Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As chaves do Android M

Esperava-se uma nova versão do Android para o segundo semestre, mas o Google decidiu adiantar o anúncio na Conferência I/O, para dar impulso à sua divulgação. Dave Burke, responsável máximo pelo sistema operacional móvel do Google, explicou numa conversa com jornalistas como será a renovação do software que já funciona em 1,3 bilhão de aparelhos.

A primeira coisa que esclareceu é que a grande inovação do sistema não será percebida à primeira vista, porque está relacionado com seu funcionamento profundo. Seguindo o padrão do que foi apresentado no Google Fotos, o Android M usará tecnologia de machine learning, isto é, à medida que for usado, ganhará eficiência e conhecerá melhor o usuário. “Cada vez temos mais analistas de dados para que tudo funcione melhor”, declarou.

O Google Now, sistema de alertas e informação no menu de opções do celular – uma mistura de Siri, o robô da Apple que responde perguntas, com uma agenda avançada – é sua aposta em customização. No entanto, muitos consumidores o consideram muito invasivo, quase um motivo para rejeitar o Android. Burke defendeu sua utilidade: “Faz com que a experiência seja muito melhor, mas não é obrigatório. Quando alguém o acessa, o aparelho pergunta três vezes se quer aceita-lo. Nego-me a pensar que alguém possa usá-lo por engano.”

O Google é acusado de se preocupar apenas com a transição de uma versão para outra, deixando que muitos aparelhos fiquem sem opção de atualização. Essa diversidade de versões, um autêntico quebra-cabeça para os desenvolvedores, é chamada no jargão da área defragmentação: “Nos últimos meses tentamos evitar isso, e esse é o motivo pelo qual o Android M tenha sido apresentado tão rapidamente. Abrimos o código aos desenvolvedores e fabricantes com a intenção de que seja adaptado a seus chips e componentes. Se tudo sair como previsto, estará nos celulares antes do fim do ano.”

Nome de batismo

Os dispositivos Nexus historicamente serviram para dar o tom à indústria. O Google se aliava a um fabricante e estreava uma versão de Android. Neste I/O rompeu-se o hábito de divulgar uma versão, mas, ao dispensar um software do fabricante e contar com uma versão limpa do Android, a empresa mantém a promessa de durar ao menos dois anos com a atualização mais recente.

Outro defeito a ser reparado é a passagem entre aplicativos, às vezes arrastada demais. O executivo tem consciência disso: “Será mais fluente, mais simples. Sem saltos.”

Um dos anúncios mais atraentes foi a inclusão de senhas dentro dos aplicativos. Hoje o acesso é aceito de modo completo, mas no M poderá ser parcial. Ou seja, permitir, por exemplo, que o WhatsApp acesse a câmera, mas não a localização ou a galeria multimídia, por exemplo.

Quando saiu o Lollipop, a versão atual mais avançada do Android, saudou-se sua suposta facilidade para administrar notificações. Burke tem noção de que ainda são incômodas e passíveis de aperfeiçoamento: “Nós demos prioridade a fazer com que ocupem menos memória no celular e também que sejam intuitivas e, com o tempo, se apaguem. Não faz sentido que durem vários dias. Devem avisar o básico, e não tornarem-se motivo de aborrecimento.”

A duração da bateria, apesar das promessas e ampliações de capacidade feitas pelos fabricantes, sucumbe ante a exigência dos processadores, sempre tão vorazes por miliamperes. Burke ressaltou que o M conseguirá, em alguns casos, duplicar a autonomia: “Se você deixar o celular sobre a mesa por duas horas, o aparelho detecta que não está sendo usado e passa a dormir. Os aplicativos ficam suspensos. Só são ativados se chegarem mensagens de prioridade alta. E então despertam. O usuário não vai perceber isso, mas sim a consequência, que é uma maior autonomia com a carga.”

O último esclarecimento, em tom de piada, diz respeito ao nome. O Google mantém uma linha: cada atualização recebe o nome de uma guloseima cuja primeira letra obedece a uma ordem alfabética. A maioria das apostas, de longe, recai sobre milk-shake. “Não tem por quê. Também podemos escolher macarons…”, deixou no ar, para manter o suspense.

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Rosa Jiménez Cano, do El País, em San Francisco