O artigo de Luiz Weis repercutindo a matéria da revista britânica The Economist [‘Jornal de 163 anos se apaixona pela blogosfera‘] é pertinente. Discordo, no entanto, do pessimismo de Weis, apesar de também não compartilhar do entusiasmo sem limites da Economist pelas virtudes da blogosfera. Acho, porém, uma grande bobagem falar que o hitlerismo teria triunfado mais rapidamente se houvesse o blog na época. Quem conhece a história sabe que o nazismo floresceu à sombra da desinformação, da deturpação sistemática dos fatos, do embotamento das pessoas e do oportunismo de políticos de direita e esquerda, que atacavam o governo de maneira irresponsável, produzindo uma crise desestabilizadora que só favoreceu aos radicais nazistas.
No entanto, acho que a blogosfera, como toda instituição humana, também carrega sua cota de pecados e maldades. Da mesma forma que o petróleo, o avião, a energia nuclear, a blogosfera tem aspectos positivos e negativos. Mas é uma realidade, uma força, e sua presença não mais deve ser avaliada no sentido moralista ou maniqueísta, e sim de forma racional, visando criar novas formas de regulação que não agridam a sua atmosfera radicalmente libertária. As declarações de Weis, ao fim do artigo, criticando a blogosfera, contudo, parecem-me resultado de sua experiência como blogueiro do Observatório.
Weis tem sido um blogueiro, digamos assim, mainstream. Sua cobertura da crise política para o Verbo Solto, seu blog no OI, tem se caracterizado pela sistemática chancela e defesa da linha editorial da grande mídia. Ora, em cada país a blogosfera insere-se na esfera política de acordo com as circunstâncias e a história. Se na Coréia do Sul a blogosfera foi responsável pela eleição do atual presidente, também no Brasil a blogosfera deve ajudar ou prejudicar os candidatos em seu desejo de ocupar (ou reocupar) o trono em Brasília.
A linha fortemente anti-Lula na imprensa corporativa, e o fato de a seção de cartas desta mídia ter pouco espaço e, portanto, ser muito vulnerável e pouco democrática e representativa, tem feito refluir para a blogosfera um verdadeiro exército de cidadãos insatisfeitos com o cerco político e midiático ao governo do presidente Lula. Talvez inspirado pelo título de seu blog, Weis solta algumas pérolas que não fazem o mínimo sentido para mim, como: ‘Quanto mais numerosos menos bem-informados, parece ser o padrão. O que facilita o trânsito de deturpações dos acontecimentos e de opiniões baseadas em falsidades’.
Um chope
Ora, o que tem caracterizado o habitante da blogosfera, mormente o que comenta no Verbo Solto e aqui no OI, é justamente o contrário. São cidadão ultra-informados, mas sempre críticos às ‘verdades’ midiáticas. Pela internet, lêem vários jornais, várias revistas e acessam editoriais e artigos das mais variadas tendências políticas. Mais uma vez, Weis não parece estar à vontade com a proximidade do mundo-leitor que a blogosfera inevitavelmente traz. E esta proximidade está revelando verdades desagradáveis a Weis, e ele reage dizendo que os leitores é que estão cada vez mais desinformados.
Entre estas verdades está a de que o leitor está identificando na mídia corporativa o interesse velado de minar a candidatura de Lula e projetar o candidato do PSDB. Delírio meu, dirá Weis e, diante do fato desta minha opinião ser compartilhada por milhares de internautas, deverá ele afirmar que se trata de um delírio coletivo. Acho mesmo que certas matérias contra Alckmin só vieram a ser publicadas após a identificação de que um vasto número de leitores estaria tendo esse mesmo tipo de percepção.
O pessimismo de Weis, portanto, também parece estar ligado ao fato de que, para decepção dele, segmentos importantes da blogosfera brasileira estejam caminhando para o apoio ao projeto político de Lula e do Partido dos Trabalhadores, e isso de graça, pela percepção de que seu governo estaria contribuindo, de forma clara e sustentável, para a redução da miséria no país. Diante do denuncismo e da intensidade dramática com os quais a mídia corporativa vem cobrindo a crise política, com a chancela de alguns blogueiros, como Weis, deve ser mesmo frustrante observar que a blogosfera brasileira caminha exatamente para o lado contrário. Isso deveria ser motivo de orgulho para um verdadeiro amante da democracia, pois revela o surgimento de uma força de contrapeso às corporações midiáticas, nem sempre (diria quase nunca) alinhadas aos melhores interesses nacionais.
Enfim, agradeço a Weis pelo artigo, presto meus respeitos por seu pessimismo em relação à blogosfera, mas oponho-me a ele veementemente e rechaço as acusações de desinformação e percepção distorcida da realidade que ele faz a ‘um número crescente de leitores’. Da mesma forma que Weis defende a imprensa corporativa, eu defendo os leitores e, ao contrário de Weis, faço um grande elogio ao enorme talento ‘jornalístico’ que floresce entre eles. Talvez Weis, um dia, mude de idéia, e tenha mais prazer em conversar com seus leitores, mesmo com aqueles que discordam de suas idéias. Nesse dia nós, leitores, estaremos aqui, receptivos, alegres, bem-humorados e otimistas, e talvez mesmo lhe paguemos um chope.
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Escritor, Rio de Janeiro