Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como fazer – e manter – um blog político

Cheguei à bela casa de Ricardo Noblat, no Lago Sul, zona nobre de Brasília, bem na hora em que ele almoçava. ‘Está servida?’, perguntou, simpático, enquanto batia um pratão de carne moída com alguma coisa que não consegui identificar. Eu já tinha almoçado, mas permaneci ali, na mesa, aproveitando para tentar conhecer melhor uma das pessoas que, no último ano, mais marcaram a minha vida.


Um aparte para explicar o motivo. Noblat é meu objeto de estudo desde que, em outubro do ano passado, bati o martelo que minha dissertação de mestrado, na PUC-Rio, discutiria as transformações do jornalismo a partir dos blogs jornalísticos. Na época, a crise do mensalão estava no auge e o Blog do Noblat, ainda hospedado no iG, competia pau a pau em qualidade de cobertura com os grandes jornais. Como quase todos os dias publicava furos, Noblat tornou-se leitura obrigatória nas redações. De certa forma, foi o trabalho dele que trouxe legitimidade para os blogs como veículo de cobertura política.


Por esses motivos, o Blog do Noblat, hoje vinculado ao Estadão.com, foi o primeiro que escolhi para fazer parte do chamado corpus do meu trabalho. Pouco depois, cheguei aos também excelentes blogs de Jorge Bastos Moreno (do Globo Online) e Josias de Souza (da Folha Online) – jornalistas que também tive a oportunidade de entrevistar.


Dos três, Noblat é de longe o mais entusiasmado com as potencialidades do blog como meio de comunicação. Enquanto para Josias de Souza é um sacrifício ler o que os leitores escrevem, para Noblat é um prazer. Diferente de Jorge Bastos Moreno, que vive às turras com os leitores que dizem o que ele não gosta de ouvir, Noblat não se estressa. Não que seus leitores o ataquem menos do que a seus colegas: quase todos os dias o jornalista é criticado, xingado, provocado. Mas releva. Para ele, é nessa confusão democrática que está a novidade do blog.


Noblat disse achar até graça de num dia ser chamado de petista, outro de tucano, em seguida de pefelista. Palavrão não pode, nem calúnia, mas o resto fica lá na área de comentários. ‘Cada um tem direito de achar o que quiser. Se você não for capaz de entender isso, então é melhor não fazer blog’, afirmou, durante nossa entrevista – que se estender por mais de uma hora depois que nos mudamos da mesa da copa para a varanda.


Outra delícia do blog, para o jornalista, é poder misturar, muitas vezes num mesmo texto, todos os gêneros jornalísticos. ‘Não há regras a serem seguidas. Graças a Deus, ainda não inventaram manual de redação para blog’, comemorou. Para ele, é uma bobagem reproduzir no blog a linguagem de jornal, como fazem alguns jornalistas que se aventuram na blogosfera. A seu ver, quanto mais o autor do blog ousar, quanto mais escrever da forma como gostaria de fazer nos meios tradicionais de comunicação, mas não pode, mais facilmente conquistará identidade e reconhecimento do leitor.


Na opinião de Noblat, – que antes de se tornar blogueiro já foi repórter, editor, colunista e chefe de redação de alguns dos principais jornais e revistas do país – o fato de alguns jornais usarem textos de blogs em suas edições impressas já é uma abertura para que o estilo mais autoral influencie o texto tradicional do jornal.


‘O Estadão usa um texto que eu faço [para o blog], mas seu repórter não vai poder escrever daquele jeito? Não vai fazer sentido. Pode durar o tempo que for essa resistência, mas é inevitável que o texto do jornal impresso se torne com a passagem do tempo uma coisa mais pessoal, mais autoral’, previu o jornalista, que sonha fazer um blog ‘como o do Moreno’, no qual possa escrever ‘só quando tem vontade’.


Mais uma entre as muitas provocações que os dois blogueiros vivem fazendo um ao outro. ‘Isso é puro marketing’, esclareceu Noblat, diante da minha curiosidade. ‘Quando o blog dele [Moreno] surgiu, o meu já existia. Aí logo nas primeiras edições ele me deu umas porradas e disse: olha, vamos fazer de conta que a gente está brigando e somos inimigos. Até hoje a gente faz isso no blog. Assim, levo leitor para ele e ele para mim. E o Josias fica para trás!’, contou, sorrindo, o jornalista. A seguir, a maior parte da nossa conversa.




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Os blogs surgem como uma nova possibilidade de disseminação de informações, na Internet, num formato muito diferente do apresentado pelo jornalismo tradicional. Você classifica seu trabalho no blog claramente como jornalismo ou como algo diferente?


