O Business Insider informou, na quinta-feira (30/6), que “funcionários do Facebook” haviam dito que o governo chinês estaria interessado em comprar “um bom pedaço” da maior rede social do mundo. Outra fonte não nomeada pelo site explicou que, por intermédio do Citibank, dois fundos independentes estariam atrás de parte da rede de Mark Zuckerberg: um do Oriente Médio e outro do governo chinês. Valor total da operação: 1,2 bilhão de dólares. Não é muita coisa, minimizou o periódico online, quando comparado com o valor total do gigante da mídia social americana.
A firma de Zuckerberg não tem presença na China; e ele, que já aprendeu mandarim em 2009, vai encontra-se com dirigentes de empresas e líderes políticos locais do país ainda neste ano. Ele vai à China em setembro de 2011.
Apesar de a notícia ter sido motivo de preocupação entre o público norte-americano, no Oriente a mídia não viu grandes problemas com a possibilidade dos chineses comprarem uma pequena parte do Facebook. O Economic Times, da Índia, por exemplo, assinalou que “potenciais investidores devem olhar para o leste, se quiserem alguma vantagem antecipada”. E que há espaço na China para redes sociais crescerem, já que “os jovens chineses estão gastando menos 13% de seu tempo com elas”. Além disso, as redes sociais locais (vigiadas pelo governo) estariam (segundo o site de monitoramento Alexa), há meses com o tráfego online sem crescimento.
É evidente aqui a força dos interesses regionais por parte da Índia, ao tentar facilitar o cenário para os investidores do Ocidente. Até mesmo passando por cima da intensa rivalidade que existe entre as duas potências locais.
Na prisão
O periódico chinês (feito para estrangeiros de língua inglesa)EastDay.com assinalou,no sábado (2/7), o poder dos colossais números chineses e seu potencial de lucro. E o interesse de Zuckerberg pelos dois. O noticiário informou também da viagem de Zuckerberg ao país ano passado, e seu encontro com firmas locais interessadas na colaboração com sua empresa.
Mas a executiva chefe-operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, deixou claro em 11 de maio passado que não concorda com seu chefe. O Business Insider publicou o desagravo da executiva, que estaria preocupada com o excessivo número de concessões que a firma deveria fazer, se quisesse mesmo embarcar numa aventura na China. Peripécia que custou caro ao Google… O site de Sergey Brim e Larry Page perdeu muito dinheiro lá, e acabou por fechar seu escritório, desprestigiado, vigiado e tratado com desdém pelo governo chinês. Que jamais vai abrir o regime, em termos de liberdade de expressão, para duas empresas estrangeiras. Que não vai ceder, no que concerne a liberdade de expressão, a nada e a ninguém. Por outro lado, a presença chinesa dentro do Facebook parece ser uma boa idéia para a tecnocracia que governa o país mais populoso da terra.
Mas o jovem Zuckerberg acredita que o Facebook na China poderia “ser um agente de mudança”, conforme ingenuamente comentou ao Business Insider, na mesma reportagem. Ingenuidade ou falta de preparo em História contemporânea e geopolítica? Afinal, o dinheiro pode ser pouco, mas há muito em jogo aqui. Existe lugar para agentes de mudança na China? Onde estão seus agentes de transformação locais? Na cadeia. Mesmo que eles libertem um ou outro cada vez que negociam algo de importante com o Ocidente, o lugar dos dissidentes na China é o cárcere. Não há como contestar o fato. Mas Zuckerberg, com sua autossuficiência juvenil, parece ignorar os fatos e a História também.
Mercado gigante
Sheryl Sandberg não gostou da ideia do Facebook na China. Já é tempo de sabermos um pouco mais sobre ela, e o que faz, dentro da maior rede social do mundo: no dia 12 de maio, o Bloomberg Businessweek explicou que a Sra. Sandberg faz a “supervisão adulta” no Facebook. Trata das relações com clientes, das questões de segurança e satisfação destes. Das falsificações, dos fakes (falsos usuários) e da privacidade dos membros da rede. Do dia a dia da empresa, enfim.
Mal comparando, ela é, para o Facebook, o que Eric Schmidt foi para o Google: um adulto calejado, que entende as nuances da política internacional nas transações de negócios. Rostos adultos, enfim, necessários para dar maior uma face séria a negócios fundados por jovens com pouca experiência e bagagem em História contemporânea e na política internacional e que ainda engatinham no mundo dos negócios. E ela não quer o Facebook na China. Mas sabe que a vontade do chefe vai prevalecer, no final.
O Business Insider sugeriu também que, ao ceder uma pequena parte de seu capital aos chineses, Zuckerberg estaria tentando contornar o maior obstáculo às empresas americanas na China de hoje: a regulação estatal. Em outras palavras, o Facebook poderia usar as regras do governo chinês contra ele mesmo ao fazê-lo seu sócio, com um custo mínimo. Para uma companhia cujo valor (antes mesmo de sua primeira oferta pública de ações) chega aos 100 bilhões de dólares, ceder um pouco mais de 1 bilhão de dólares para desfrutar todas as vantagens do mercado gigantesco da China pode ser bastante lucrativo.
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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano e regional, consultor e tradutor]