O ambiente é caótico. Do lado de fora do galpão cerca de 2 mil blogueiros montaram acampamento. Dentro, em uma imensa área aberta, milhares de pessoas se organizam espontaneamente em um ambiente caótico. Nele, há cinco mesas-redondas simultâneas, nos diversos pontos da área, games gigantes, mesas com centenas de internautas ligados por banda larga.
Há de tudo. Figuras folclóricas da blogosfera, grandes marcas globais de aparelhos tecnológicos, uns rapazinhos que montaram um orelhão telefônico que fala pela internet, dirigíveis sendo movidos a controle remoto.
Trata-se do Campus Party, um evento que surgiu há dez anos na Espanha – apoiado pela Telefonica – e há três anos se realiza no Brasil. É um enorme encontro de geeks, de uma rapaziada que gosta de vestir bermudas e bonés, nasceu no ambiente tecnológico, abomina regras sociais, cultiva ao mesmo tempo o individualismo e o trabalho em grupos, em redes.
Jogo político
A inauguração contou com o governador de São Paulo José Serra. Na sexta-feira (29/1), com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
A presença de futuros candidatos à presidência da República não é mera coincidência ou extravagância. Mas o reconhecimento da influência cada vez maior da comunidade da mídia digital.
Nos próximos anos, essa comunidade meio dispersa, meio inorgânica, começará a se articular de forma mais consistente e passará a ter influência política. Poderá se contrapor às pressões das emissoras de TV aberta, defendendo as cotas para a animação nacional, por exemplo. Poderá se articular pressionando o Congresso na defesa de teses de seu interesse.
Esse mesmo processo está se dando com movimentos sociais por todas as partes do país. Muitas dessas manifestações têm se dado através das diversas conferências nacionais – de Comunicação, de Cultura, de Direitos Humanos etc.
Alguns setores vêem com receio esses movimentos, como se o país de repente pudesse mergulhar em uma fase de caos político, similar ao pré-1964 no Brasil ou aos anos 1930, na Europa.
Trata-se de um pessimismo injustificável. A internet e a modernização do país está permitindo, de forma pacífica, a incorporação de novos grupos ao jogo político. Não há garantia maior de institucionalização da democracia do que esse método de incorporação política. A alternativa seriam os conflitos sociais, os confrontos que permitissem abrir espaço na pancada.
Sem donos
Nos próximos anos, se verá o desabrochar de um jogo democrático inédito no país. Até algum tempo atrás, a grande mídia – meia dúzia de jornais no eixo Rio-São Paulo-Brasília, uma ou outra emissora de TV – controlavam o debate político. Só se tornava fato político o que passasse por ela.
Com isso, ficavam de fora do jogo político os interesses das cidades do interior, do agronegócios e da agricultura familiar, da indústria nacional e da pequena e micro empresa.
A ampliação dos blogs e sites mudará completamente esse jogo. A partir de agora, não haverá mais donos da política – nem grandes jornais nem partidos políticos. Os próximos anos exigirão dos governantes, cada vez mais, a capacidade de negociar e de prestar contas de seus atos.
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Jornalista