Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A visibilidade de Dilma no Twitter

Passada a superexposição da posse, os dois picos de citações do nome de Dilma Rousseff no Twitter, em 16 e 19 de março, correspondem à entrevista que a presidente deu a Hebe Camargo e, logo em seguida, ao encontro com o presidente norte-americano, Barack Obama, durante sua visita ao Brasil.

Não por coincidência, foi nessa época que Dilma alcançou seu mais alto porcentual de aprovação popular. Chegou a 56% de “ótimo” + “bom” na pesquisa Ibope/CNI concluída em 23 de março. Nem antes nem depois a presidente teve taxas de popularidade superiores a 50%. Lula não chegou a esse patamar de aprovação com três meses de governo (ele superaria essa marca bem mais à frente no mandato).

Foi o melhor momento de Dilma no Twitter e nas pesquisas de avaliação. Daí em diante, a lua-de-mel com o poder acabou e os problemas começaram a a se misturar à agenda positiva.

Em abril, a presidente teve três pequenos picos de citações no Twitter. Os motivos foram diferentes: o encontro com o pop star Bono, do U2; a visita à China; e um movimento na internet contra a construção da usina de Belo Monte que tentava influenciar a decisão presidencial.

O terceiro maior pico de citações ocorreu em 26 de maio. Foi provocado por duas polêmicas, nenhuma delas boa para Dilma: sua defesa do ainda ministro Antonio Palocci (Casa Civil), cujo patrimônio foi multiplicado dando consultorias a empresas quando era deputado; e a reação da bancada evangélica ao chamado kit anti-homofobia que o Ministério da Educação pretendia distribuir a escolas. A presidente recuou em ambos os casos.

Em 8 de maio, quando Palocci caiu e foi substituído por Gleisi Hoffmann na Casa Civil, Dilma voltou a ser muito citada no Twitter, nem sempre de maneira positiva, mas tampouco apenas de modo negativo. A situação se repetiu, mas com menor intensidade, em 5 de agosto, nas esteira da queda de outro ministro, agora o dos Transportes, Alfredo Nascimento, por denúncias de corrupção generalizada na pasta.

As mais recentes crises envolvendo denúncias de corrupção no governo, agora nos ministério da Agricultura e do Turismo, têm causado pouca repercussão envolvendo o nome de Dilma no Twitter. O gráfico mostra um pico de citações muito modesto em 5 de agosto.

A séria ininterrupta de escândalos e demissões parece ter a propriedade de diluir a atenção do público e, por consequência, perder impacto na opinião pública. Tanto é que a aprovação de Dilma, após o pico de março, permaneceu estável entre junho e o começo de agosto, quando se compara as três últimas pesquisas do Datafolha (10/06 e 04/08) e do Ibope (31/07).

Antecedentes

Numa comparação histórica, Dilma não destoa da média de aprovação que seus antecessores alcançaram por volta de seis meses de mandato. Ela tem 48% de “ótimo” + “bom” na mais recente pesquisa CNI/Ibope. Fernando Henrique Cardoso chegou a 42% de aprovação pelo mesmo instituto em junho de 1995 (primeiro mandato) e a 18% em maio de 1999 (logo após a desvalorização do real com que começou seu segundo governo).

Luiz Inácio Lula da Silva obteve marca equivalente ao rival no primeiro mandato (43% de “ótimo” + “bom” em junho de 2003) e melhor no segundo mandato (50% em junho de 2007). Dilma está se segurando no mesmo patamar de aprovação do segundo mandato de Lula, considerada a mesma época do governo.

Na pergunta “aprova ou desaprova o presidente?”, Dilma tem 67% de “aprova” contra 65% de FHC e 70% de Lula nos seus primeiros mandatos. Mas nem tudo são flores. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a mais forte correlação da popularidade de um presidente é com o estado da economia. Muito mais do que escândalos, pesam na opinião das pessoas seu poder de compra e as oportunidades de emprego. Consumo em alta e desemprego em baixa foram os estilingues da popularidade de Lula e Dilma. Mas os sinais no horizonte não são bons para a atual presidente.

Mais do que a crise financeira mundial, são os indicadores internos que piscam amarelo. A dificuldade de controlar a inflação preocupa a população, e o pessimismo aumenta. Nada menos do que 58% dos brasileiros esperam que a inflação cresça no futuro próximo. É um porcentual maior do que as expectativas inflacionárias nos primeiros seis meses de mandato de FHC (34% em 1995 e 50% em 1999) e de Lula (36% em 2003 e 41% em 2007).

Se as pessoas acham que os preços vão subir, há uma boa chance de a previsão se autorrealizar, pelo comportamento de manada dos mercados. Somem-se as pressões de oferta, como a prevista falta de etanol, e começam os problemas reais de Dilma. Uma escalada inflacionária corroeria a capacidade de as pessoas consumirem. E um furo no bolso do eleitor drena muito mais popularidade de um governante do que uma dezena de escândalos ministeriais.

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[José Roberto de Toledo é jornalista]