Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O que a faculdade não ensina

O jornalismo é fascinante. Desde a faculdade, aprendemos muitos conteúdos úteis para a nossa formação como tal. Mas o verdadeiro jornalismo está fora da faculdade, está nas mídias digitais e no boca a boca das ruas. É ali que você descobre que talvez o jornalismo não seja tão fascinante assim. Foi na internet que li que o cinegrafista Gelson Domingos foi baleado na favela, no Rio, exercendo sua profissão. E que profissional só pode ter proteção adequada se compra do próprio bolso e fora do país. No Brasil, a proteção adequada é aquela que tiro de fuzil ultrapassa com a maior facilidade. Foi na internet que li que a justiça do Maranhão bloqueou toda a movimentação da mídia quando o assunto é a família Sarney. Jornalista que se atreve a pautar sobre o assunto é punido pela justiça. A liberdade é somente no pensamento de um jornalista, uma prisão para qualquer profissional da área.

Foi nas ruas que descobri que a Rede Globo não passa a notícia que deveria passar e que as pessoas se sentem enganadas diante da emissora de maior audiência da televisão brasileira. Que todos sabem que eles omitem assuntos e seguram informações, principalmente quando o assunto principal é a política. Quando achei que somente a Rede Globo tinha seu lado negro, aí vi que a Rede Record também tinha um lado negro da informação. Todo investimento em equipamento falta em profissionais capacitados. Um grande exemplo foram os Jogos Pan-Americanos, onde eles tinham um enorme arsenal de material, mas os comentaristas não estavam preparados para um evento da magnitude do que aconteceu e nem sequer as informações que deveriam ser passadas o foram realmente.

Paixão pelo ofício

A vida de um jornalista não é fácil e ninguém me disse que seria ou será. Mas com tantas dificuldades fica fácil entender a péssima reputação da profissão e do profissional que se habilita a exercê-la. Eu, como estudante de Jornalismo, fico no meio desse turbilhão, na dúvida de como, onde e para quem agir.

Aprendi que o profissional deve ser imparcial na escrita das notícias, que devemos escrever para que todos nos entendam e que deve haver ética em todos os nossos passos. Mas pelo que vejo tudo isso funciona apenas dentro da sala de aula. Jornalistas não são “repolhos” para ser tão imparciais assim; não existe maneira de escrever uma matéria para que todos entendam e a ética fica de lado em muitos veículos de comunicação.

O que me conforta é que jornalista que é jornalista deve ser, assim como eu, apaixonado pelo que faz, para chegar longe sem ver limites. E, acima de tudo, sem se deixar levar por influências.

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[Karyne de Oliveira é estudante de Jornalismo, Porto Alegre, RS]