Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As últimas da Twitterlândia

Na manhã de quinta-feira (5/8), a apresentadora do programa Globo Esporte Glenda Kozlowski digitou um twit de 82 caracteres, um dos quais lhe custou caro. Um fatídico esse intrometeu-se em sua grafia de ‘cinismo’, precipitando um ataque em massa de internautas armados de cês até os dentes. Glenda pode não ter gostado da reação, mas foi reconfortante descobrir que um contingente razoável de twitteiros não só sabe escrever corretamente a palavra cinismo como se empenha em denunciar quem maltrata o idioma naquele espaço tão avaro de vocábulos e congestionado de adolescentes de miolo mole como o Twitter.

Dos factoides gerados na Twitterlândia, nos primeiros dias de agosto, o ‘sinismo’ de Glenda (bom título para um trash movie de Ed Wood) talvez tenha sido um dos menos explorados pela mídia. Muito mais repercussão tiveram o polêmico videochat dos meninos do Santos depois do jogo com o Prudente, domingo passado [1/8]; as cenas de sexo daquele casal de adolescentes gaúchos, vazadas para milhares de internautas, na madrugada de segunda-feira; a blitzkrieg virtual contra o canastrão Sylvester Stallone, pelas cretinices que andou dizendo sobre o Brasil; o anúncio da gravidez da cantora inglesa Lily Allen; e a notícia de que um designer gráfico japonês acabara de expedir a vigésima bilionésima mensagem do Twitter, na tarde de sábado retrasado, atraindo por essa involuntária façanha uma enxurrada de parabéns nos mais variados idiomas.

Relevantes mesmo, só os vídeos dos jogadores santistas e dos perversos polimorfos gaúchos, dois momentos exemplares de irresponsabilidade e má conduta juvenis, com lições, que espero úteis, para todos.

Embora o goleiro santista tenha se desculpado, no dia seguinte, pela grosseria cometida com um internauta que alfinetara sua empáfia (‘O que eu gasto de ração com o meu cachorro é o que você ganha no mês inteiro’, rosnou o arqueiro para a twitcam), o episódio continuou repercutindo nas chamadas mídias sociais. Por entender que tudo não passara de um ‘mal-entendido’ desmesuradamente explorado pela imprensa, e também, é claro, para não desestabilizar o time às vésperas da decisão da Copa do Brasil, a diretoria do Santos optou por um indulgente puxão de orelhas. Conquistado o título, nada mais a impede de ir além da ‘bronca didática’, para pôr um freio na petulância e na arrogância da molecada, que hoje sintetiza, com a bola nos pés, mas só com a bola nos pés, o que há de melhor no futebol brasileiro.

Lado bom

Ao ser informado de que fora o autor do vigésimo bilionésimo twit, o tal designer japonês tremeu nas bases, pois interpretou a coincidência como um recado divino de que seus dias estavam contados, só relaxando depois que a entendeu como uma retribuição, divina ou não, ao entusiasmo com que os seus patrícios se dedicam ao Twitter. Os japoneses enviam 8 milhões de mensagens por dia por esse serviço de microblogging. Perdem apenas para os americanos. Os terceiros do ranking são os indonésios. Em quarto lugar, ufanem-se, tolos, os conterrâneos do mulato inzoneiro.

No ranking que realmente importa, o do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) das Nações Unidas, o quarto posto é ocupado pelo Canadá. Nessa especialidade, continuamos na segunda ou terceira divisão, amargando o 75º lugar. Como não se pode ter tudo na vida, rejubilemo-nos com a nossa participação no bolo de 55 milhões de twits diariamente trocados na mais popular rede de relacionamento da internet. Se acrescentarmos os números do Orkut e do Facebook, alcançaremos um IVD (Índice de Vagabundagem Digital) de se tirar o chapéu.

Como é sabido e lamentado, as redes sociais da internet são um domínio de quem não tem o que fazer e adotou a evasão da privacidade como um modo de vida. Até aborto, justo no meio de uma reunião de executivos, já ganhou a internet, em tempo real, via Twitter. Daí a objeção padrão: ‘Não me interessa saber o que fulano está comendo, neste exato momento, na lanchonete da esquina’. E suas infinitas variações: ‘Por que seguir os passos de sicrano se não sou detetive particular nem o conheço pessoalmente?’ O que é que eu ganho participando da escolha da gravata que William Bonner usará no Jornal Nacional de hoje à noite? Que ensinamentos e prazeres pode me oferecer uma conversa fiada de jogadores de futebol mal entrados (se entrados) na idade da razão?

Por sua mobilidade, imediatidade, intimidade e capilaridade, o Twitter pode ser uma ferramenta preciosa para jornalistas, cientistas, criadores em geral ou simples usuários com boas ideias para trocar e denúncias a fazer. Poetas ganharam sobrevida na rede, não apenas produzindo haicais (sonetos, nem pensar), mas lendo e difundindo seus versos em videochats. O marketing da indústria de cinema descobriu nas redes sociais o veículo ideal para promover filmes e atrair mais público às salas exibidoras, revelou há dias o jornal inglês The Independent. Esse é o lado bom da coisa. Ou o menos pernicioso, na avaliação de alguns Galileus da internet.

Quem se habilita?

Nicholas Carr, expert em tecnologia digital, desconfia que o Google nos esteja imbecilizando, robotizando nossos conhecimentos, embotando nossa memória, e que a Web dispersa em demasia nossa atenção e trivializa a vida intelectual através de blogs, tweets e quejandos. Sherry Turkle, do MIT, publica em breve um preocupante estudo sobre as mudanças comportamentais e neurológicas da geração escravizada ao celular e às mídias sociais. Seis meses atrás, George Packer alertou, na revista The New Yorker: ‘Não há como ficar online, navegando, enviando e-mails, postando mensagens, twitando e lendo twits e, em breve, ocupando-se da próxima novidade digital, sem pagar um preço elevado, sem roubar nosso tempo, nossa atenção, sem afetar nossa capacidade de apreender o que lemos e nossa experiência do mundo que imediatamente nos cerca’.

Quem se habilita a criar o primeiro Tecnólatra Anônimo?