O presidente do conselho de administração do Google, Eric Schmidt, saiu em defesa das mudanças na política de privacidade que a companhia vai adotar a partir de março. “A adesão é voluntária. Se o usuário quiser permanecer anônimo, ele pode. Só que os resultados das buscas vão ser melhores se ele estiver identificado”, afirmou. Em palestra no Mobile World Congress, ontem (28/02), em Barcelona, Schmidt ressaltou que a identificação vai permitir ao Google conhecer melhor os usuários de seu mecanismo de buscas online e a entregar a eles respostas mais próximas do que estão buscando.
Anunciada no fim de janeiro, a nova política de privacidade do Google estabelece que todas as informações relativas a um determinado usuário dos serviços da empresa serão reunidas numa única conta. Anúncios publicitários serão apresentados na página do internauta de acordo com o conteúdo buscado ou compartilhado por ele. A medida tem provocado grande polêmica e foi tema de boa parte das perguntas feitas a Schmidt pela plateia que assistiu à apresentação em Barcelona.
Anteontem, o órgão da França que supervisiona a liberdade civil e questões de privacidade na web enviou carta ao executivo-chefe do Google, Larry Page, afirmando que as mudanças ferem os padrões europeus de proteção de dados pessoais. A agência reiterou um pedido para que a implementação da nova política seja adiada. “(As autoridades europeias) têm fortes dúvidas sobre a legalidade e a justiça desse processamento (de dados do usuário) e sobre sua adequação às regras regionais”, afirmou a presidente do organismo francês, Isabelle Falque-Pierrotin. Além da Europa, a Coreia do Sul também já manifestou sua insatisfação com as medidas que serão adotadas pelo Google.
“Um Android no bolso de cada pessoa”
As críticas foram ironizadas por Hugo Barra, diretor de produtos do Android, que dividiu o palco com Schmidt para apresentar novidades no navegador de internet disponível para os telefones móveis que usam o sistema operacional do Google. “É claro que você pode bloquear tudo isso, se você tem algum problema com privacidade, não é Eric?”, disse o executivo ao comentar um recurso que permite ao internauta acessar, no celular, os mesmos resultados de uma busca feita em outro dispositivo.
Ao lado da nova política, o presidente do conselho do Google também defendeu a ideia de que a internet seja uma rede livre. De acordo com Schmidt, 25 dos cerca de 125 países onde a companhia atua exercem algum tipo de controle sobre ela na web. “Vamos ver mais esforços desse tipo, mas todos vão falhar porque tecnologia é como água, ela encontra seu caminho”, ressaltou. Schmidt destacou o poder transformador da internet ao lembrar que imagens e notícias da Primavera Árabe ganharam o mundo por meio da web. O executivo, no entanto, ponderou que a “revolução digital” ainda nem começou para a maioria das pessoas. “Há 7 bilhões de pessoas no mundo e só 2 bilhões estão online”, disse.
Para Schmidt, o acesso dos outros 5 bilhões virá por meio dos telefones celulares. Não por acaso, o Google está empenhado em popularizar os aparelhos móveis com acesso à internet. O executivo afirmou esperar que, no próximo ano, comecem a chegar ao mercado smartphones equipados com o sistema operacional Android que custem menos de US$ 100. Os modelos de smartphones mais baratos disponíveis atualmente custam o dobro disso, sem contar os subsídios oferecidos pelas operadoras de telefonia. O Android foi desenvolvido pelo Google e é a maior plataforma de telefones móveis.
Segundo o executivo, a cada dia são ativados cerca de 850 mil aparelhos Android, que já constituem uma base de 300 milhões de celulares. “O ponto de virada vai acontecer quando eles passarem a custar menos de US$ 70”, disse Schmidt. “Se o Google estiver certo, vai ter um Android no bolso de cada pessoa”, observou.
(A repórter viajou a convite da Qualcomm.)
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[Talita Moreira, de Barcelona, para o Valor Econômico]