As empresas jornalísticas em todo o mundo estão passando por profundas reformulações, não só em suas estruturas, mas principalmente na aceitação de como as pessoas estão enxergando o jornalismo. Leitores, ouvintes, telespectadores e usuários querem o jornalismo, não o jornal, não o formato e seus velhos conceitos e anseios. É difícil aceitar isso, porém mais delicado ainda é como os novos profissionais de comunicação devem adentrar esse dinâmico cenário.
Se antes jornalistas se consagravam através de grandes veículos, criando carreiras e reputações renomadíssimas, utilizando o nome do jornal ou da emissora quase como um sobrenome, hoje jornalistas podem criar marcas próprias sem sequer estarem ligados a importantes conglomerados da imprensa. Porém, ao mesmo tempo em que isso parece facilitar o crescimento profissional de jovens jornalistas, nunca a preocupação com a imagem foi tão importante e necessária para quem quer se expor em um mundo altamente voyeur. Os deslizes cometidos pelos profissionais do passado eram cabíveis de certo “abafamento”. Com a internet e suas ferramentas digitais conectadas em rede, perder um título profissional é quase tão fácil quanto não ter inspiração para escrever um artigo.
Com isso, uma das mídias ainda não exploradas com certo nível de comprometimento satisfatório pelos jornalistas – consagrados ou novatos – são os blogs. Os blogs podem ajudar na manutenção da imagem do profissional de comunicação e, além disso, podem até mesmo ajudar a estabelecer reputação e posicionar o jornalista de maneira positiva perante o mercado de trabalho, atualmente disputadíssimo e repleto de mão-de-obra não qualificada.
Seriedade e dedicação
Se destacar de uma forma eficiente em meio a uma multidão que clama por atenção não é fácil e requer quase tanto trabalho quanto gerenciar uma mídia convencional. Gritar não adianta, pois todos possuem seus 15 minutos de fama. A questão com os blogs é ir diretamente onde a velha mídia sempre o critica: credibilidade. Trabalhar com uma mídia digital social demanda profissionalismo e conteúdo, além de se ter um conhecimento do universo que atua na chamada blogosfera.
Aliás, deve-se entender por velha mídia não os formatos tradicionais de jornalismo, como o impresso ou o rádio, mas toda empresa ou profissional que se nega a crer que os tempos são outros e a comunicação, mais do que nunca, é um bem público. Não é porque um veículo é 100% digital que ele deve ser considerado uma “nova mídia”. O novo, aqui, se baseia mais em cultura digital do que em formatos propriamente ditos. Lembre-se: digital não significa inovação.
E é essa inovação que deve fazer parte não só do universo das empresas jornalísticas, mas também ser meta diária do profissional. Criar, manter e gerenciar um blog o ajuda na construção de sua carreira e possibilita o estabelecimento de contatos com outros profissionais da área, além de simplesmente funcionar como ótima ferramenta de exercício, já que o seu gerenciamento deve contar com um alto nível de seriedade e dedicação.
Segmento com credibilidade
Portanto, minimizar e satirizar a mídia blog não tem sido uma atitude apenas da velha mídia. Quando um jornalista, principalmente os mais novos, se recusa a usar tais ferramentas, passamos a ter um problema muito mais abrangente do que antes. Uma empresa que trabalha de maneira engessada perde espaço a cada dia, mas um profissional que atua de maneira “convencional” é mais facilmente extinto do mercado de trabalho do que um veículo jornalístico.
A mídia blog pode ser usada como ferramenta de personal branding para jornalistas e, acima de tudo, deve ser usada como mídia jornalística, sendo trabalhada e desenvolvida com o intuito de se gerar um segmento de mercado cada vez mais sólido, consistente e, principalmente, com credibilidade. Muitos profissionais de destaque e tantos outros até então totalmente desconhecidos já se beneficiam com os recursos trazidos pelos blogs.
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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, pós-graduado em assessoria de imprensa, gestão da comunicação e marketing e pós-graduando em política e sociedade no Brasil contemporâneo]