Uma imagem vale por mil palavras, regra de ouro do jornalismo. Mas as fotografias da ministra Dilma Rousseff estampadas nas capas das edições de terça-feira (13/1) dos principais jornais de São Paulo – Antes e Depois – deixaram o leitor atônito. Porque as fotos vinham sem legenda. E quando o leitor olhava a foto de Antes criava inconscientemente a legenda de uma ministra dura, intransigente, forte, determinada para tudo que isso quer dizer de bom ou de mau. Mas ao escorregar o olho para a direita, que como se sabe é o lado do jornal que o olhar humano mais valoriza, a legenda saía doce, mole, suave, condescendente, com tudo de bom e de mau que uma imagem assim inspira. Como naqueles jogos onde se deve colocar o passarinho na gaiola, juntando duas imagens aparentemente desconexas, ninguém conseguia colocar Dilma dentro de Dilma. Faltou legenda. Olhar 2010 Ivo Pitanguy diz com razão que todo mundo tem direito à beleza. As mulheres que fazem plástica dizem que pretenderam tornar o exterior (envelhecido) mais parecido com seu interior (jovial). Algumas conseguem juntar as duas imagens numa só. Outras permanecem duas o resto da vida, andando e se comportando como senhoras enquanto exibem o rosto da filha adolescente com expressão patética. No caso de Dilma Rousseff, ninguém a olharia como uma mulher qualquer, uma celebridade, uma artista. Dilma é política como Golda Meir, Benazir Bhutto, Hillary Clinton, Angela Merkel, Michelle Bachelet. Todos os leitores olharam a capa dos jornais de terça-feira procurando as legendas, querendo ouvir Dilma Depois e não Dilma Antes; mas, como Dilma Depois ainda não falou nada, olhava-se a foto de Dilma Depois e ouvia-se a fala de Dilma Antes – o que não combinava com a serenidade daquele rosto que sofreu a repressão no Brasil ditatorial e se propõe a ser presidente em 2010. Dilma tem o direito à beleza como todo mundo, até porque já era bonita. A queixa é contra a foto: faltou legenda!
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Jornalista