Jovens devem tomar cuidado com o que dizem nas conversas online. Num chat, informações preciosas podem ser reveladas, como nome da escola, cidade ou qualquer outro dado identificador. Crianças e adolescentes devem ser lembrados que, assim como não passamos nossas informações pessoais a desconhecidos na vida real, não podemos passá-las a estranhos na internet.
Pedófilos fazem plantão na rede, procurando por nomes e perfis específicos de vítimas em potencial. Na maioria das vezes mentem sobre a idade, a fim de fazer com que a vítima acredite serem tão jovens quanto ela. Alguns pedófilos podem fazer perguntas aparentemente inofensivas, mas a combinação de respostas tende a revelar muito a respeito da vítima. Questões indiretas podem incluir assuntos como clima, eventos locais, time de futebol favorito etc. De posse das informações, o criminoso pode observar a criança na escola e depois segui-la até em casa. Percebe-se que o perigo é real, e não virtual.
Outrossim, em salas de bate-papo é possível que pessoas entrem e se mantenham invisíveis somente para ler o que é escrito pelos participantes, o que exige cuidado redobrado com o que se escreve online, mesmo que se esteja falando ‘somente’ com um conhecido. Ao passar informações ao amigo, corre-se o risco de tê-las lidas por pessoa mal-intencionada.
É importante que o jovem tenha consciência de que, na internet, qualquer um pode fingir ser quem quiser, uma vez que não podemos ver quem realmente está do outro lado da tela do computador. Kacie René Woody tinha 13 anos e morava numa cidadezinha no interior do estado de Arkansas. A mãe morrera em acidente de carro em 1997 e a menina vivia com o pai (policial) e um irmão de 19 anos. A adolescente fizera amizade com um rapaz de 17 anos pela internet e não via mal algum nisso (afinal, era ‘apenas a internet’!).
Um pedófilo em Minas
Em 3 de dezembro de 2002, o pai de Kacie saiu para trabalhar e o irmão foi à biblioteca, deixando a menina sozinha. Enquanto brincava no computador, Kacie não imaginava que estava sendo observada através da janela pelo ‘amigo virtual’, do lado de fora. Ao retornar à casa, o irmão percebeu que Kacie sumira. Imediatamente, a polícia de Arkansas e o FBI foram acionados e iniciaram-se as buscas. Em menos de 20 horas a polícia já tinha um suspeito e seu possível veículo, encontrando-os facilmente nos arredores. O pedófilo havia matado a garota com um tiro na cabeça, suicidando-se no momento em que percebeu a aproximação da polícia. O assassino tinha 47 anos, e não 17 como afirmava nas conversas online.
‘Kacie era um anjo de verdade. É meu objetivo educar o maior número de pais e crianças possível sobre os perigos dos predadores na Internet, para que isto não aconteça ao anjinho de outra pessoa’, declarou Rick Woody, pai da vítima (disponível em http://home.alltel.net/rkw/kaciewoody_a.html).
Em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, a avó de uma menina de 11 anos desconfiou quando um rapaz que dizia ter 28 anos perguntou a idade da criança em sala de bate-papo. A avó então, fingindo ser a criança, trocou mensagens por 50 dias com o pedófilo de Pitangui, Minas Gerais (que na verdade tinha 46 anos). O criminoso acabou sendo preso pela polícia após revelar seu número de telefone.
Sempre um risco
Em Brasília, a polícia também deteve um arquiteto de 49 anos que se fazia passar por criança em salas de bate-papo. A prisão aconteceu depois que uma comerciante carioca conheceu o pedófilo na internet e decidiu alimentar a amizade a fim de reunir provas para investigação. Usando o nome fictício de Cíntia, a comerciante reuniu fotos e 63 vídeos enviados pelo pedófilo, além de conversas detalhadas sobre os encontros com as crianças. O promotor de Justiça responsável pelo caso disse que nos vídeos ‘algumas estão acorrentadas e dá para ouvir os gritos’.
Pelos exemplos mencionados queremos alertar ao leitor (pai ou professor) sobre o fato de que na internet qualquer um pode fingir ser o que quiser, e conversas aparentemente inocentes podem resultar em danos gravíssimos. É natural que o adolescente se sinta super-poderoso e inatingível, acreditando que ‘uma conversinha pela internet não faz mal a ninguém’, estando tudo ‘sob controle’. O que o jovem deve saber é que, enquanto a intenção da vítima é uma a do pedófilo manipulador é outra completamente diferentes.
Marcar encontros com ‘amigos virtuais’ é sempre um risco, mesmo quando em locais públicos, posto que o jovem poder ser levado dali à força. Pais, filhos, professores e alunos devem manter um canal de comunicação aberto para que se discuta este tipo de situação. Se houver insistência por parte do jovem, o ideal é que o encontro aconteça em companhia dos pais ou responsáveis.
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Advogada e consultora em direito e educação digital