Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica diária

13/11/07

Pelo telefone

A Folha não deu manchete, ao contrário do ´Estado´, mas titulou na primeira página: ´PF prende 20 por suspeita de fraudes em licitações em AL´.

A reportagem é assinada por três repórteres –nenhum deles, conforme o crédito, estava em Alagoas.

A cobertura do ´Estado` é de autoria também de três jornalistas, um deles correspondente em Maceió.

A do ´Globo´, de um colaborador em Alagoas.

Outra reportagem importante, ´Professoras dizem que foram punidas por manter namoro` (pág. C6), trata de eventos ocorridos em Campo Grande.

Foi produzida de longe. É bom trabalho jornalístico, mas poderia ser melhor se a repórter estivesse em Mato Grosso do Sul.

Manchete genérica

A manchete da Folha traz uma informação correta: ´Governo manobra para tentar prorrogar CPMF´.

O problema é que ela valia para ontem e valerá para amanhã.

Desde sempre o governo manobra para tentar prorrogar a CPMF. E vai continuar manobrando.

Por isso, é importante identificar fatos mais precisos no título mais importante da edição. Para diferenciar a manchete de hoje das que já saíram e das que vão sair.

Painel do Leitor!

Pelo segundo dia consecutivo, na íntegra, o Painel do Leitor honra seu nome.

CGU

A reportagem ´PF prende 20 suspeitos de fraudar licitações` (pág. A11) fala em ´uma auditoria da CGU nos municípios´.

O que é CGU? O leitor não é obrigado a saber.

Mistérios romanos

Na reportagem ´Não faltarão recursos para a exploração, diz Petrobras` (pág. B5), descobre-se que o presidente da estatal está na Itália.

O texto não contém uma informação elementar: o que faz Gabrielli em Roma?

O repórter da Folha viajou ´a convite da Terna´. O que é Terna? A Terna tem alguma coisa a ver com a Petrobras e seu ramo de negócios? O leitor não é obrigado a saber. Sem esse esclarecimento, os leitores são impedidos de avaliar as relações entre quem pagou o almoço e os interesses em jogo na cobertura.

Furo

Declarações do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima, valeram ao Globo a manchete ´Governo vai propor uma nova lei geral de petróleo´.

Senhor da razão

Título de ontem na Folha (pág. B5): ´BM&F estréia em momento de euforia´.

Manchete de hoje na capa de Dinheiro: ´Bolsa cai 4,3%, no 2º pior pregão do ano´.

Alta

Em 2007, a relação candidato-vaga na Fuvest para medicina e ciências médicas foi de 32,43.

Em 2008, de 33,99.

Logo, houve alta, o que contradiz o sentido da flecha no quadro ´As mais concorridas na Fuvest` (pág. C3).

Campeonato Brasileiro!

Ao contrário do que ocorreu na terça-feira passada, hoje os leitores da Folha receberam a tabela com a classificação do Campeonato Brasileiro de futebol.

Uma boa notícia.

Flagrante

O que o jornal tem hoje de mais interessante é o confronto entre Adib Jatene e Paulo Skaf, em discussão sobre a CPMF (´Jatene para Skaf: ´Têm que pagar!´´, pág. E2).

Resposta ao ombudsman

Por intermédio da Secretaria de Redação, recebi do editor de Cotidiano, Rogério Gentile, a seguinte resposta, pela qual agradeço, à nota ´Apuração própria?` da crítica de ontem:

´A reportagem citada da Época foi feita com base numa estimativa do tal escritório de advocacia. A reportagem da Folha ´Em SP, 13% dos professores estaduais faltam a cada dia` foi feita a partir de levantamento oficial e inédito´.

12/11/07

Comentário a respeito de um recorde

A Folha circulou sábado com 200 páginas na edição São Paulo/DF, recorde histórico para esse dia da semana. O ´Estado` teve 190.

O vigor publicitário do meio jornal no Brasil contrasta com a redução do faturamento com anúncios pelos diários nos Estados Unidos.

É diferença a comemorar.

