Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Consumidores questionam grau de necessidade

Se o tão promovido iPad quiser se tornar sucesso entre os consumidores convencionais, a Apple terá de fazer com que pessoas como Jon Byron mudem de ideia.

Byron, 54, executivo bancário em Connecticut, saiu da loja da Apple na Quinta Avenida na semana que passou em Manhattan com sérias dúvidas em relação à funcionalidade do aparelho.

‘Posso fazer tudo aquilo nos meus MacBook Pro, celular e BlackBerry’, disse Byron. ‘Não preciso de mais um aparelho. Já tenho seis números de telefone e quantidade suficiente de coisas para recarregar à noite.’

Muitos consumidores não compreendem o propósito do aparelho ou por qual razão as pessoas precisariam de ainda mais uma engenhoca, além do computador e do celular inteligente (smartphone). Afinal, os celulares vêm executando gama cada vez mais ampla de funções.

‘Os primeiros 5 milhões serão vendidos muito rapidamente’, disse Guy Kawasaki, empresário do Vale do Silício que foi executivo de marketing na Apple nos anos 80. ‘Mas vejamos: não se pode telefonar com o aparelho, ou tirar fotos, e passa a ser necessário pagar por acesso a conteúdo pelo qual as pessoas antes não pagavam. Parece uma parada difícil.’

Sensação sutil

A Apple e outras empresas de tecnologia que estão introduzindo no mercado uma série de computadorestablets, controlados por telas de toque, enfrentam um desafio difícil. Ostablets têm por objetivo permitir que as pessoas assistam a vídeos, naveguem pela web, joguem videogames e leiam jornais, livros e revistas em toda parte, sem que precisem da inconveniência de carregar um volumoso notebook.

As pessoas que já encomendaram um iPad ou foram às lojas da Apple ontem ‘são tecnófilos, e a expressão `tecnologia de ponta´ lhes causa arrepios de excitação’, diz Eitan Muller, professor de marketing de tecnologia na escola Stern de administração de empresas, parte da Universidade de Nova York.

Mas essas pessoas respondem por apenas 16% do mercado potencial do iPad, diz Muller. ‘O mercado amplo é formado por consumidores pragmáticos, e aquela mesma expressão causa engulho a eles’.

Os grupos de pesquisa de tecnologia estão tentando avaliar o ceticismo existente no mercado, antes do lançamento do iPad. Uma delas, a NPD, constatou em estudo que 18% dos consumidores expressaram interesse em ter um iPad.

Entrevistas com diversas pessoas, ao longo da semana passada, enfatizaram essa incerteza. Havia uma sutil sensação de frustração entre os consumidores convidados a adquirir mais um aparelho dispendioso em uma vida já repleta de telas com manchas de dedos e cabos de força retorcidos.

Novos aplicativos

‘Eu só queria saber para que o aparelho deve ser usado’, disse Ebony White, 21, assistente social infantil em San Francisco que conversou sobre o iPad com amigos, todos os quais decidiram que não pretendem comprar o aparelho. ‘Se eu fosse gastar tanto dinheiro comprando alguma coisa, seria um computador e pronto, porque o preço é o mesmo, mas o laptop faz muito mais coisas.’

John Morgan, 48, por exemplo, já é cliente devoto de Steve Jobs, presidente da Apple. ‘Sou de uma família com seis iPods’, disse. Mas prometeu que sua família compraria ‘zero iPad’: ‘É caro demais’. Seu filho, Alex, explicou que eles já têm um iPod Touch ‘e, portanto, não precisamos do iPad’.

Talvez seja cedo demais para avaliar o interesse dos consumidores pelo iPad. Os programadores ainda não tiveram chance de criar aplicativos para o aparelho, e a Apple ainda não se dedicou muito a uma de suas especialidades: a publicidade.

Gene Munster, analista da Piper Jaffray, estima que a Apple investirá US$ 515 milhões em publicidade neste ano e que 15% do total será destinado à promoção do iPad.

E, em certo sentido, o tempo também favorece a Apple. O preço do iPad inevitavelmente cairá, e os programadores independentes criarão aplicativos e inventarão outros usos, como fizeram com o iPhone.

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DoNew York Times