Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A previsão de Moore

Há exatos 50 anos, Gordon Moore, cofundador da Intel, publicou na Electronics Magazine um artigo em que previu que, a cada período de 12 meses, a indústria iria dobrar o número de transistores contidos num chip. Em 1975, o engenheiro fez uma revisão de seu estudo, e mudou o prazo médio para 24 meses.

A previsão ficou conhecida como Lei de Moore, e acabou por ditar o ritmo acelerado do mercado de tecnologia da informação. Ela teve impacto em todas as áreas da eletrônica, e não somente na computação. Na prática, a Lei de Moore diz que, de dois em dois anos, é possível comprar um chip com o dobro da capacidade, do mesmo tamanho e pelo mesmo preço do que se comprava antes.

Quando Moore fez sua previsão, há meio século, o transistor tinha o tamanho da borracha que fica na ponta de um lápis. Atualmente, é impossível ver o componente a olho nu. O primeiro microprocessador da Intel, de 1971, tinha 2.300 transistores. O chip lançado este ano tem 1,3 bilhão. Se um smartphone usasse a tecnologia de 1971, seu processador seria do tamanho de um carro.

A Lei de Moore é uma lei de mercado. Não é uma lei científica. A Intel e seus concorrentes têm corrido atrás dessa meta desde que foi feita a previsão, tornando-a uma profecia autorrealizada.

Cenário desafiador

Na verdade, algumas descobertas científicas feitas nas últimas décadas permitiram saltos maiores do que dobrar a capacidade a cada dois anos. Uma característica importante da Lei de Moore, no entanto, é trazer previsibilidade ao mercado. Fabricantes de eletrônicos e desenvolvedores de software já contam com essa velocidade de evolução na capacidade de processamento ao projetar novos produtos.

Mas até quando dá para mantê-la? Há anos escuto que a tecnologia do silício está chegando ao seu limite físico, e que não vai ser possível manter o ritmo sem encontrar algum material alternativo para fabricar os chips.

“A gente tem tranquilidade de que a Lei de Moore vai continuar valendo por pelo menos dez anos”, disse David González, diretor geral da Intel Brasil. “O Brian (Krzanich, presidente mundial da Intel) costuma dizer: ‘o maior pesadelo de qualquer CEO é ser o último da Lei de Moore, e não serei eu’.”

As comemorações dos 50 anos da Lei de Moore acontecem numa época de grandes mudanças no mercado de tecnologia da informação. O microcomputador deixou o espaço central que ocupava há poucos anos, e registra queda de vendas no mundo todo.

A situação é tão desafiante que o mercado financeiro reagiu bem, na semana passada, à notícia de que a Intel conseguiu manter inalterado seu faturamento no primeiro trimestre deste ano. A fabricante compensou a queda no mercado de chips para PCs com crescimento em processadores para centros de dados, internet das coisas e memórias.

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Renato Cruz é colunista do Estado de S.Paulo