Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Deslizes e acertos da cobertura ao vivo

Lamentavelmente, muitas vidas foram perdidas em mais um doloroso capítulo da aviação brasileira. Talvez estejamos diante de mais um episódio da crise aérea que aflige o país há quase um ano e que enche de vergonha os brasileiros, rendidos pala inépcia das autoridades. Enquanto são investigadas as causas do ‘acidente’ com o Airbus da TAM – esperamos poder intitulá-lo como tal –, ficam marcadas duas impressões a respeito da tragédia.

A primeira delas refere-se à gravidade das precárias condições da aviação comercial no país (não fosse assim, a mais provável causa do acidente não seria a falta de condições da pista do aeroporto paulista para receber pousos em dias de chuva). A outra é sobre o comportamento da imprensa nas primeiras horas de cobertura do acidente, que passeou entre o espetáculo vazio e a cobertura informativa. A principal emissora do país preferiu manter a exibição do seu folhetim e perdeu a chance de tentar esclarecer alguns detalhes sobre as primeiras informações divulgadas. As outras grandes emissoras fizeram uma cobertura ininterrupta, após saberem do ocorrido, e enviaram vários repórteres ao local do acidente.

Tom quase desrespeitoso

Acompanhei com mais atenção o trabalho da Bandeirantes e percebi que o direcionamento da cobertura era o mesmo que o de outros casos em que há grandes acontecimentos e transmissões ao vivo, ‘em cima do fato’. Havia pouca informação – apesar do esforço e do bom trabalho dos repórteres – e por isso a cobertura era mais sensacionalista do que esclarecedora. No entanto, apesar da transmissão maçante e repetitiva, algumas informações foram transmitidas em primeira mão pela equipe da Band e os jornalistas conseguiram entrevistas que esclareceram algumas dúvidas importantes.

A precipitação e o tom dramático do apresentador José Luís Datena em apontar os responsáveis pela tragédia foram o ponto fraco da cobertura que, por outro lado, mostrou a agilidade da equipe de jornalismo da Band em destacar um grande profissional da emissora para propor, sem dramalhões, uma discussão mais ampla sobre o momento de crise na aviação brasileira.

Os jornalistas que cobriam o acidente ainda tentavam entender o que havia acontecido com a aeronave, e por isso as informações ficaram um pouco desencontradas (o que é natural). Mais um ponto para a Band, que conseguiu, muito antes do Jornal Nacional ir ao ar, descrever os primeiros detalhes do acidente (muito depois, William Bonner conduzia, ainda confuso e com as mesmas informações já divulgadas, o telejornal da Globo).

Quanto aos jornais impressos, o que chamou a atenção foi o tom quase desrespeitoso com que o jornal Extra abordou o caso. Em letras ‘garrafais’, o periódico preferiu destacar os mais de ‘200 mortos sob calor de mil graus’ para, embaixo, dizer que se tratava do acidente em São Paulo. Outra derrapada do jornal foi a publicação de uma foto com corpos carbonizados expostos no local do acidente. Desnecessário. Esperamos, nos próximos dias, mais reflexão e menos banalidade.

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Estudante de Jornalismo, Niterói, RJ