Ricardo Noblat – Como jornalismo. As formas de apuração são as mesmas. Faço basicamente um blog de política. Falo dos bastidores da política a partir de Brasília. Também falo de política dos estados, se aquela política for relevante para o resto do país. De vez em quando eu mudo de assunto. Por exemplo, os Rolling Stones vieram aí num fim de semana, quando há uma oferta bem menor de assuntos sobre política… então decidi cobrir os Rolling Stones.


Também posso mudar de assunto por algum capricho. Como na época em que o papa João Paulo II já estava agonizando, nos últimos dias. Gosto muito desses assuntos de igreja porque eu tive um tio que era arcebispo e já li todos os livros sobre eleição de papa. Adoro eleição de papa. Aí me dediquei a cobrir a agonia de João Paulo II e a eleição de seu sucessor. Simplesmente não postei nenhuma notícia de política – minha audiência foi lá para baixo e eu não tava nem aí. Mas, enfim, é uma vez ou outra que eu saio da política e faço alguma coisa diferente. Mas o que eu faço é jornalismo, não é outra coisa. Tem vários gêneros de jornalismo. Pode ser uma crônica, um artigo, uma reportagem, pode ser notícia. O grosso é notícia.


Tem alguma diferença para o jornal em relação a apuração?


R.N. – A diferença é só uma, que não deveria existir como diferença: você tem que ser muito mais rigoroso na apuração quando faz o blog do que quando faz jornal, rádio ou televisão. O blog te ensina a ter um cuidado extra porque ali é você e o leitor, não há desculpa a oferecer pelos erros. No jornal, no rádio, na TV, um erro costuma ter muitos pais, a culpa é distribuída, diluída. No blog, não. Você não pode dizer que outra pessoa apurou, o diagramador pôs no lugar errado ou o editor titulou mal. É você e pronto. Seus erros são seus. Os erros no blog tomam uma dimensão muito maior primeiro porque os leitores podem entrar na hora e criticar, segundo porque fica registrado ali. É mortal em blog tirar o erro. Você tem que admitir que errou no post seguinte ou em algum outro post, e deixar o erro ali exposto.


Quais são as diferenças quanto à linguagem?


R.N. – Aí tem diferença. Graças a Deus ainda não tem manual de redação para blog. E espero que não exista nunca. No blog você pode exercitar com muito mais liberdade seu jeito, gosto, seu modo de escrever as coisas. Você em jornal, rádio ou televisão está muito amarrado por uma série de regras estabelecidas: fórmulas que você aprende na escola ou dentro das redações, por uma pretensa linguagem neutra ou objetiva. No blog você pode misturar todos os gêneros jornalísticos. Num mesmo post posso dizer que o Lula ganhou a eleição, porque que ele ganhou e em seguida dar minha opinião. Tudo isso numa mesma nota. Não é que eu tenha que fazer isso, mas ninguém me proíbe. Não tem regra.


Uns blogueiros preferem reproduzir no blog a linguagem de jornal. Acho que não é por aí. A meu ver, quanto mais você ousar, quanto mais escrever da forma como gostaria e não pode nos meios tradicionais de comunicação, mais ganha uma identidade, mais o leitor te reconhece ali.


Você pode se coloca ali de uma forma diferente.


R.N. – Os leitores de blog cobram muito sua opinião. Quando faço três ou quatro posts sem dar opinião, apenas relatando algum assunto, eles cobram: o que você pensa disso, desce do muro, dá sua opinião! Nos meios convencionais de comunicação é o contrário, seus patrões cobram que você não se coloque. A gente aprende que não pode entrar na notícia porque não é assim que se faz. No blog, não, é assim que se faz. Ou é assim que as pessoas querem que você faça. É um jornalismo de autor. O blog tem o seu nome, a sua cara e as pessoas querem te reconhecer ali – quer elas tenham afinidade com você ou não. Entram ali porque se afinam com o que você pensa ou, pelo contrário, porque não, mas querem participar da discussão e, na maioria das vezes, se opor a você.


Quais são os seus critérios de noticiabilidade no blog?


R.N. – São os mesmos do jornal, rádio e televisão. De uma forma cínica, eu diria que notícia é tudo aquilo que o jornalista acha que é notícia. Acho que no blog o espaço do que é notícia é muito mais amplo, por não existirem regras, do que nos meios convencionais. Se vou cobrir em tempo real uma reunião numa CPI qualquer… Os jornais não têm preocupação, mas aí é falha deles, de descrever o que acontece ali, ficam só em cima das declarações e do resultado da reunião – eventualmente do bate-boca entre os participantes. Se vou cobrir do blog, tenho a preocupação de descrever o que está acontecendo, até porque estou fazendo aquilo em tempo real, então tenho vários posts a colocar. Vou opinar sobre o que está acontecendo; tentarei enxergar detalhes que irão escapar da narrativa do jornal. Escaparão não porque os jornais proíbam seus repórteres de reparar esses detalhes, mas porque simplesmente eles não enxergam.


