Apesar de pequenos, os candidatos nanicos podem fazer barulho nas eleições e mexer nas pesquisas eleitorais. O problema é que seus nomes sequer aparecem.
‘Ei, ei, Eymael um democrata cristão para presidente do Brasil queremos Ey-mael pela família e pela nação’ [jingle Eymael. Disponível em http://bitw.in/avS]. É provável que você já tenha ouvido esse jingle antes, um hit das eleições passadas que mais uma vez poderá ser ouvido no pleito presidencial de 2010. O ex-deputado federal José Maria Eymael, do Partido Social Democrata Cristão (PSDC), é um daqueles candidatos que não tem tempo de TV, quase ninguém conhece, não participa dos grandes debates e nem tem chances reais de vencer a disputa. Ele representa um estrito grupo de candidatos que compõem os chamados partidos nanicos, estruturas políticas de pequena ou nenhuma expressão. E que juntos somam seis [TSE- Divulgação de candidatos. Disponível em http://bitw.in/avT] candidatos e 2% das intenções de voto dos brasileiros [Datafolha Eleições. Disponível em http://bitw.in/avU].
Apesar de pequenos, os nanicos não podem ser subestimados. Muito pelo contrário. Juntos, eles fazem um estrago nas estratégias e estrutura dos grandes partidos, que têm que dividir o bolo eleitoral e as verbas partidárias com dezenas de legendas. Podem interferir no resultado das eleições e até mesmo levá-las para segundo turno.
Depois das eleições de 2002 e 2006, esta será a primeira vez que os pequenos partidos estarão livres da camisa-de-força da verticalização. Este obrigava os partidos a respeitarem as alianças feitas para a presidência também nos estados, o que levou à multiplicação dos candidatos nanicos. É isso mesmo, além de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), também foram anunciados como candidatos à presidência Rui Costa Pimenta (PCO), Levy Fidelix (PRTB), José Maria (PSTU), Ivan Pinheiro (PCB), Plínio de Sampaio Arruda (PSOL) e o supracitado José Maria Eymael (PSDC).
Uma atitude totalmente ‘antidemocrática’
Entretanto, a visibilidade dada a esses candidatos pela mídia é esmagadoramente pequena. Nas pesquisas de intenção de votos, seus nomes sequer aparecem. É comum encontrar referências sem a citação dos nanicos. ‘Os demais candidatos somam menos de 1% de intenção de voto, cada’ [O Dia Online. ‘Ibope: Dilma mantém cinco pontos à frente de José Serra’ Disponível em http://bitw.in/avU] são frases que aparecem repetidas vezes.
Esse anonimato forçado não agradou a Levy Fidelix, que no dia 5 de agosto foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) requerer seus direitos como candidato. Para Fidelix, o primeiro debate eleitoral de 2010 é uma afronta à democracia brasileira. No mesmo dia, a rede Bandeirantes de Televisão exibiu para todo o Brasil um debate com somente quatro dos nove candidatos à presidência do Brasil. O presidenciável enxerga essa situação como discriminatória. Não só com ele, mas com seus eleitores também. ‘Nós representamos 10 milhões de eleitores que estão sendo prejudicados com essa ditadura midiática’, dispara [‘Fidelix acusa a grande mídia de discriminação e promete recorrer a ONU’.’ Disponível em http://bitw.in/avV].
O candidato do PRTB não foi o único a reclamar. José Maria Eymael, em seu Twitter, lançou farpas à Band. Segundo Eymael, colocar somente quatro candidatos foi uma atitude totalmente ‘antidemocrática’. Em um de seus tweets, pode-se ler ‘Pergunta: Porque não fui ao debate? Resposta: Porque a Band negou-me este direito!’ [Twitter do Eymael. Disponível em http://bitw.in/avW].
Anonimato impede que propostas sejam conhecidas
Contudo, os candidatos que não se encontram nos holofotes midiáticos recorrem à internet. O uso das redes sociais é uma forte aliada deles, que, além do pouco tempo na TV, sequer são convidados aos debates eleitorais.
