Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Paradigmas da bancada

Morenas sorridentes transitam pelas mídias. Mais do que uma arranjada dança das cadeiras e busca por novas perspectivas profissionais, a mudança na bancada do JN mexeu com certos paradigmas da comunicação: um deles, o do referenciamento. Ao substituir a Lilian Witte Fibe no balcão de distribuição de notícias, Fátima Bernardes consolidou a imagem do casal credibilidade e passou a ser um personagem público (igual a Bonner). Qualquer alteração em seu físico ou emocional passava pelo julgamento e comoção do público; do cabelo ao olhar. Além de decidir mudar e alçar novos voos profissionais, ela tinha que convencer e comunicar não apenas aos mais próximos, mas principalmente os “próximos” distantes.

Tamanha a representatividade do personagem Fátima que para mudar de função teve de preparar o público, convocar para uma conversa (coletiva) e apresentar a transição de forma a suavizar os impactos da mudança. Para substituí-la deveria ser escolhido um personagem com credibilidade semelhante, com o mesmo poder de acesso à simpatia de milhões. A estética de inteligência estava lá, aos domingos, com uma presença que preenche todo o espaço sem sufocar. Cativa e envolve em cada narrativa semanal. Poeta, o personagem adequado para no ritmo noturno ocupar a bancada ao lado do tio Bonner.

A sedução da simpatia

Dois dias históricos no JN; o último de Fátima e o primeiro de Poeta. Nesta semana, os acontecimentos (assim como o tiro de Lupi) ganharão uma película diferente sobre o noticiar. Os olhos precisarão se acostumar com o novo personagem na bancada para voltar a dar atenção às matérias. Reflexões interessantes a respeito do processo de comunicação surgem neste momento. Dentre elas a percepção do real; concebendo o real como a interação e ruptura das narrativas dos indivíduos no mise en scène que forma o corpo social.

O JN deixa por um instante de ser a silenciosa entidade a inundar cômodos com informação e versão dos fatos e estabelece-se como um espetáculo momentâneo com um novo (embora velho conhecido) personagem. Sai a mãe, a esposa, a metade do casal credibilidade; entra a sedução madura da simpatia que, para ocupar a nova posição, até o visual vai mudar: tirará a roupa de domingo (visual e narrativa) e se preparará para o tour diário pela residência de milhões.

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Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]