Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

De que lado está a oposição à Sopa?

Em sua primeira manifestação sobre as propostas de lei antipirataria dos EUA, o escritor Nicholas Carr criticou a postura de ativistas que têm adotado o mesmo lado de grandes empresas de tecnologia na oposição às leis.

Carr disse que as mesmas empresas que foram contra a proposta de lei Stop Online Piracy Act (Sopa) também devem se opor a uma outra tentativa de controlar a internet, ainda que desta vez seja em benefício da população em geral e de uma maior liberdade na rede.

Novas propostas como a que a União Europeia apresentou na semana passada defendem uma maior transparência e um maior controle sobre os dados que as empresas coletam na internet.

“Será interessante assistir a como os ativistas da internet vão usar seu poder considerável no futuro, e será particularmente interessante assistir a quantos músculos eles vão mover quando seus oponentes são as mesmas corporações que estiveram do mesmo lado na luta contra a Sopa”, escreveu Carr em seu blog na semana passada.
A proposta da Europa, que ainda precisa da aprovação dos países-membros para entrar em vigor, é dar mais controle para os usuários. As empresas terão de facilitar o acesso aos dados pessoais para cada usuário e as pessoas terão o direito de apagar as informações ou de transferi-las quando bem entenderem.

Fluxo e controle

Citando empresas “famintas por informação” como Google, Facebook e Twitter, Carr afirma que as propostas de lei para aumentar o controle da privacidade serão criticadas por elas usando os mesmos argumentos que tinham contra a Sopa. Isto é, ameaças de processos e de “dores de cabeça” operacionais, e a preocupação de que as leis iriam impedir a inovação, “neste caso aquela (a inovação) que exige o uso e a troca de dados pessoais sem restrição para ganhos comerciais”, disse Carr.

“Sem dúvida, elas também vão choramingar sobre como será difícil, tecnicamente, obedecer à lei. Essas empresas podem construir carros que dirigem sozinhos, mas tornar a coleta de dados mais transparente e dar às pessoas ferramentas para controlá-la – bem, nossa, isso é muito difícil”, escreveu no post intitulado Pirataria e Privacidade (Piracy and Privacy). Carr se refere indiretamente ao Google, que costuma usar argumentos técnicos para se opor às regulamentações.

Carr é autor do livro A Geração Superficial – O que a internet está fazendo com os nossos cérebros (ed. Agir, 384 págs.), publicado nos EUA em junho de 2010, e tem sido um crítico dos efeitos da tecnologia desde então.

Em seu blog, o escritor também se referiu diretamente ao fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. Há dois anos Zuckerberg declarou em uma entrevista que as pessoas já não se preocupam mais com privacidade como no passado, defendendo a coleta de dados pessoais. Carr afirma que a privacidade é na verdade “a liberdade de ter o controle da sua própria informação”.

“Garantir a liberdade de informação online implica não apenas em questões de fluxo, mas também em controle. Francamente, às vezes parece que o Vale do Silício está mais interessado na liberdade de dados do que na liberdade das pessoas”, escreveu Carr.

***

[Filipe Serrano, do Estado de S.Paulo]