Leitores deste jornal manifestaram, através de debate travado no blog Quinta Emenda, que eu substituísse o site do Jornal Pessoal por um blog. Disse que gostaria realmente de ter um veículo diário de informação, necessário e até vital diante da abulia e dos compromissos da grande imprensa, mas o projeto é inviável. O site, que criei no ano passado, serve de abrigo para as matérias do JP, permitindo que elas sejam lidas por um público imensamente maior (ao menos em potencial) do que o alcançado pela versão impressa em papel, circunscrita a Belém e arredores.
Já o blog teria que apresentar matérias novas, do dia, se possível, exclusivas; se não, pelo menos, atualizadas e completas. Isto requer dedicação integral. Para fazer um blog assim, profissional, eu viveria de quê? Do blog? Mas com que roupa? Com muitos anúncios baratos ou poucos anúncios caros. De onde eles viriam? Admitindo-se que eles existam (no que descreio), significaria renunciar a uma opção editorial de 22 anos, da qual não pretendo mais me afastar, já entrado nos 60 anos de idade, mais de 43 de profissão. Sem falar que um blog, como o que os leitores querem e do qual realmente precisam, significaria o fim do Jornal Pessoal impresso. Tal blog representa investimento razoável.
Na justificada reação à grande imprensa, por seus erros do passado, renovados no presente, os leitores que circulam pela internet subestimam um aspecto importante da razão de ser dos grandes jornais: produzir informações custa caro, cada vez mais caro – e com dificuldades crescentes. Não press-releases ou comentários vagos e abstratos, mas aquelas informações que registram a dinâmica do cotidiano.
Leitor vigilante
Dou só um exemplozinho pessoal: para fazer uma reportagem sobre a enchente de 1976, a segunda maior do século passado na Amazônia, fui de avião de Belém a Altamira, segui de carro para o porto de Vitória, onde fretei um barco, que me permitiu descer o Xingu e atravessar o Amazonas para a margem esquerda, parando em Almeirim, Prainha, Monte Alegre e Santarém. Fui de avião para Manaus e de lá peregrinei de barco por Manacapuru, Parintins e arredores da capital amazonense. Voltei de avião para Belém, depois de duas semanas de trabalho, com tudo (incluindo hotéis, hospedagem e outras despesas) pago por O Estado de S. Paulo.
O resultado desse investimento (bem acima de 10 mil reais de hoje) foi uma grande (ao menos no tamanho) reportagem sobre a cheia de 1976, com informações de cada um dos locais importantes para a avaliação do tamanho da cheia, dos seus efeitos e desdobramentos. Qual blog pode assumir esse investimento?
Por tudo isso, espero que meus leitores aceitem a situação atual, sem nunca deixar de apontar-lhe as falhas e cobrar mais.
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém (PA)