Claro que há também um limite de espaço – o repórter sabe que não tem esse espaço todo no jornal. No blog, há todo o espaço do mundo. Posso cobrir a eleição do Severino Cavalcanti como presidente da Câmara, como fiz, e ficar postando das duas horas da tarde de um dia até às onze da manhã do dia seguinte. Foram quase 200 notas.


A linha editorial do Estadão exerce algum tipo de influência sobre o seu trabalho?


R.N. – Não, de jeito nenhum. Pelo contrário. O que está acertado em contrato é que o conteúdo do blog é de exclusiva responsabilidade minha – para o bem ou para o mal. Se eu for processado, problema é meu, não do Estadão.


Como é feita a filtragem de comentários no seu blog?


R.N. – Até o finalzinho de 2004, quem entrava no blog postava o que quisesse – ficava ali. Aí o blog sofreu um ataque. Foi em outubro de 2004. Alguém começou a postar a mesma nota duzentas vezes por minuto, com um desses programas. Foi quando resolvi criar o cadastramento, como uma forma de tentar desestimular algumas pessoas que entravam ali só para postar baixaria. Depois a gente evoluiu para criar um mecanismo que me permite não só deletar o comentário problemático, mas também bloquear seu autor. Isso não impede o usuário de entrar novamente no blog, com outro e-mail, mas desestimula a baixaria, porque o cara vai ter que ficar criando e-mail, criando e-mail… Mais adiante evolui para ter dois moderadores – é como as coisas funcionam hoje. Os comentários entram e são lidos depois de publicados. Se houver algum comentário que fira as regras do blog, os moderadores simplesmente o eliminam ou, se for o caso, bloqueiam o usuário. Se for adotada essa medida mais radical, de bloqueio, somem todos os comentários que aquele usuário tiver feito no blog. Tudo que ele já postou a qualquer tempo. É a pena máxima.


Hoje já temos perto de 13 mil cadastrados. Todo dia gente se cadastra, todo dia gente é bloqueada. Tem um moderador de 9 às 14h. O outro pega às 16h e deveria ir até a meia-noite, mas como é um aficcionado pelo blog vai até 3, 3 e pouco da manhã.


Você já se arrependeu de postar algum texto? Fiquei particularmente impressionada com um do fim do ano passado, que está também num trabalho meu, em que você chama o ex-ministro Palocci de mentiroso.


R.N. – Arrependimento de ter escrito isso? Não. Certamente todos os posts, se eu pudesse reescrever, reescreveria porque acho que poderiam ficar melhores. Mas aí é mais por rigor meu com o que escrevo. Certamente já devo ter interpretado errado muita coisa e devo ter analisado errado muita coisa, dado opinião errada. Quando trabalhei no Jornal do Brasil, em1982, bati muito, muito, no governo Sarney. Hoje, revendo o que escrevi, penso que bateria um pouco menos porque, olhando para trás, sou capaz de compreender melhor as dificuldades enfrentadas àquela época. Já sobre o Collor, não me arrependo de nada do que escrevi. Só a perspectiva da história dá o distanciamento crítico. E também a velhice. Eu me lembro que uma vez o Nelson Rodrigues foi entrevistado por alunas – na verdade, estagiárias da PUC; ele gostava de chamar assim e elas eram de fato estagiários da PUC – e a última pergunta era mais lugar comum: que conselho o senhor dá para os jovens jornalistas? Ele respondeu: envelheçam. Só você adquirindo experiência e vivendo e vivendo e vivendo é que vai estar mais maduro para enxergar as coisas e tentar entendê-las.


Esse é um dos defeitos que acho que as redações têm hoje: estão excessivamente juvenis. As empresas querem pagar menos – e pagam menos do que pagavam. Querem redações cada vez mais enxutas, portanto sobrecarregadas, então apelam para jornalistas muito jovens. Não tenho nada contra jornalistas jovens, entrei numa redação para trabalhar com 17 anos. Mas é preciso gente experiente também. Você não pode cobrar de um jovem recém-formado um jornalismo de qualidade superior porque ele não tem tanta experiência. Não basta escrever bem, é preciso conhecimento acumulado. Isso só a idade dá.


