Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Blogs inovam a cobertura da crise

Em todas as discussões surgidas a propósito do escândalo do mensalão, parece cada vez mais concreta a suspeita de que está mudando a matriz informativa dos chamados formadores de opinião no Brasil.

É urgente quantificar este processo para poder avaliá-lo em detalhes e tirar as conclusões necessárias. Enquanto isto não acontece temos que nos conformar com hipóteses para tentar entender como e por que as pessoas estão emitindo opiniões sobre a crise.

O crescimento da influência de blogs como os de Ricardo Noblat, Jorge Bastos Moreno e Luiz Weis indica que um setor dos formadores de opinião passou a preferir a notícia personalizada e opinativa em vez da informação impessoal dos jornais, revistas, rádios e telenotícias. As pessoas seguem os depoimentos ao vivo via TV Senado ou GloboNews, com o outro olho nos blogs políticos. Até mesmo os deputados e senadores caíram na tentação cibernética e monitoram a web enquanto participam das reuniões das CPIs do Mensalão e dos Correios.

Se esta parece ser a tendência em matéria de desenvolvimento de percepções e do desenvolvimento daquilo que o americano Daniel Yankelovitch chama de ‘opinião equilibrada’, por outro, a agenda de novos temas está sendo ditada pelos jornais, revistas e pelo desfile ao vivo de acusados ou acusadores pela televisão.

Fator decisivo

A agenda coloca para a opinião pública as novas denúncias resultantes tanto da investigação jornalística e policial como da promovida por políticos do governo ou da oposição. As pessoas parece estar usando a agenda como referência para consultar os blogs e conselheiros de confiança, antes de formar uma opinião.

A grande mudança neste processo é a redução da importância relativa dos comentaristas e analistas de jornais e da televisão em favor dos blogs. Isto significa que nomes famosos no jornalismo político estão perdendo lugar para a internet. É uma perda considerável para os jornais, revistas e emissoras de TV, que no entanto podem compensá-la com reportagens investigativas.

Os blogs brasileiros ainda não adquiriram a experiência e o espírito de ajuda mútua dos seus equivalentes americanos para poderem promover suas próprias investigações. Um dia isto ainda vai acontecer, mas por enquanto a função opinativa personalizada vai predominar.

Inclusive é muito provável que comentaristas políticos de jornais, que ainda não aderiram à moda blog, o façam a curto prazo para não perder público. Os do Globo, por exemplo, já migraram para a internet.

O fato de os blogs estarem assumindo uma força crescente na interpretação personalizada de fatos marcantes na agenda pública nacional assinala também uma pulverização do núcleo de analistas políticos da imprensa brasileira. A credibilidade e visibilidade obtidos nos jornais, revistas e TV ainda é um fator decisivo no ranking dos blogs políticos mais consultados na web brasileira, mas o quadro já começou a mudar, na esteira do fenômeno Noblat. [Postado às 16h27 de 15/8/2005]

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Jornalista, editor do Código Aberto