Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

E a rede cresce lenta

Uma vez por ano, Mary Meeker se apresenta em público com um deque de slides novo. Sócia da Kleiner Perkins, a mais tradicional empresa de investimentos do Vale do Silício, seu pronunciamento é aguardado com ansiedade. É um resumo em números, gráficos e curvas de tendência do mundo digital. O que mudou nos últimos doze meses, o que devemos aguardar para os próximos. Seu último pronunciamento foi agora, no dia 27, durante a conferência re/code.

São já 20 anos da internet comercial. E, caramba, como gerou riqueza. Em 1995, éramos 35 milhões de navegantes. Hoje somos 2,8 bilhões. Quase 40% da população mundial. Lá atrás, 80 milhões usavam celulares. Hoje, três quartos do mundo têm um: 5,2 bilhões. As quinze maiores empresas ligadas à internet representavam, na Bolsa de Valores, US$ 17 bilhões. Hoje valem US$ 2,4 trilhões.

Pois é: as quinze maiores empresas da internet somam, no mercado de capitais, mais do que o PIB brasileiro pré-crise.

Se o crescimento é vertiginoso nestas duas décadas, a coisa muda de figura quando vista de perto. Em 2013, o número de pessoas com acesso à rede cresceu 10%. No ano passado, 8%. Houve 27% novos usuários de celular em 2013, 23% em 2014. O tráfego aumentou em 24% num ano, 21% no seguinte. A internet não para de ficar maior, só que num ritmo menor.

Há razões para a aceleração que perde fôlego. A rede já chegou aos cantões ricos do mundo. Nos mais pobres o problema é a infraestrutura. Sair cruzando o planeta com fibra ótica é caro. Torres de celular são mais baratas. Ainda assim têm seu custo. Empresas de telecomunicações encaram suas planilhas, pensam no tempo de retorno do investimento contra o número de clientes possíveis, multiplicam pela conta média mensal, desanimam. Não é à toa que gigantes como Google e Facebook aparecem dispostos a fazer caridade, levando internet para onde não há. Estão em um negócio mais rentável do que o das telecoms. Negócio, diga-se, com um problema por resolver.

Entre 2013 e 2014, a rentabilidade que Twitter e Facebook conseguem arrancar de cada usuário não variou. O número médio de usuários ativos por mês também se manteve estável. Bateram num platô. Precisam de mais gente entrando na rede. E rápido.

Nem tudo está parado: vídeos crescem. Para quem costuma ler estes números, não há novidade. De uns tempos para cá, não há marqueteiro com um PowerPoint que não costure um truísmo ou dois a respeito de vídeos. Mas Mary Meeker traz observações novas.

A primeira é que vídeos crescem, em parte, por causa do Facebook. Hoje, 4 bilhões de filmetes são vistos diariamente na rede social. Há apenas seis meses o número era 1 bilhão. O Facebook está mostrando mais vídeos para todos.

E, conforme cresce o uso do celular para acesso à rede, cresce também o número de vídeos vistos em celulares. Hoje, mundialmente, a internet é móvel: 55% do acesso parte de celulares e tablets. E 29% dos vídeos, em 2014, foram vistos nas telas de telefones.

É uma tela vertical. Se Meeker estiver certa, começaremos a ver mais vídeos em pé. O mundo ainda não parou de mudar.

A Kleiner Perkins vive de investir na internet. Sua visão de futuro é uma aposta nas empresas em que investe. Não vem sem interesses. Este é um filtro importante para compreender sua leitura. Ainda assim, dá no que pensar.

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Pedro Doria, do Globo