Usando uma “linha do tempo” semelhante à do próprio site para apresentar seu histórico, o Facebook divulgou na quarta-feira (1/2) o prospecto de sua oferta pública inicial de ações nos Estados Unidos. A oferta será primária e secundária e deve somar US$ 5 bilhões. A companhia não informou o intervalo de preço previsto por ação nem a quantidade de ações que pretende emitir, o que dificulta um cálculo preciso sobre o valor de mercado previsto para a empresa. Com base nas ações já existentes e no “valor justo” atribuído aos papéis por conta do plano de opções – perto de US$ 30 por ação – ao fim de 2011, chega-se a uma avaliação de US$ 75 bilhões.
Mas estimativas de mercado dão conta de que o plano é que a empresa esteja avaliada perto de R$ 100 bilhões, quando seus papéis começarem a ser negociados em bolsa, sob o código “FB”. A empresa não disse se seus papéis serão listados na Nyse ou na Nasdaq. Caso a estimativa de US$ 100 bilhões esteja correta, o Facebook valerá quase 27 vezes sua receita, que foi de US$ 3,71 bilhões em 2011, com alta de 88% sobre 2010, quando somou US$ 1,97 bilhão. Em comparação com o lucro líquido, que foi de US$ 1 bilhão no ano passado, ante US$ 606 milhões em 2010, o múltiplo seria de 100 vezes.
Apenas para efeito de comparação, o Google, outro gigante da internet, é negociado hoje por cinco vezes o valor de suas vendas e por 17 vezes o lucro. Obviamente, se o crescimento do Facebook seguir acelerado, seus múltiplos tendem a cair. Como previam os analistas, as margens do Facebook são elevadas. A operacional foi de 52% e a líquida ficou em 27% em 2011. Tendo em conta a avaliação de mercado de US$ 100 bilhões, a fatia de 28,4% do fundador e presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, pode ser avaliada em US$ 28,4 bilhões – embora esse valor possa mudar, a depender do exercício de opções. A firma de capital de risco da Accel Partners, que tem como sócio James W. Breyer, é a segunda maior acionista, com 11,4%.
Dar liquidez aos funcionários que possuem ações
Segundo o prospecto preliminar, Zuckerberg estará entre os acionistas vendedores, mas usará a maior parte do dinheiro para assumir o custo tributário ligado ao exercício de opções. Os bancos Morgan Stanley, J.P. Morgan e Goldman Sachs serão os principais coordenadores da operação. A comissão na operação, entretanto, deve ficar entre 1% e 1,5%, segundo a Bloomberg, um nível considerado baixo, já que em operações semelhantes ela costuma variar de 3% a 5%.
O Facebook informa ter duas fontes principais de receita: anúncios e comissões cobradas por venda de produtos e serviços no seu site. As vendas de anúncios geraram US$ 3,15 bilhões para a companhia, com peso de 85% no faturamento total. Pouco mais da metade dos anúncios, mais precisamente 56%, tiveram como origem clientes dos Estados Unidos em 2011. No ano anterior, o peso dos EUA tinha sido de 62%. A outra parcela da receita está atrelada principalmente à parceria com a Zynga, que vende jogos online por meio da rede social. Segundo o prospecto, 12% da receita se referem ao acordo.
O Facebook disse que fechou 2011 com 845 milhões de usuários ativos mensais, ante 608 milhões ao fim de 2010. Quando se observa o número de usuários que acessam diariamente o site, o número subiu de 327 milhões para 483 milhões no período.
No prospecto, está anexada uma carta assinada por Zuckerberg. Nela, o fundador da rede social diz, entre outras coisas, que a oferta pública inicial tem como um dos motivos dar liquidez aos funcionários da companhia, que possuem ações. O dinheiro da oferta irá para capital de giro e outros propósitos. Em dezembro, a companhia tinha US$ 3,9 bilhões em caixa, com ativos totais de US$ 6,66 bilhões.
***
[Fernando Torres, do Valor Econômico