Você está com quantos anos?


R.N. – Com 57. Isso está parecendo conversa de velho… Quando eu entrei em redação, aos 17, a maioria das pessoas que encontrei tinha cabelo branco, era gente experiente que já tinha vivido muita coisa. Essa mistura é muito boa.


Você já teve algum problema judicial no blog?


R.N. – Teve um direito de resposta que a Justiça do Mato Grosso mandou eu dar para a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Eu citava a senadora no meio de um comentário. Dizia que ela tinha sido citada como possível suspeita de ter se beneficiado da venda superfaturada de ambulâncias. A Justiça mandou eu dar o direito de resposta e eu dei. Por azar da senadora, foi no dia em que ela foi notificada oficialmente (pela Câmara). Aí eu deitei e rolei!


Mais recentemente, publiquei o áudio de uma conversa telefônica entre o ex-governador Joaquim Roriz, aqui de Brasília, e o advogado dele, Ary Varela, na qual os dois falam muito mal do (então) deputado José Roberto Arruda [que acaba de se eleger governador de Brasília]. Só que essa fita foi exibida pelo próprio advogado do Roriz na inauguração do seu comitê de candidato a deputado federal. Ele apresentou lá três vezes para 500 pessoas. Peguei a fita e botei no blog. Aí o Roriz entrou na Justiça pedindo que ninguém reproduzisse o conteúdo da fita – toda a imprensa foi proibida de publicar. Chegou a notificação para o Estadão e como o blog está hospedado ali, me pediram para tirar; se não podia haver um problema jurídico. Antes disso, ficou lá mais de uma semana – quem queria copiar, copiou, está em tudo quanto é parte por aí, porque eles não podem sair notificando todos os blogs. É absolutamente inócua para a internet uma decisão como essa.


No artigo que escreveu ano passado para o Observatório da Imprensa [‘O que um blog pode ensinar‘], você falou da importância do surgimento de um novo tipo de relação com os leitores, no blog. A seu ver, como essa forma de jornalismo pode influenciar os jornais daqui para frente?


R.N. – Acho que já está influenciado. Primeiro porque os jornais começaram a se abrir para os blogs – pelo menos para tê-los dentro dos seus portais. Mesmo o The New York Times, que resistiu muito, hoje tem vários blogs no seu portal. Os jornais brasileiros também caminham nessa direção. Em outubro do ano passado meu blog era o único do portal do Estadão; hoje já tem seis, oito, não sei mais. Isso mostra que os jornais perceberam a demanda do leitor por participação. Alguns jornais hoje já apresentam, na internet, espaço que seu conteúdo da versão impressa seja comentado. O The Guardian faz isso, assim como outros jornais lá fora. Aqui ainda não vi. Não há resposta, não há interação com o leitor ali, isso ainda está restrito aos blogs.


O fato de alguns jornais usarem textos de blogs em suas edições impressas já é uma abertura para que o estilo mais autoral do blog contamine o texto tradicional do jornal. De repente o Estadão usa um texto que eu faço, mas seu repórter não vai poder escrever daquele jeito? Não vai fazer sentido… Pode durar o tempo que for essa resistência, mas é inevitável que o texto do jornal impresso se torne com a passagem do tempo – não sei dizer quanto tempo – uma coisa mais pessoal, mais autoral. Há meios e modos de fazer com que o leitor interfira cada vez mais na produção do jornal. O que eu acho que não há ainda é a disposição dos jornalistas e dos donos de jornal para que isso aconteça para valer.


Explique melhor.


R.N. – A resistência em abrir esse espaço para o leitor não é apenas dos proprietários, é dos jornalistas, que não querem abrir mão do monopólio da informação. Só que isso eles já perderam, quando se inventou a internet. Eles não são mais os únicos produtores de conteúdo, serão cada vez menos. Daí o fenômeno dos blogs; há mais de 50 milhões de blogs, hoje. Cada vez mais as pessoas querem opinar sobre as coisas, interferir, discutir, debater, oferecer notícias. Se uma pessoa pode fazer o blog que quiser e oferecer notícias, por que é que ainda estamos discutindo diploma? Qualquer um pode fazer jornalismo. O que vai fazer a diferença sempre é a qualidade do que é oferecido e a credibilidade do autor daquela informação. Mas tanto qualidade quanto credibilidade podem ser adquiridas por qualquer pessoa. O jornalista tem a vantagem de ter sido treinado para isso, mas nada impede que um profissional de qualquer outra área, ou até não profissional, também seja capaz de fazer.


Como é que é ter equipe num veículo tão pessoal como o blog?