Leitores reclamam de que o aumento de páginas com publicidade, em especial de lançamentos imobiliários, não foi acompanhado de incremento jornalístico.

Concordo: não identifiquei na edição de sábado empenho para que o recorde de páginas combinasse com, digamos, ´recordes` de excelência jornalística.

Para o leitor, é importante que a elevação da receita tenha conseqüências qualitativas no produto que ele recebe.

Três sugestões minhas para que isso ocorra:

1) A restauração do posto de correspondente em Belém do Pará, em região na qual a presença da Agência Folha é reduzidíssima.

2) A restauração do posto de correspondente em Pequim, acompanhando as mudanças na China, a pujança econômica do país e os preparativos para a Olimpíada.

3) O envio de repórter à Itália para contar as descobertas das autoridades locais sobre a guerra de espionagem entre as teles no Brasil e o suposto pagamento de propinas.

Para que serve o jornal?

Contar histórias é um dos seus propósitos.

Em sete meses como ombudsman, não me lembro de ter visto uma história tão menosprezada pela Folha como a do menino-aranha na edição de sábado.

A maior fotografia da primeira página foi para Riquelme, 5, o pequeno herói com nome de craque argentino (nem esse aspecto futebolístico o jornal abordou). Riquelme salvou uma menina de 1 ano que estava no berço quando a casa dela pegou fogo _é o que o jornal banca. O destaque da primeira página criou uma expectativa que se frustrou.

A reportagem ´´Homem-Aranha` de 5 anos entra em casa que pegava fogo e salva bebê` (pág. C4) não é só pequena em tamanho e apurada por telefone. É burocrática e insensível. Trata um feito emocionante no tom de relato sobre buraco de rua.

No fim de semana da morte de Norman Mailer, o jornal não soube reconhecer o encanto óbvio de um gesto inesquecível.

Se uma história assim não comove o jornal, o que vai comover?

Notícia escondida

Na sexta-feira, a Folha revelou o depoimento de um oficial do Bope sobre a morte do seqüestrador do ônibus 174. Não deu nem chamada na primeira página. O seqüestro, como se sabe, foi um episódio de repercussão internacional.

No mesmo dia, o Bope, o governo do Estado do Rio e a Anistia Internacional se pronunciaram sobre a revelação histórica da reportagem, como se leu em Cotidiano no sábado. Os pronunciamentos também não mereceram chamada na primeira página.

A ótima reportagem sobre o Bope no sábado, a melhor que li no ano do filme ´Tropa de Elite´, mereceu título no pé da capa. No alto, o destaque foi para os cem anos da imigração japonesa.

O título da primeira página, ´Tropa de elite da polícia do Rio mata 5 a cada 6 prisões` permite a leitura equivocada de que os mortos foram presos antes.

A manchete do Extra de hoje, ´Bope vai aceitar mulheres´, foi uma das novidades da reportagem de sábado da Folha.

Na manhã de sábado, os cinco textos mais lidos na Folha Online eram os de Cotidiano sobre o Bope, desbancando o noticiário televisivo que habitualmente brilha na audiência da FOL.

Painel do Leitor?

A histórica edição de sábado subtraiu espaço dos leitores comuns no Painel do Leitor.

Um pesquisador esclarece declaração sua em reportagem de Ciência. Pois o esclarecimento deveria ter saído naquela editoria.

Um assessor de imprensa de deputado corrige colunista da Folha, com razão. A correção deveria ter sido publicada em Erramos ou na coluna que divulgou a informação improcedente.

Um assessor de imprensa de partido aborda reportagem de Brasil. Pois é Brasil que deveria veicular as considerações.

É desigual a disputa por espaço no Painel do Leitor entre os leitores ´normais` e os ´especiais´.

Enfim

Na edição de sábado: ´Conselho tutelar proíbe menina de dar entrevista´.

Já não era sem tempo.

Diante da ausência de pudor do jornalismo e do pára-jornalismo, cabia mesmo uma intervenção para afastar os abutres.

Bom furo

Ficou boa a reportagem de sábado sobre a intenção declarada de Gilberto Gil de deixar o Ministério da Cultura em 2008 (´´Preciso de tempo para continuar fazendo o que mais gosto na vida: cantar´´).

