Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Dizendo a verdade na era digital

A autenticidade é abundante. Há demanda para pessoas de verdade nesta era de TV-realidade, mídias social e perfis online. Candidatos à nomeação presidencial republicana nos Estados Unidos afirmam ser exatamente iguais a você e eu. E espectadores questionaram a autenticidade das pessoas que choravam no funeral de Kim Jong-il.

A autenticidade muitas vezes é fabricada. (Senão, como passaria realmente como verdadeira?) Mas e se ela pudesse ser detectada? E se a fraude pudesse ser farejada por um instrumento? Cada vez mais algoritmos de computador e software estão fazendo exatamente isso.

“As máquinas definitivamente serão capazes de nos observar e compreender melhor”, disse ao Times o cientista da computação e especialista em visão da Google, Hartmut Neven. “Aonde isso levará não está claro.”

Poderá levar à verdade.

Hany Farid, um professor de ciência da computação e especialista forense digital no Dartmouth College em New Hampshire, ficou intrigado pelo problema dos anúncios e revistas de moda serem fanáticos por retocar fotografias de celebridades e modelos. “Conserte uma coisa, depois outra e em breve você terminará com a Barbie”, ele disse ao Times.

Deputadas feministas da França, Grã-Bretanha e Noruega querem que as fotos modificadas digitalmente sejam rotuladas. Por isso o doutor Farid ajudou a desenvolver uma ferramenta de software para medir estatisticamente o quanto uma imagem do rosto e do corpo de uma pessoa foi alterada. Ele propõe que a ferramenta seja usada para classificar a alteração em uma escala de 1 a 5, de minimamente alterada a extremamente modificada.

Outros algoritmos tentam captar nossas mentiras. Linguistas, engenheiros e cientistas da computação estão treinando os computadores para reconhecer as marcas do que eles chamam de discurso emocional. Julia Hirschberg, professora de ciência da computação na Universidade Columbia em Nova York, está programando computadores para analisar as palavras das pessoas em busca de padrões – mudanças de tom, pausas, risos nervosos – que avaliem se elas estão sendo honestas.

“O objetivo científico é compreender como nossas emoções se refletem em nossa fala”, disse Dan Jurafsky, professor na Universidade Stanford, na Califórnia. A tecnologia pode ser utilizada em call centers, para advertir os operadores quando um cliente está ao telefone.

O software pode dizer quando um presidente está se desviando da verdade, ou talvez quando um político está mentindo. Quem é o verdadeiro conservador na disputa das primárias republicanas? Alguns computadores conseguem localizar grupos de palavras e frases que podem indicar uma mentira.

As novas tecnologias serão amplamente aceitas como provas no tribunal?

Em 2008 a Índia tornou-se o primeiro país a condenar alguém por um crime contando com evidências de um polêmico rastreador cerebral que detecta mentiras. O teste de Assinatura de Oscilações Elétricas do Cérebro, ou BEOS na sigla em inglês, produz imagens da mente humana em ação e supostamente revela sinais de que um suspeito se lembra de detalhes do crime em questão. Uma mulher acusada de matar seu ex-noivo concordou em fazer um teste BEOS e o juiz disse que os resultados provaram o “conhecimento experimental” de ter cometido o assassinato.

Enquanto a precisão desses rastreamentos é discutida, pesquisadores desenvolvem novas utilidades para a tecnologia, e um centro de detecção de mentiras poderá surgir em um local perto de sua casa. Alguns cientistas chegam a prever o fim da mentira como a conhecemos, mas quem pode dizer realmente?

***

[Anita Patil, do New York Times]