Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Compartilhar é superlegal

As pessoas adoram as coisas grátis da internet. Compartilhar é a palavra do momento. Muitos bons sites oferecem facilidades para que se possa num só clique compartilhar música, jogos, informação, software e vídeos. Compartilhar pode ser ilegal ou superlegal! Quem compartilha, sabe. Pode-se compartilhar por e-mail, Orkut, Facebook e Twitter, por exemplo. Compartilha-se com amigos, com amigos dos amigos e até com desconhecidos.

Quando comecei a escrever esta coluna, informei contatos em duas redes sociais que estava escrevendo para o jornal, mas me abstive de distribuir o texto por conta própria. Afinal, sou paga para ceder à Folha o direito de publicação da coluna. Nas redes sociais, publiquei apenas um link para o site da Folha, que manteve meu texto em área de acesso exclusivo aos assinantes do jornal e do UOL.

Uma conhecida, porém, para facilitar a vida dos amigos e quem sabe também para zoar da situação, fez questão de entrar no mural do meu Facebook e republicar ali a íntegra da coluna. Achei curioso. Minha rede de amigos no Facebook é tão incomparavelmente menor que a circulação da Folha que não valeria a pena debater se era correto ou não manter cópia do texto ali. No fundo, acredito que compartilhar em rede social é mais ou menos como mostrar jornal e revista para amigos.

Minha coluna seguinte, de 1º deste mês, teve um destino parecido, mas com outra escala. Foi compartilhada na hora do almoço daquele mesmo dia no blog do colunista da revista Veja Augusto Nunes, que é parte integrante do site da revista. O colunista ainda tascou um sobretítulo curioso: ‘Feira Livre’!

Para os big players, o jogo está começando

Isso me lembrou que, em inglês, a expressão free of charge (grátis) tem sido usada de forma abreviada: free (livre). O que colabora em muito para a confusão. É claro que a imprensa tem de ser livre e que a democracia depende disso. Mas daí a forçar a atividade profissional do jornalismo a depender de caridade ou jogar toda a responsabilidade e expectativa nas costas dos cidadãos comuns vai um longo caminho.

Voltando ao texto da Folha que foi parar no site da Veja, a autora, no caso eu, pode ter ficado satisfeita pelo fato de o colunista ter achado o texto relevante o bastante para ser publicado em seu blog. O que ele e a revista lhe dão é mais projeção. Mas a Folha tem o direito legal de fazer objeção ao ter seu conteúdo copiado, caso tenha sido sem autorização. Será que o site da Veja vai continuar a publicar textos da Folha? A Folha autorizaria? E o contrário? Faria sentido? Estar ou não num blog faz alguma diferença?

O público ama acessar e compartilhar livremente conteúdo pela internet e essa prática pode ter um valor social enorme. Só que isso põe em xeque o modelo tradicional de negócios de gravadoras, de editoras e de jornais, pelo potencial de subtrair receitas.

Mudem-se os modelos de negócio, então. Óbvio! Mas quais os modelos de negócios que sustentarão a produção do bom jornalismo, para ficar nesse exemplo? A conta será paga apenas pelo anunciante? Ou será paga também pelo leitor? Ou será paga por outros? Ou será paga por outros motivos? Essa última pergunta é a que mais me fascina, porque excita a imaginação. E em que prazo os novos modelos vingarão? Poucas empresas encontraram respostas e operam no lucro, sem depender de infinitas ingestões de capital. O mercado em geral ainda não.

É curioso que o magnata da mídia Rupert Murdoch a esta altura não saiba exatamente como conduzir seu conglomerado, que vai do impresso The Wall Street Journal à rede social MySpace. Seus últimos movimentos foram afagar a Apple pelo iPad e pela loja de aplicativos, vendo ali a chance de manter o leitor sustentando o produto. Murdoch também atacou e ameaçou impedir o Google de indexar e exibir textos de seus jornais se o Google não abrisse da forma desejada a carteira. Na prática, no último teste que fiz, continuei achando os textos lá. Para os big players da mídia, o jogo parece estar apenas começando.

******

Jornalista, diretora de conteúdo do UOL