R.N. – Blog não dá para terceirizar. É um instrumento muito pessoal de emitir informação. Você pode ter pessoas que te ajudam na apuração, mas na hora de escrever é o seu jeito, é o seu estilo, o seu modo de ver a coisa. Tenho dois repórteres que me ajudam. Um fica muito pelo Congresso e o outro fica mais solto, onde tiver notícia. Essas informações são passadas normalmente por telefone. Quando os repórteres pegam o jeito do blog, eventualmente escrevem. Mas leio tudo antes e é inevitável que eu meta a mão. Não que os textos sejam ruins, é para imprimir a minha marca que faço isso. Ninguém escreve exatamente igual ao outro – os jornais têm a pretensão que todos escrevam do mesmo jeito, mas isso é uma idiotice. Se eu tivesse um blog com seis notícias por dia, oito, não precisaria ter repórteres. Mas como faço um blog sempre oferecendo uma quantidade grande de notícias, quanto mais eu tiver informação, melhor. O meu sonho é fazer um blog como o do [Jorge Bastos] Moreno, onde eu não precise postar todo dia. Posta quando quer, do jeito que quer, quando dá vontade. Mas não tenho quem me pague para fazer blog assim… Moreno tem porque é um empregado de O Globo que nas horas vagas faz o blog. Eu não, só faço o blog. Se eu começar a oferecer bem menos notícias, a trabalhar bem menos, como gostaria, certamente o Estadão vai se queixar.


Agora que o blog tem mediadores para ler os comentários, como você faz para manter o contato com os leitores?


R.N. – Passo o dia todo lendo comentários, respondendo e-mails. Nunca chegam menos do que 100 e-mails. E aí tem de tudo. Sugestão de nota, dica de notícia, consulta sobre assuntos diversos. Até mãe me perguntando se a filha tem jeito para o jornalismo. Respondo a todos, geralmente de madrugada. Leio os comentários que são postados nas notas, a grande maioria deles; quando tenho mais tempo leio todos. Às vezes, destaco um comentário mais inteligente, mais provocador, que eu saiba que pode gerar uma discussão legal no blog; outras vezes respondo comentários no próprio blog – para isso criei uma seção chamada ‘Calçada da Fama’. Quando faço isso os leitores gostam muito.


Agora tem uma coisa: com esse sucesso dos blogs, todo mundo agora chama tudo de blog. E não é. Blog é um espaço com algumas características específicas: tem que ter o espaço para as pessoas comentarem e você dialogar com elas. Se não vira uma coluna eletrônica de notas e só. Se você bota nota, as pessoas comentam e acabou, não há diálogo. Se não tem esse diálogo, não é blog. O Kibe Loco diz que é blog e não é. Tem espaço para comentários? Não. Então sinto muito, é site. O cara fica revoltado quando digo isso porque quer pegar carona nessa história de blog.


Não te assustam os excessos que alguns leitores cometem?


R.N. – Confesso que no começo me assustavam, depois eu fui me acostumando. Estranhava muito a contundência dos comentários. Como os leitores se valem de pseudônimos, ficam muito à vontade de dizer com muita franqueza, e quase sempre com muita rudeza, o que acham ou deixam de achar. Os moderadores são orientados por mim a deixar todas as críticas meu respeito, por mais duras que sejam. A não ser aquelas que resvalam para a baixaria, tipo dizer que sou ladrão. Ladrão não dá! Agora se escrevem: você é um vendido ao PT ou ao PSDB, fica lá. Até porque, se deixo lá esse tipo de crítica a mim mesmo, isso permite que eu deixe também as críticas aos outros.


Tem muitos coleguinhas que se queixam para mim: um cara me esculhambou no seu blog… Eu digo: me esculhambam todo dia, por que não podem esculhambar você de vez em quando? No blog do Moreno não se pode falar mal dos coleguinhas, que ele não deixa. No meu, não. Já fui chamado de petista, depois virei tucano, para alguns já fui pefelista; agora já estão me chamando de petista de novo. Então pronto, acabou, deixa para lá. Cada um tem direito de achar o que quiser. Se você não for capaz de entender isso, então é melhor não fazer blog.


Por que o Moreno fala tanto de você?


R.N. – Por puro marketing. Quando o blog dele surgiu, o meu já existia. Aí logo nas primeiras edições ele me deu umas porradas e disse: olha, vamos fazer de conta que a gente está brigando e somos inimigos. Até hoje a gente faz isso no blog. Ele faz mais que eu. Assim, levo leitor para ele e ele para mim. E o Josias [de Souza] fica para trás! (risos)

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Jornalista