Clic, clic. Pode entrar. A porta se abre e alguém entra. Corre os olhos pelo ambiente, querendo se encontrar, se situar. Uma festa de cores, imagens, palavras e sons. O anfitrião é simpático, atraente, parece estar sempre à disposição, pronto para interagir com o convidado. Pode falar sobre o assunto que quiser: carros, moda, turismo, lazer, cultura, astrologia, pessoas famosas, novelas, ciências, tecnologia. Fica a critério. Tudo bem se quiser apenas bater um papo. Muitos estão ali para isso. Pessoas de todo o mundo que por um momento escolhem entrar na festa. Vestem-se como querem, agem como querem, inventam e reinventam-se, pois simplesmente podem ser o que escolherem ser naquele momento. A festa começa quando o convidado chega e termina quando ele desliga o computador. Bem-vindo ao mundo virtual.
Bem-vindo a um mundo sem limites, sem fronteiras, onde um aglomerado de milhões de bits sorriem convidando a nós, receptores ativos, selecionados, segmentados e consumidores, a embarcar no infomar, na terra sem território, no espaço que não ocupa lugar no espaço, na rede de informações que viajam à velocidade da luz. Bem-vindo à ferramenta que aproxima pessoas distantes e distancia pessoas próximas. Pessoas: o ponto inicial do processo comunicativo. Impossível se falar em comunicação sem antes considerar quem está do outro lado da tela: o homem – agente transformador e dinamizador da história, resultado de um processo evolutivo da relação entre o tempo e o espaço. Tempo e espaço: justamente as fronteiras que o mundo virtual visa romper.
Basta um movimento
Na perspectiva do mundo moderno, regido pela velocidade do pensamento e da informação, o avanço tecnológico e a virtualidade geraram uma cultura voltada para o consumo de bens materiais e imateriais, bem como uma atitude humana voltada para o imediatismo. Parece inconcebível, nesta visão de mundo, esperarmos dias ou meses para que uma carta chegue ao seu destinatário, ou mesmo que o indivíduo se prenda a horários na tentativa de falar com alguém por telefone fixo. O uso do aparelho celular resolve o problema em termos, pois não elimina a barreira econômica das ligações a longa distância. É neste momento que o mundo digital abre suas portas e fazemos uso do e-mail e de programas de mensagens instantâneas, tudo numa tentativa desenfreada de romper com as barreiras espaço-temporais. A tecnologia aplicada em comunicação demanda, além de adaptação aos meios, uma abertura de mente, e sobretudo mudanças de paradigmas.
O mundo virtual apresenta-se, desta forma, altamente ambíguo. Ao mesmo tempo em que visa romper barreiras, cria outras de cunho social, na medida em que nem todos têm acesso ao aparato tecnológico necessário. Ao mesmo tempo em que conecta virtualmente pessoas de todo o mundo, acaba por afetar as relações pessoais cotidianas. Até pouco tempo atrás, conversar com um amigo significava estar a seu lado, olhar em seus olhos e desfrutar o prazer de sua companhia. Hoje, basta um toque no celular, um e-mail, um chat ou mensagens instantâneas. Certamente que, diante de todos estes meios, a linguagem sofre alterações, e a mensagem pode fugir de seu contexto original.
Assim, o infomar invade com suas ondas as ruas das cidades, a casa das pessoas, as relações comerciais, sociais e, principalmente, humanas. O desafio da humanidade é usar a máquina sem se tornar uma, embarcar no mundo virtual e extrair o máximo de seus benefícios sem esquecer das riquezas do mundo real: a natureza, a arte, o cenário construído pelas mãos dos homens ou divinas, o sorriso de um amigo, a boa e velha conversa ‘olho no olho’, o prazer de ser e estar com alguém, de embarcar numa boa leitura, de caminhar com as próprias pernas, enfim, entrar na onda sem deixar que a essência humana se perca na emaranhada teia da tecnologia. Porque quando se está desprovido de consciência crítica e valores essenciais, deixar-se consumir por essa teia é tão fácil e fascinante quanto embarcar nela. Basta um movimento. Clic, clic. Pode entrar.
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Estudante de Jornalismo