Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Contra assédio cibernético

Milhões de pessoas no mundo usam o Facebook para contatar amigos, publicar fotos de encontros e compartilhar links de artigos e vídeos. Porém, para uma jovem filipina, esta popular rede social da internet se converteu em fonte de vergonha pública. A razão é que o ex-noivo de Maria, de 24 anos, colocou em uma conta, que criou roubando sua identidade, fotografias e vídeos onde ela aparece nua. Como se isso não fosse humilhação suficiente, o rejeitado noivo também enviou por email uma cópia do vídeo aos pais muçulmanos da moça, que não quis revelar seu verdadeiro nome.

Outro caso é a terrível experiência de uma estudante de enfermagem de 17 anos, que foi violentada por pelo menos quatro colegas de curso e o registro fotográfico desse ato, feito com telefone celular, também foi colocado na internet. Enquanto modernas inovações tornam mais fácil a vida de milhões de mulheres em todo o mundo, estas também permitiram um aumento dos casos de violência contra mulheres, segundo um fórum organizado por grupos de defesa dos direitos femininos, o ‘eVAW’.

‘A violência contra as mulheres está se modificando devido à tecnologia’, disse Cheekay Cinco, da Association for Progressive Communications (APC). ‘A internet expôs as vidas privadas a novas possibilidades de violência’, explicou. Cheekay contou que qualquer pessoa que mantém um blog ou tem uma conta no Facebook ou no Twitter está em risco de ser uma vítima. ‘Se há alguém mal intencionado que quer se aproveitar, há muita informação online ao seu dispor. As pessoas têm acesso aos seus amigos, aos seus endereços eletrônicos e ao seu número de celular fazendo-se de seu amigo no Facebook’, acrescentou Cheekay.

‘A consciência das pessoas está aumentando’

Os dois casos mencionados se seguiram ao altamente divulgado escândalo sexual entre a atriz filipina Katrina Halili e o cirurgião plástico Hayden Kho. A atriz denunciou que imagens de vídeo de seus atos íntimos foram feitas e colocadas sem seu consentimento na internet. O vídeo, divulgado em 2008, era vendido abertamente em formato DVD nas ruas e foi um dos mais baixados na internet. Em dezembro, após meses de audiências e investigações, um tribunal local encerrou o caso alegando que a promotoria não conseguiu provar que foi realmente Hayden que colocou o vídeo online.

Casos de assédio eletrônico, pornografia online, gravações não autorizadas e reprodução e distribuição de imagens e vídeos proliferam cada vez mais nas Filipinas devido, em parte, à popularidade das câmeras fotográficas e dos sites de redes sociais. ‘O alarmante é que vivemos mais casos de mulheres sendo chantageadas com fotos íntimas’, destacou Hayden. ‘Elas tiram essas fotos confiando que a outra pessoa as usará privadamente, mas estão sendo usadas para manter moças em relações nas quais não querem mais estar’, acrescentou.

As Filipinas têm atualmente a sexta maior população de usuários do Facebook no mundo, com mais de 19 milhões de contas, segundo números de dezembro. Também se diz que o país tem a maior participação de mídia social na região Ásia-Pacífico, de acordo com a empresa de pesquisa em marketing na internet ComScore.com. A penetração da telefonia móvel também é alta, com cerca de 80% dos 92 milhões de filipinos donos de telefones celulares, segundo a National Telecommunications Comission.

‘Desde que nosso escritório foi criado, em 2003, para tratar casos de crimes cibernéticos, realmente estão em uma tendência de aumento’, concordou o inspetor-chefe Efren Fernandez, da Cybercrime Unit of the Philippine National Police´s Criminal Investigation and Detection Group. Embora um alto número de casos permaneça sem ser informado, Efren afirmou que mais pessoas estão fazendo denúncias. ‘A consciência das pessoas está aumentando. Já sabem que são vítimas de crimes cibernéticos’, disse à IPS.

Tecnologia contra a violência

Segundo um informe da firma de segurança Symantec, 87% dos usuários filipinos de internet estão sendo vítimas de atividades criminosas online e ataques mal intencionados a cada ano, incluindo assédio sexual online. Contudo, associações não governamentais, como a Foundation for Media Alternatives (FMA), um dos organizadores do fórum, acreditam que a tecnologia pode ser um arma de duplo corte. A FMA encabeça uma campanha global para que as mulheres assumam o controle da tecnologia.

Por meio de seu programa de Intercâmbio Feminista de Tecnologia (FTX), é dada a possibilidade de as mulheres entenderem melhor a nova tecnologia e seus potenciais impactos em seus direitos e vidas. ‘Quem tiver maior controle sobre a tecnologia, o que significa que a entendem, sabem como funciona e como mudá-la com um profundo nível técnico, tem maior poder sobre os que acabam de aprender a usá-la’, disse Cheekay, treinadora do FTX.

A primeira sessão do FTX focou no ensino de mulheres que trabalham em temas de direitos femininos e da infância sobre como tornar mais seguras as comunicações em sites onde os criminosos costumam rastrear os movimentos e colher informação das mulheres. Outra sessão deu às mulheres a chance de criar histórias digitais para aumentar a consciência sobre a violência contra a mulher. ‘A tecnologia pode vitimizar, mas também pode ser a solução para a vitimização. Se souber como usá-la, diminui a chance de se converter em vítima’, disse Cheekay.

A FTX é parte da campanha Take Back the Teach, que é executada em 12 países do mundo pela Association of Progressive Communications Women´s Networking Support Program (APC WNSP), que exorta mulheres e meninas a assumirem o controle da tecnologia para acabarem com a violência contra as mulheres. (Envolverde/IPS)

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Do IPS (Interpress Service)