O futuro do rádio é digital. Na quarta-feira (17/3), foi feita a primeira transmissão internacional de rádio digital para o Brasil. Nada definitivo, por enquanto. Apenas uma demonstração realizada por representantes do consórcio DRM (Digital Radio Mondiale), que vieram ao país apresentar sua tecnologia de transmissão digital.
O encontro ocorreu no Centro Britânico, em São Paulo. Organizado pela BBC Brasil, fez parte de uma série de eventos sobre o rádio que preencheu a semana inteira e proporcionou um bom debate sobre um tema não muito discutido. Além da apresentação do consórcio DRM, a programação contou com um workshop de radiojornalismo nas PUCs do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde foram debatidos a prática, a ética e o futuro do rádio.
O workshop nas universidades surgiu de uma associação que BBC Brasil possui com a rádio CBN. Dos dois lados havia interesse em realizar algum evento que promovesse o radiojornalismo. ‘Nós achamos que é importante discutir problemas específicos do radiojornalismo na universidade no Brasil’, afirma Américo Martins, chefe da BBC Brasil e organizador dos eventos.
Sem ruídos ou interferências
Um dos temas abordados nas palestras foi o futuro do rádio, e Martins não pensou duas vezes ao convidar os representantes do consórcio DRM – do qual a própria BBC faz parte – para participar do debate.
A tecnologia DRM capta e digitaliza transmissões de ondas curtas, médias e longas, proporcionando um som com qualidade equivalente à apresentada pelas rádios FM. O consórcio foi formado em 1998, com o objetivo de melhorar o sinal de rádio e facilitar a transmissão. A primeira transmissão digital foi concretizada no ano passado. Hoje, o DRM conta com 82 associados em 30 países de diversas partes do mundo.
Em visita ao Brasil, Andy Giefer e John Elliott, da BBC, Grahame Dobson, da VT Merlin Communications, e Paulo Lages, da Radiodifusão Portuguesa, falaram sobre a tecnologia utilizada e as vantagens do sistema.
Aprovado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), o DRM é apenas um dos sistemas de transmissão digital hoje existentes. No Brasil, ele competiria com o sistema americano Iboc – que, de acordo com a UIT, é adequado para transmissões AM e FM.
Os benefícios do DRM são muitos. Segundo Paulo Lages, da RDP, ele ‘tem várias vantagens para ser o sistema ideal de implementação para a radiodifusão AM no Brasil’. O sistema consegue atingir as coberturas de longa distância feitas pelas emissoras AM e reproduzir as transmissões com qualidade digital. Além disso, permite uma redução significativa no uso da potência dos transmissores. Possibilita também a utilização de novos conteúdos integrados em um mesmo aparelho, como serviço de notícias de texto no visor, sintonia da estação pelo nome e gravação e armazenamento de um programa enquanto se escuta outro.
Algumas pedras no caminho
Mas ainda há incertezas. A tecnologia utilizada pelo DRM ainda está sendo desenvolvida, e por isso não há uma previsão certa dos custos para a implantação do sistema. Espera-se que os aparelhos receptores estejam disponíveis ao público em 2005, a preços não muito salgados. Por enquanto, em fase de desenvolvimento, eles custariam a bagatela de 700 euros (algo como 2.600 reais).
Antes disso, outro empecilho teria que ser resolvido: o governo brasileiro precisa definir qual será o padrão de tecnologia digital para rádio a ser adotado no país. Neste quesito, o DRM leva alguma vantagem sobre o sistema Iboc. O DRM constitui uma tecnologia aberta, que poderia ser utilizada por todos, ao contrário do Iboc, que pertence a uma empresa comercial, a Ibiquity. ‘Eu duvido que os outros sistemas digitais, que estão em desenvolvimento, apresentem soluções mais baratas’, diz Paulo Lages. ‘O Iboc, por exemplo, é um sistema proprietário, é um negócio. Qualquer radiodifusor, para utilizá-lo, terá que pagar.’
No meio desta competição, quem ganha é a transmissão AM. Com sua digitalização, ela passa a ter potencial para concorrer com as emissoras FM, que possuem qualidade de áudio bem superior ao do sistema analógico.
É o futuro chegando. E ele é digital.