Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Censura ou controle da internet?

Nos Estados Unidos, dois projetos polêmicos, motivadores de ampla discussão, que objetivam o controle da internet, percorrem o parlamento: o Sopa (Câmara) – que visa a impedir a pirataria na rede – e o Pipa (Senado), como medida de defesa da propriedade intelectual. Não seria seguro acreditar que se trata de movimentos políticos que tendem a efeitos somente internos, atingindo os limites da nação norte-americana, pois a web é feita de ramificações, sem um centro efetivo, de tal ordem que os acessos dependem e são feitos de diferentes lugares.

Assim, no Brasil haverá reflexos da lei se aprovada nos EUA, como é o caso do fechamento do site MegaUpload, com assinantes nacionais, que não mais terá o serviço de download. Sucessivamente, o mundo vai sendo rastreado pela indústria cultural tradicional, as maiores perdedoras de uma internet livre. Afinal, representam milhões de dólares para os megaempreendimentos de cinema, música e editoras de livros – para citarmos apenas alguns – em todo mundo. Importante acrescentar que são negócios que se ramificam numa política global. Portanto, ninguém escapa do controle financeiro.

Na realidade, não se trata de censura, como vem sendo destacado pelas grandes empresas online da nova indústria cultural, como Google, Facebook e Wikipédia, por exemplo, as mais prejudicadas com a medida. Em torno das disputas estão milhões de dólares para um lado e outro, pois a retirada de endereços de sites que permitem baixar material de produção, acarretará perdas para, principalmente, os motores de buscas da internet – resultando em diminuição de recursos recebidos da publicidade – a rigor, o jornalismo global está de olho nas medidas.

A mudança de estratégia

No que diz respeito aos internautas, redução da liberdade de acesso a grande produção na rede – afinal, como afirma o jornal Folha de S.Paulo em editorial: a produção de conteúdos “não dá frutos, como os da natureza, que se podem colher graciosamente”, ou seja, não dá em árvore, com se diz –, que ao longo do tempo deverá sofrer com mais restrição aos materiais publicados online, como os da informação de revistas e jornais.

Seria, portanto, uma forma de controlar a internet com base na estrutura econômica. Modo pelo qual se mantém a ordem vigente, com informações de qualidade sendo disponibilizadas com alto preço, o que segrega milhares de pessoas, em favor das grandes corporações financeiras – uma espécie de filtro social.

Em essência, em determinado período históricos as empresas de comunicação emergentes eram subsidiadas pelos governos das nações imperiais, mas com o advento da tecnologia, percebeu-se que a estratégia levava a prejuízos com o surgimento de mídias alternativas, as quais geravam a formação de grupos com pensamento distintos dos grandes centros econômicos. Então, na modernidade muda-se o comportamento com a liberalização de tecnologia para o aumento de meios de comunicação nos diversos países, mas sob o controle das nações imperialistas, que vendem tecnologias e disseminam linguagens e cultura.

Comunicação em rede

Como se vê, ao perder o controle sobre o acesso as grandes produções fonográficas, cinematográficas e literárias – e jornalísticas –, o rendimento culminou com acentuadas perdas de capitais e controle do sistema social, tendo como resultados desemprego e pobreza nestes países e mudanças positivas naqueles tidos como emergentes. Não se trata somente de censura, que a rigor nunca deixou de existir também na internet, seja na disseminação dos principais órgãos de comunicação, que estão na rede e são (re)reproduzidos na web, uma espécie de agendamento dos meios; mas efetiva-se o controle na base da estrutura econômica.

Se assim for, nada mais previsível que tais medidas, merecedoras de alarde no sentido de chamar a atenção da opinião pública, sejam uma realidade vivida há séculos. Ademais, não se trata de comportamento a ser empreendido somente em um país, mas nas diversas nações mundo afora. Em torno desta questão está a complexidade de uma comunicação em rede, por natureza não-autoral e, por vezes, subversiva.

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[Antonio S. Silva é jornalista, mestre pela PUC-SP, doutorando pela UnB e professor]