Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Máquinas terão poder de decisão na era dos dados

Os preconceitos é que são a nossa ruína. Quando tomamos uma decisão, enxergamos apenas o que queremos, ignoramos possibilidades e minimizamos riscos que enfraquecem nossas esperanças. O pior é que “muitas vezes somos confiantes mesmo quando estamos errados”, escreveu Daniel Kahneman em seu novo e magistral livro sobre psicologia e economia, chamado Thinking, Fast and Slow (Pensando, Rápido e Devagar, ainda sem tradução para o português). O observador neutro, escreveu ele, “tem mais probabilidade de detectar nossos erros do que nós”.

Certamente surgirá uma abundância de notícias impressionantes sobre iPads e aberturas de capital no novo ano. Um tema mais importante tem ganhado destaque: como a análise de dados obtidos em bancos de dados gigantescos começará a informar nossas decisões empresariais. Pode chamar isso de “a era dos Grandes Dados”, da análise ou da ciência das decisões. Com o tempo isso mudará o mundo mais do que o iPad 3. A informática está se tornando poderosa e sutil o suficiente para nos ajudar a eliminar do processo decisório o preconceito dos seres humanos. E mais: ela pode fazer isso em tempo real. É inevitável que esse “observador neutro” se torne um banco de dados orgânico em eterna evolução.

Esses sistemas de informática podem hoje em dia digerir bilhões de dados e analisá-los por meio de algoritmos que se adaptam e preparam as conclusões para uso imediato. Nós e os computadores não somos perfeitos, mas juntos talvez possamos neutralizar nossas falhas de preconceito e intuição quando determinamos o preço de um carro, receitamos um remédio ou criamos uma equipe de vendas. Fazer isso é usar na vida as técnicas de análise de dados do time de beisebol Oakland Athletics, história contada recentemente pelo filme O homem que mudou o jogo, estrelando Brad Pitt.

A ascensão da máquina é inevitável

Isso significa menos palpite e mais fatos. Acha que sabe alguma coisa sobre títulos hipotecários? Esses sistemas atingiram tamanha escala que podem agora analisar o valor de dezenas de milhares de títulos atrelados e empréstimos imobiliários com base na dinâmica mutável do risco de crédito de milhões de mutuários da casa própria. Um sistema como esse já foi criado por operadores de Wall Street. Compilando milhões de dados sobre o fluxo do tráfego, um sistema analítico pode descobrir que a frota de entregas deve usar a auto-estrada na sexta-feira – apesar de sua devoção à crença de que é melhor tomar aquele atalho pela via vicinal.

Provavelmente você odeia o conceito de que o julgamento de um ser humano pode ser melhorado ou até substituído por máquinas, mas provavelmente também odeia furacões e terremotos. A ascensão da máquina é tão inevitável e indiferente quanto o seu ódio. O empresariado fantasia há décadas sobre esse racionalismo total. Até alguns anos atrás, a realização do sonho era impedida pelo custo do armazenamento dos dados, a baixa velocidade de processamento e a própria enchente de dados espalhados desorganizadamente em vários bancos de uma única empresa. Agora, esses problemas estão sendo resolvidos.

“O que enxergamos é tudo o que há”

“Chegamos a um ponto em que a tecnologia realmente começou a funcionar”, diz Michael Lynch, diretor-presidente da Autonomy Corp. A Hewlett-Packard acabou de gastar US$ 11 bilhões para comprar a Autonomy, que devora “dados desestruturados” e os aplica a essas abordagens analíticas. Claro que o modismo em torno disso também está aumentando rapidamente. O valor de mercado das empresas que atuam nesse segmento tem subido e provavelmente algumas fracassarão no meio do caminho. Isso não importa muito no longo prazo. A questão em 2012 é como essas tecnologias estão ficando mais próximas de cada um de nós.

É claro que também há um alerta sobre isso. Como explica Dhiraj C. Rajaram, fundador da empresa de análise de dados Mu Sigma, de Northbrook, no Estado americano de Illinois, esse processo analítico se tornará a norma do futuro e pressionará por uma aceleração ainda maior que a atual da adaptação e dos ciclos empresariais. “À medida que os computadores melhoram cada vez mais, nossas vidas se tornarão mais e mais complexas. Isso cria tantos problemas novos quanto soluciona os antigos.”

Até isso acontecer, devemos nos consolar – não importa o quanto isso seja difícil – com a perspectiva de que as máquinas nos ajudarão a eliminar as piores tendências da humanidade. É o escritor Kahneman quem lembra isso da melhor maneira: “Muitas vezes não admitimos a possibilidade de ignorar dados que deveriam ser cruciais para nosso julgamento. O que enxergamos é tudo o que há.”

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[Dennis K. Berman, do Wall Street Journal]