso anunciaram seu projeto para a criação de um arquivo digital de um milhão de livros, em parceria com outras bibliotecas dos EUA, Canadá, Egito, China e Países Baixos. O grupo tem como objetivo colocar 70 mil volumes na Rede até abril de 2005. Informações de John Markoff e Edward Wyatt [The New York Times, 14/12/04].