Afinal, qual é a verdadeira vocação do jornalismo online? Noticiar com rapidez ou com qualidade, aprofundando, investigando e analisando os fatos?
Em artigo publicado na edição de 3 de fevereiro deste Observatório da Imprensa, o escritor Gabriel Perissé sugere que os jornais impressos mudem de estratégia preocupando-se menos com a velocidade e mais com a profundidade das notícias. Segundo Perissé ‘o que se escreve no jornal é mais permanente do que aquilo que vemos num telejornal ou na tela do computador’. Trocando em miúdos, os jornais deveriam dedicar-se mais à reflexão do que à simples transmissão das notícias que, via de regra, chegam mais rápido por meio do rádio, da televisão ou da web.
Os jornais diários se aproximariam da proposta das revistas semanais, afastando-se da necessidade de noticiar primeiro, prioritária nos telejornais e rádio-jornais. Os jornais impressos voltariam a praticar o jornalismo investigativo e a investir nas grandes reportagens. E o papel dos jornalistas se aproximaria daquele desempenhado pelos escritores, dos cronistas de antigamente (como o legendário João do Rio), ‘transmitindo notícias com mais história, mais imaginação, mais metáforas, mais literatura, mais filosofia. Mostrando as entrelinhas, o menos evidente, o significativo (…) comunicando menos fatos, e mais, muito mais poesia’.
E a internet? Onde fica o jornalismo online nessa história toda?
Em entrevista publicada pelo portal Webwritersbrasil.com, o jornalista Sílvio Lancellotti afirma que ‘a Internet é a grande chance da humanidade para preservar sua cultura, mas deve funcionar como um banco de dados e não simplesmente como um veículo de informação (…) A net não é como a TV onde todo mundo fica sabendo quem deu a notícia primeiro. A web não tem que dar primeiro, tem que dar com peso e qualidade’.
Outro dia, uma leitora do mesmo portal questionava a ‘desatualização’ de seu conteúdo, como no caso da entrevista mencionada acima, publicada em agosto de 2001. Boa parte dos internautas acredita que o que vale na rede é a novidade. Talvez isto seja apenas mais uma necessidade de consumo provocada pelos grandes portais. Infelizmente, essa demanda pela rapidez acaba confundindo a avaliação do internauta sobre o conteúdo de um website. Mas a matéria não-datada, analítica, reflexiva, será a real fonte de pesquisa, estudo e reflexão no futuro. E no presente, contribuirá para a formação do pensamento do leitor, incitando sua capacidade crítica.
A proposta do professor Perissé para os jornais impressos é perfeitamente cabível na web. Para que a net seja no futuro um banco de dados da cultura humana, como sonhou Lancellotti, é preciso que o jornalismo online deixe para a TV e para o rádio a glória de noticiar primeiro, concentrando-se no trabalho inglória de refletir, ponderar e analisar.
Queremos o escritor nos jornais online também!
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Roteirista multimídia e editor de conteúdo do Webwritersbrasil.com