Na opinião do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), até mesmo a senadora Marina Silva, que apareceu em recente pesquisa com cerca de 10% das intenções de voto, deverá fazer boa parte de sua campanha na web, pois terá pouco tempo na TV.
Entretanto, o jornalismo online é pautado pelo impresso, que ignora a presença dos nanicos. Um exemplo é a discrepância nos resultados de busca pelos nomes dos presidenciáveis no site da Folha Online [pesquisa feita entre os dias 05 de julho de 2010 e 06 de agosto de 2010]. Ivan Pinheiro e Rui Pimenta são os menos citados, com 11 resultados. Já a tríplice que norteia as eleições, Dilma Rouseff, José Serra e Marina Silva, aparecem com resultados maiores na busca. Os números de citações em notícias da Folha Online são de 504, 428 e 144 resultados, respectivamente.
Não é muito diferente no portal de notícias G1. Dilma aparece com esmagadores 608 resultados, enquanto Zé Maria é citado apenas cinco vezes [pesquisa feita entre os dias 04 de julho de 2010 e 04 de agosto de 2010] e os noticiários contentam-se em transmitir a troca de alfinetadas entre os principais, Dilma e Serra. Tal anonimato midiático impede que os eleitores conheçam mais das propostas desses candidatos, que são minoria.
7% faz toda a diferença
Os micróbios da política nacional têm, assim como os partidos de grande porte, propostas, planos de governo e ideologias direcionadas às minorias que, pensam eles, estão sem representatividade no cenário político nacional. É evidente que alguns partidos têm a clara intenção de aumentar sua representatividade política nos estados através da sua candidatura à presidência. Entretanto, existe uma outra parcela de partidos que investirá no anúncio de candidaturas nacionais para defender bandeiras de cunho ideológico.
José Maria ei, ei, Eymael (PSDC), por exemplo, quer colocar o Estado a serviço do cidadão, rumo à construção da felicidade. Segundo o ex-deputado constituinte, um Estado que conseguisse suprir todas as necessidades do povo seria o principal agente da felicidade. ‘É tanta coisa que você quer e precisa, que só uma palavra resume tudo: felicidade’, aponta Eymael. Com a projeção já conquistada em eleições passadas por Eymael, e com a presente campanha, o PSDC pretende eleger 10 deputados federais.
Outra proposta inusitada é de Levy Fidélix (PRTB), que pretende implantar o aerotrem nas capitais e grandes centros urbanos do país. A ideia é criar uma solução aos problemas de trânsito enfrentados pelos brasileiros através da construção de veículos parecidos com os metrôs de superfície. Com essa mesma proposta, Fidélix já perdeu oito eleições, incluindo disputas para vereador, deputado federal e até governador. Agora tenta a sorte com a presidência.
No bloco dos partidos ideológicos, as principais propostas de campanha colocariam às avessas tudo o que se conhece como modelo econômico em terras tupiniquins. Os candidatos Rui Costa Pimenta (PCO), José Maria (PSTU) e Ivan Pinheiro (PCB) apresentam os manjados programas de combate ao imperialismo, levantam as bandeiras da classe operária e namoram antigas correntes do comunismo. Entre as propostas estão o calote da dívida pública, aumentos significativos no salário mínimo e até a criação da 5ª Internacional Socialista para combater o capitalismo, ideia difundida pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Embora menos radical, o PSOL e seu candidato, Plínio de Arruda Sampaio, apresentam propostas similares, também de forte conteúdo ideológico.
Barreto lembra, em entrevista dada à revista IstoÉ de 4 de abril [‘Carona Eleitoral.’ revista IstoÉ, 4 de abril de 2010], que nas eleições de 1989, sem o esquema da verticalização, os nanicos tiveram cerca de 5,5% dos votos válidos. Esse montante, revertido para o atual contingente do eleitorado, significaria algo em torno de 7%. E como os dois principais candidatos brigam palmo a palmo nas pesquisas, 7% faz toda a diferença. A mídia precisa urgentemente de uma lupa para poder enxergar a pluralidade de opiniões. Afinal, isso é democracia.
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Estudantes de Jornalismo, Engenheiro Coelho, SP