‘13/11/07
Pelo telefone
A Folha não deu manchete, ao contrário do ´Estado´, mas titulou na primeira página: ´PF prende 20 por suspeita de fraudes em licitações em AL´.
A reportagem é assinada por três repórteres –nenhum deles, conforme o crédito, estava em Alagoas.
A cobertura do ´Estado` é de autoria também de três jornalistas, um deles correspondente em Maceió.
A do ´Globo´, de um colaborador em Alagoas.
Outra reportagem importante, ´Professoras dizem que foram punidas por manter namoro` (pág. C6), trata de eventos ocorridos em Campo Grande.
Foi produzida de longe. É bom trabalho jornalístico, mas poderia ser melhor se a repórter estivesse em Mato Grosso do Sul.
Manchete genérica
A manchete da Folha traz uma informação correta: ´Governo manobra para tentar prorrogar CPMF´.
O problema é que ela valia para ontem e valerá para amanhã.
Desde sempre o governo manobra para tentar prorrogar a CPMF. E vai continuar manobrando.
Por isso, é importante identificar fatos mais precisos no título mais importante da edição. Para diferenciar a manchete de hoje das que já saíram e das que vão sair.
Painel do Leitor!
Pelo segundo dia consecutivo, na íntegra, o Painel do Leitor honra seu nome.
CGU
A reportagem ´PF prende 20 suspeitos de fraudar licitações` (pág. A11) fala em ´uma auditoria da CGU nos municípios´.
O que é CGU? O leitor não é obrigado a saber.
Mistérios romanos
Na reportagem ´Não faltarão recursos para a exploração, diz Petrobras` (pág. B5), descobre-se que o presidente da estatal está na Itália.
O texto não contém uma informação elementar: o que faz Gabrielli em Roma?
O repórter da Folha viajou ´a convite da Terna´. O que é Terna? A Terna tem alguma coisa a ver com a Petrobras e seu ramo de negócios? O leitor não é obrigado a saber. Sem esse esclarecimento, os leitores são impedidos de avaliar as relações entre quem pagou o almoço e os interesses em jogo na cobertura.
Furo
Declarações do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima, valeram ao Globo a manchete ´Governo vai propor uma nova lei geral de petróleo´.
Senhor da razão
Título de ontem na Folha (pág. B5): ´BM&F estréia em momento de euforia´.
Manchete de hoje na capa de Dinheiro: ´Bolsa cai 4,3%, no 2º pior pregão do ano´.
Alta
Em 2007, a relação candidato-vaga na Fuvest para medicina e ciências médicas foi de 32,43.
Em 2008, de 33,99.
Logo, houve alta, o que contradiz o sentido da flecha no quadro ´As mais concorridas na Fuvest` (pág. C3).
Campeonato Brasileiro!
Ao contrário do que ocorreu na terça-feira passada, hoje os leitores da Folha receberam a tabela com a classificação do Campeonato Brasileiro de futebol.
Uma boa notícia.
Flagrante
O que o jornal tem hoje de mais interessante é o confronto entre Adib Jatene e Paulo Skaf, em discussão sobre a CPMF (´Jatene para Skaf: ´Têm que pagar!´´, pág. E2).
Resposta ao ombudsman
Por intermédio da Secretaria de Redação, recebi do editor de Cotidiano, Rogério Gentile, a seguinte resposta, pela qual agradeço, à nota ´Apuração própria?` da crítica de ontem:
´A reportagem citada da Época foi feita com base numa estimativa do tal escritório de advocacia. A reportagem da Folha ´Em SP, 13% dos professores estaduais faltam a cada dia` foi feita a partir de levantamento oficial e inédito´.
12/11/07
Comentário a respeito de um recorde
A Folha circulou sábado com 200 páginas na edição São Paulo/DF, recorde histórico para esse dia da semana. O ´Estado` teve 190.
O vigor publicitário do meio jornal no Brasil contrasta com a redução do faturamento com anúncios pelos diários nos Estados Unidos.
É diferença a comemorar.
Leitores reclamam de que o aumento de páginas com publicidade, em especial de lançamentos imobiliários, não foi acompanhado de incremento jornalístico.