Apuração própria?

A informação que sustenta a manchete dominical, ´Em SP, 13% dos professores estaduais faltam a cada dia´, é atribuída a repórter da Folha.

Em página interna, aparecem informações cuja fonte é o escritório Ulhôa Canto, Rezende e Guerra Advogados.

Estudo do escritório fundamentou reportagem da revista Época de duas semanas atrás, ´Em busca do professor fantasma´.

Faltou clareza à Folha para deixar claro que informações tiveram o escritório como origem e quais foram produzidas pelo próprio jornal.

Na essência, as informações centrais já estavam na ´Época` (média de 32 faltas anuais). A manchete da Folha foi uma variante, com a porcentagem de faltosos, e não o número de faltas.

Condeno que o jornal prive os leitores de informações relevantes apenas porque levou o furo. Mas é preciso ser transparente quando se recupera pioneirismo alheio.

Grandes bocadas

A partir de um caso, a atuação no TCU de advogados irmãos de ministro, a Folha produziu no domingo reportagem de fôlego muito boa sobre o Tribunal de Contas da União e os Tribunais de Contas dos Estados.

Perfil do Leitor 2007

Pela primeira vez, na edição dominical, tive acesso a alguns números da pesquisa feita com os leitores da Folha.

Todos os depoimentos são favoráveis à Folha. Mesmo que esse seja o sentimento majoritário, a tradição do jornal é de assegurar o pluralismo. Leitores mais críticos também deveriam ter a opinião contemplada.

Em 1997, a circulação média diária da Folha era de 530 mil exemplares. Em 2000, de 441 mil. Em setembro de 2007, de 307 mil, o jornal líder no país. O resumo de ontem não ajuda a entender a queda de leitores (pelo menos na edição impressa), fenômeno mundial em periódicos com o perfil da Folha, do ´Estado` e do ´Globo´.

Ou seja: por que tantas pessoas deixaram de ler a Folha?

A resposta a essa pergunta é fundamental para o jornal entender o que se passa hoje e planejar o futuro.

Na mesma tecla

Salvo engano, circular do Programa de Qualidade vetou neste ano o emprego da palavra ´aéreas` como sinônimo de ´companhias aéreas´.

Título no domingo: ´Passageiros da BRA embarcam em outras aéreas` (pág. A21).

Sobreviveu

Palpite transformado em título de domingo: ´Pela salvação, Nelsinho adota esquema suicida` (pág. D2).

Como se viu em Goiânia, o Corinthians não se suicidou.

O povo na TV

O jornal deveria refletir acerca dos comentários de Fernando de Barros e Silva sobre a exposição dos jovens presos na semana passada no Rio (hoje na pág. A2).

A Secretaria de Segurança do Estado precisava se um fato para abafar a repercussão da morte de um adolescente em festa rave, e o produziu com sucesso, mesmo à custa de abreviar uma investigação promissora. Com a indispensável ajuda dos jornalistas, que não questionaram o show.

O verbo maldito

A primeira página de hoje emprega um verbo, ´continuar´, que quase sempre deve ser evitado no jornalismo: ´Flamengo bate Santos no Maracanã e continua na disputa pela Libertadores´. Se continua, é porque já estava. Então, não há novidade.

O pior é que ´continuar` caberia com qualquer resultado: ´Flamengo perde do Santos e continua na disputa pela Libertadores` ou ´Flamengo empata com Santos e continua na disputa pela Libertadores´.

A informação complementar é que o Flamengo ficou mais próximo da Libertadores.

Fotojornalismo

É uma grande imagem a do goleiro corintiano Felipe, na primeira página de hoje.

Euforia duvidosa

O título ´BM&F estréia em momento de euforia` (hoje na pág. B5) talvez valesse para o momento do IPO da Bovespa Holding, não para a última semana, com a turbulência nos mercados internacionais que permanece hoje.

Erramos

São numerosos os erros apontados pelos leitores nas edições de sábado, domingo e hoje.

Como de praxe, as mensagens serão encaminhadas à Redação.’