Depois de 565 anos apresentada ao mundo e compartilhada por bilhões de pessoas em tecnologia impressa, graças ao invento de Gutenberg, a Bíblia, o livro mais vendido e lido no planeta – com 6 bilhões de exemplares distribuídos nos cinco continentes – está agora chegando aos fiéis cristãos em versão eletrônica. Com a Bíblia em tablet, é inevitável uma volta ao passado distante de 3 mil anos, quando sociedades primitivas da Mesopotâmia e do Egito se comunicavam pela escrita em tablets de pedra, madeira, couro, barro e papiro. Na pós-modernidade de hoje, a inovação tecnológica, que começou nos Estados Unidos, está se espalhando rapidamente no mundo e também no Brasil.
Uma pequena igreja em Mickleover, na região central da Inglaterra, é pioneira da mudança na Igreja Católica da Europa. Os fiéis nas missas da Igreja de Saint John usam aparelhos de última geração conectados por wi-fi para seguir o ritual milenar. “O interesse da Igreja pela internet é uma expressão particular do seu interesse pelas mídias sociais”, justifica o Vaticano, em manifesto recente sobre a Internet. Sem dúvida, a nova e moderníssima forma de comunicação está causando impacto nas práticas e tradições de católicos e evangélicos.
Em Mickleover, o padre Alun Rowlands, responsável pela mudança e pela paróquia, comemora: “Estamos muito animados com esse progresso e cheio de expectativa para ver como podemos usar melhor essas tecnologias.” No Brasil, em Maceió, capital das Alagoas, na Igreja do Divino Espírito Santo, paróquia do bairro Jatiúca, o padre Pedro Teixeira chama a atenção: ele só celebra a missa com seu tablet sobre a mesa do altar para leitura evangélica. Em Brasília, na Igreja Batista do Lago Norte, bairro nobre da capital federal, quando o pastor Hércio Fonseca pede aos fiéis evangélicos que abram suas bíblias, muitos abrem seus tablets.
Um horizonte superpromissor
Com um simples toque digital, eles chegam, em segundos, a qualquer um dos 39 livros do Antigo Testamento e dos 27 livros do Novo Testamento. Repetem o que já fazem mais de 170 milhões de pessoas no mundo, lendo e compartilhando a Bíblia através de aplicativo gratuito, o mais popular do planeta. Existem várias versões populares do App da Bíblia, como ARC09YV, NTLH, NVI, TB10, ARC e VFL, e essas versões apresentam a Bíblia em mais de 400 idiomas. O YouVersion é Aplicativo número 1 do mundo. Foi desenvolvido ao custo de US$ 20 milhões.
É uma criação da LifeChurchTV, de Oklahoma, uma das maiores e mais avançadas igrejas evangélicas dos Estados Unidos, lançada em 10 de junho de 2008. Com mais de 600 traduções da Bíblia em mais de 400 línguas, o aplicativo é ecumênico, incluindo as versões preferidas pelos católicos, evangélicos, ortodoxos russos e judeus messiânicos De acordo com o responsável pelo projeto, pastor Bobby Gruenewald, o aplicativo mostrou que ia fazer sucesso logo no primeiro dia com 83 mil downloads. Com apenas sete anos, já ultrapassou 100 milhões de instalações.
“Quando lançamos YouVersion, teria sido difícil para nós imaginarmos que 30 milhões de aparelhos teriam instalado o aplicativo, neste curto espaço de tempo e engajado com as escrituras para o nível que nossa comunidade tem”, disse Gruenewald. “Vendo isso, acreditamos que poderemos ver um meio bilhão ou até mesmo 1 bilhão de pessoas usando o aplicativo da Bíblia para se envolver com a escritura ainda dentro desta década.”
Para o pastor Bobby Gruenewald, a velocidade com que os cristãos estão adotando essa tecnologia e o enorme potencial para mais crescimento, permitem enxergar um horizonte superpromissor: “Enquanto 30 milhões de instalações e mais de 11 bilhões minutos lendo as escrituras com o aplicativo da Bíblia é certamente algo para comemorar, acreditamos que é apenas o começo. Há mais de 5 bilhões de celulares no mundo, e as pessoas gastam um total de 300 milhões de minutos de jogo todos os dias em Angry Birds. Temos muito espaço para crescer.”
As verdades das Sagradas Escrituras
Para milhões de cristãos ao redor do mundo, o aplicativo gratuito e altamente popular da Bíblia, YouVersion, está mudando o relacionamento social com o Evangelho, Esta evolução de suportes da bíblia traduz o próprio nível evolucionário da humanidade. Desde a Babilônia, atual Iraque no Golfo Pérsico, berço da raça humana, local do Jardim do Éden, cenário do começo da história bíblica com Adão, Eva, Noé e Abraão. É uma história longa com centenas de anos.
Pesquisas arqueológicas na Babilônia, cidade maravilhosa do mundo antigo, encontraram milhares de livros escritos em placas de pedra ou de barro antes da época de Abraão. Eles têm relação direta com os primeiros livros da Bíblia. Durante mil anos antes de Moisés, a escrita já era usada não apenas na Babilônia, mas também no Egito. Já foram descobertos escritos de há mais de 3.500 anos em tablets de argila (tabuinhas de barro) na lendária Suméria.
De acordo com a tradição cristã, a Bíblia foi escrita por 40 autores, entre 1500 e 450 a.C. (Antigo Testamento, escrito em hebraico) e entre 45 e 90 d.C. (Novo Testamento, escrito em grego), totalizando um período de quase 1600 anos. Segundo o Vaticano, é de 382-404 dC a Bíblia Vulgata, a primeira em Latim, traduzida diretamente do hebraico e usada pela Igreja Católica. A Bíblia de Wyclif (1382) foi a primeira em inglês, traduzida da Vulgata… Mas a grande novidade nesse período de mais de 3 mil anos foi a Bíblia impressa de Gutenberg em 1450 na Alemanha.
Agora, 565 anos depois, sob o impacto da mais ampla e profunda revolução tecnológica da humanidade, cultuada e respeitada por mais de 2 bilhões de cristãos no mundo, como a palavra de Deus, a Bíblia gutenberguiana, como atestam os padres Alun Rowlands e Pedro Teixeira e os pastores Bobby Gruenewald e Hércio Fonseca, em suas respectivas comunidades em Mickleover, Maceió, Oklahoma e Brasília, está sendo, gradativa e celeremente, substituída pela Bíblia tabletiana eletrônica, mas mantendo sua originalidade, sua genuinidade, sua autenticidade e sua eternidade.
É a Bíblia afirmada e confirmada no avanço do progresso humano, como já constatou o cientista e astrônomo germânico-britânico William Herschel: “Todas as descobertas humanas parecem ter sido feitas com o propósito único de confirmar cada vez mais fortemente as verdades contidas nas Sagradas Escrituras”.
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Jota Alcides é jornalista e escritor