Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Direto da Redação

ELEIÇÕES 2006
Leila Cordeiro

A pergunta que o JN não fez, 14/8/06

‘As entrevistas do Jornal Nacional com os quatro principais candidatos à presidência da República foram válidas, principalmente em se tratando da Rede Globo, historicamente conhecida por sua aversão ao debate. A idéia foi boa realmente, mas a execução poderia ter sido bem melhor. Os dois apresentadores, no afã de demonstrarem isenção e que estavam ali para pressionar os candidatos, viraram interrogadores e se perderam nas perguntas, deixando de levantar questões relevantes para o esclarecimento do eleitor.

Não se sabe se esse tipo de questionamento que privilegiou a inquisição em detrimento dos verdadeiros temas que interessam ao dia a dia do eleitor foi uma orientação superior ou fruto do despreparo do casal para esse tipo de trabalho, embora tenhamos que reconhecer nos dois um elogiável esforço em parecerem isentos e bem informados.

A obrigatoriedade de destacar para os principais eventos o casal de apresentadores do JN, Fátima e William, tem relegado a segundo plano jornalistas mais experientes e mais acostumados ao enfrentamento diário com a classe política, que poderiam perfeitamente ter cumprido melhor o papel de entrevistadores.

Renato Machado, por exemplo, escondido há anos no madrugador Bom Dia Brasil, tem bom jogo de cintura e seu telejornal é frequentado quase diariamente por políticos. Outro é Chico Pinheiro, experiente repórter e capaz de embaraçar os candidatos, se esse era realmente o objetivo, com mais sangue frio. Sem falar de Alexandre Garcia, talvez o mais afiado repórter político do quadro atual da Globo. Ele vive em Brasíia, junto ao poder central mas longe do poder da emissora. Com isso, está confinado a horários incertos ou eventuais substituições dos apresentadores do JN nos fins de semana.

São muitos talentos desperdiçados, profissionais deixados de lado em eventos de destaque da emissora.

Pouca gente sabe que Marilia Gabriela é contratada da Globo como ‘atriz’. Ela que reinou durante anos nos debates presidenciais está hoje no freezer do Projac. Por que não se pensou em aproveitar Marília com toda a sua experiência no trato com candidatos ao maior cargo do poder executivo nessa cobertura das eleições?

É difícil imaginar o que ocorre nos bastidores do Jardim Botânico. Qual o critério que privilegia poucos e esquece a competência de muitos.

De qualquer maneira, é uma pena que uma vitrine como essa, no espaço mais caro e disputado da TV brasileira, tenha sido tão mal aproveitada. Questões importantes como a da governabilidade foram esquecidas. Todos os candidatos prometem maravilhas, transformar o país num sonho de lugar para se viver. Mas ninguém perguntou como vão conseguir isso sem maioria no Congresso. Como agirão para conquistar uma base de apoio parlamentar: vão denunciar ao povo brasileiro o sabotagem que estão sofrendo por parte do legislativo ou vão vender a alma ao diabo, como o Brasil tem testemunhado nos últimos governos?

Isso nós só vamos saber em janeiro de 2007, quando tomam posse o novo presidente e o novo Congresso.

(*) Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou nas TVs Globo, Manchete, SBT e na CBS Telenotícias Brasil, como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros publicados.’



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O Estado de S. Paulo – 1

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