Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Cresce o número de fraudadores descobertos

O polêmico Jayson Blair, ex-repórter do New York Times demitido após uma série de fraudes que acabou por lhe render um livro de memórias recém-lançado, foi apenas o primeiro de uma série. Recentemente, Jack Kelley, do USA Today, foi descoberto. O repórter, segundo uma equipe de jornalistas que investigou mais de 700 reportagens de sua autoria, ‘fabricou trechos essenciais de pelo menos oito reportagens importantes’ e ‘plagiou pelo menos duas dúzias de citações e outros materiais de publicações concorrentes’. Mas antes dele, muitos outros foram desvelados.

Nas duas últimas semanas, o sítio Romenesko, uma espécie de compêndio on-line sobre a mídia, publicou uma série de links a artigos sobre punições ou demissões de repórteres. Entre os veículos atingidos estavam The Vancouver Sun (uma coluna sobre sexo e namoro era quase idêntica a um artigo publicado no Times), The Iowa State Daily (uma resenha de filme era muito parecida com a veiculada pelo The Star Tribune), The News Tribune (um repórter não soube confirmar a existência de cinco fontes em um artigo) e The Macon Telegraph (um repórter usou trechos do San Diego Union-Tribune sem citá-lo).

Pelo menos 10 jornais confirmaram casos de plágio ou fabricação desde maio de 2003, quando o Times divulgou o escândalo que abalou as estruturas do jornalão e causou a demissão do editor-executivo Howell Raines e de seu braço direito, o editor-administrativo Geral Boyd. Segundo Jacques Steinberg [The New York Times, 22/3/04], é difícil determinar se os desvios de conduta jornalísticos estão pipocando porque os bancos de dados eletrônicos estão à distância de um clique ou porque a vigilância aumentou.

A julgar por pesquisas e entrevistas com editores de todos os EUA nos últimos 10 meses, muitos jornais instituíram mecanismos de segurança contra fraude jornalística. De acordo com a Sociedade Americana de Editores de Jornais, os editores estão se prevenindo mais contra esses males desde o caso Jayson Blair. Dos 350 editores entrevistados pela organização, 51% disseram ter informado os leitores sobre as novas políticas de apuração e ética; 21% afirmaram que essas políticas são novas; e 7% revelaram ter enviado questionários para obter feedback dos leitores.

A profusão de casos desse gênero coincide com uma era em que a internet facilitou a apropriação indevida de um repórter por textos de colegas, assim como ficou mais fácil a um editor, colega ou concorrente detectar os plágios ou falsificações. Também coincidiu com uma época em que a credibilidade do público no jornalismo está em baixa – uma pesquisa do Pew Research Center de 2003 revelou que 56% dos entrevistados achavam que os meios de comunicação ‘freqüentemente reportam de maneira imprecisa’.

Consciente da seriedade das fraudes de Blair, o Times modificou recentemente suas regras para uso de fontes anônimas, tornando-as mais rígidas. Outros 16 veículos fizeram o mesmo, entre os quais o Washington Post. Apesar disso, alguns editores continuam céticos e acham que essas medidas não farão muita diferença.

Pesquisa profunda

Enquanto isso, o USA Today continua sua saga atrás dos erros de Jack Kelley. Depois de descobrir inúmeras fraudes em seus trabalhos entre 1993 e 2003, agora a equipe de jornalistas está vasculhando textos do ex-repórter que datam desde 1982, quando o jornal foi lançado.

Apesar dos erros, os editores não devem levar a culpa, de acordo com o ex-editor de editoriais John Seigenthaler, um dos três jornalistas veteranos de fora do jornal que participam da equipe de investigação. Porém, disse Seigenthaler, há evidências de que funcionários do jornal reclamaram de Kelley mas não foram ouvidos por superiores. Com informações de Paul Colford [New York Daily News, 23/3].