Concordo: não identifiquei na edição de sábado empenho para que o recorde de páginas combinasse com, digamos, ´recordes` de excelência jornalística.
Para o leitor, é importante que a elevação da receita tenha conseqüências qualitativas no produto que ele recebe.
Três sugestões minhas para que isso ocorra:
1) A restauração do posto de correspondente em Belém do Pará, em região na qual a presença da Agência Folha é reduzidíssima.
2) A restauração do posto de correspondente em Pequim, acompanhando as mudanças na China, a pujança econômica do país e os preparativos para a Olimpíada.
3) O envio de repórter à Itália para contar as descobertas das autoridades locais sobre a guerra de espionagem entre as teles no Brasil e o suposto pagamento de propinas.
Para que serve o jornal?
Contar histórias é um dos seus propósitos.
Em sete meses como ombudsman, não me lembro de ter visto uma história tão menosprezada pela Folha como a do menino-aranha na edição de sábado.
A maior fotografia da primeira página foi para Riquelme, 5, o pequeno herói com nome de craque argentino (nem esse aspecto futebolístico o jornal abordou). Riquelme salvou uma menina de 1 ano que estava no berço quando a casa dela pegou fogo _é o que o jornal banca. O destaque da primeira página criou uma expectativa que se frustrou.
A reportagem ´´Homem-Aranha` de 5 anos entra em casa que pegava fogo e salva bebê` (pág. C4) não é só pequena em tamanho e apurada por telefone. É burocrática e insensível. Trata um feito emocionante no tom de relato sobre buraco de rua.
No fim de semana da morte de Norman Mailer, o jornal não soube reconhecer o encanto óbvio de um gesto inesquecível.
Se uma história assim não comove o jornal, o que vai comover?
Notícia escondida
Na sexta-feira, a Folha revelou o depoimento de um oficial do Bope sobre a morte do seqüestrador do ônibus 174. Não deu nem chamada na primeira página. O seqüestro, como se sabe, foi um episódio de repercussão internacional.
No mesmo dia, o Bope, o governo do Estado do Rio e a Anistia Internacional se pronunciaram sobre a revelação histórica da reportagem, como se leu em Cotidiano no sábado. Os pronunciamentos também não mereceram chamada na primeira página.
A ótima reportagem sobre o Bope no sábado, a melhor que li no ano do filme ´Tropa de Elite´, mereceu título no pé da capa. No alto, o destaque foi para os cem anos da imigração japonesa.
O título da primeira página, ´Tropa de elite da polícia do Rio mata 5 a cada 6 prisões` permite a leitura equivocada de que os mortos foram presos antes.
A manchete do Extra de hoje, ´Bope vai aceitar mulheres´, foi uma das novidades da reportagem de sábado da Folha.
Na manhã de sábado, os cinco textos mais lidos na Folha Online eram os de Cotidiano sobre o Bope, desbancando o noticiário televisivo que habitualmente brilha na audiência da FOL.
Painel do Leitor?
A histórica edição de sábado subtraiu espaço dos leitores comuns no Painel do Leitor.
Um pesquisador esclarece declaração sua em reportagem de Ciência. Pois o esclarecimento deveria ter saído naquela editoria.
Um assessor de imprensa de deputado corrige colunista da Folha, com razão. A correção deveria ter sido publicada em Erramos ou na coluna que divulgou a informação improcedente.
Um assessor de imprensa de partido aborda reportagem de Brasil. Pois é Brasil que deveria veicular as considerações.
É desigual a disputa por espaço no Painel do Leitor entre os leitores ´normais` e os ´especiais´.
Enfim
Na edição de sábado: ´Conselho tutelar proíbe menina de dar entrevista´.
Já não era sem tempo.
Diante da ausência de pudor do jornalismo e do pára-jornalismo, cabia mesmo uma intervenção para afastar os abutres.
Bom furo
Ficou boa a reportagem de sábado sobre a intenção declarada de Gilberto Gil de deixar o Ministério da Cultura em 2008 (´´Preciso de tempo para continuar fazendo o que mais gosto na vida: cantar´´).
Apuração própria?
A informação que sustenta a manchete dominical, ´Em SP, 13% dos professores estaduais faltam a cada dia´, é atribuída a repórter da Folha.
Em página interna, aparecem informações cuja fonte é o escritório Ulhôa Canto, Rezende e Guerra Advogados.
Estudo do escritório fundamentou reportagem da revista Época de duas semanas atrás, ´Em busca do professor fantasma´.
Faltou clareza à Folha para deixar claro que informações tiveram o escritório como origem e quais foram produzidas pelo próprio jornal.
Na essência, as informações centrais já estavam na ´Época` (média de 32 faltas anuais). A manchete da Folha foi uma variante, com a porcentagem de faltosos, e não o número de faltas.
Condeno que o jornal prive os leitores de informações relevantes apenas porque levou o furo. Mas é preciso ser transparente quando se recupera pioneirismo alheio.
Grandes bocadas
A partir de um caso, a atuação no TCU de advogados irmãos de ministro, a Folha produziu no domingo reportagem de fôlego muito boa sobre o Tribunal de Contas da União e os Tribunais de Contas dos Estados.
Perfil do Leitor 2007
Pela primeira vez, na edição dominical, tive acesso a alguns números da pesquisa feita com os leitores da Folha.
Todos os depoimentos são favoráveis à Folha. Mesmo que esse seja o sentimento majoritário, a tradição do jornal é de assegurar o pluralismo. Leitores mais críticos também deveriam ter a opinião contemplada.
Em 1997, a circulação média diária da Folha era de 530 mil exemplares. Em 2000, de 441 mil. Em setembro de 2007, de 307 mil, o jornal líder no país. O resumo de ontem não ajuda a entender a queda de leitores (pelo menos na edição impressa), fenômeno mundial em periódicos com o perfil da Folha, do ´Estado` e do ´Globo´.
Ou seja: por que tantas pessoas deixaram de ler a Folha?
A resposta a essa pergunta é fundamental para o jornal entender o que se passa hoje e planejar o futuro.
Na mesma tecla
Salvo engano, circular do Programa de Qualidade vetou neste ano o emprego da palavra ´aéreas` como sinônimo de ´companhias aéreas´.
Título no domingo: ´Passageiros da BRA embarcam em outras aéreas` (pág. A21).
Sobreviveu
Palpite transformado em título de domingo: ´Pela salvação, Nelsinho adota esquema suicida` (pág. D2).
Como se viu em Goiânia, o Corinthians não se suicidou.
O povo na TV
O jornal deveria refletir acerca dos comentários de Fernando de Barros e Silva sobre a exposição dos jovens presos na semana passada no Rio (hoje na pág. A2).
A Secretaria de Segurança do Estado precisava se um fato para abafar a repercussão da morte de um adolescente em festa rave, e o produziu com sucesso, mesmo à custa de abreviar uma investigação promissora. Com a indispensável ajuda dos jornalistas, que não questionaram o show.
O verbo maldito
A primeira página de hoje emprega um verbo, ´continuar´, que quase sempre deve ser evitado no jornalismo: ´Flamengo bate Santos no Maracanã e continua na disputa pela Libertadores´. Se continua, é porque já estava. Então, não há novidade.
O pior é que ´continuar` caberia com qualquer resultado: ´Flamengo perde do Santos e continua na disputa pela Libertadores` ou ´Flamengo empata com Santos e continua na disputa pela Libertadores´.
A informação complementar é que o Flamengo ficou mais próximo da Libertadores.
Fotojornalismo
É uma grande imagem a do goleiro corintiano Felipe, na primeira página de hoje.
Euforia duvidosa
O título ´BM&F estréia em momento de euforia` (hoje na pág. B5) talvez valesse para o momento do IPO da Bovespa Holding, não para a última semana, com a turbulência nos mercados internacionais que permanece hoje.
Erramos
São numerosos os erros apontados pelos leitores nas edições de sábado, domingo e hoje.
Como de praxe, as mensagens serão encaminhadas à Redação.’