Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rede social de pesquisa atrai cientistas

Embora a física de partículas não seja a área do professor Adilson Jesus de Oliveira, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), ele gosta de ler na internet as controvérsias sobre o assunto.

Ele tem acompanhado o debate sobre os neutrinos (se ultrapassaram a velocidade da luz em um experimento conduzido na Suíça) por uma rede social exclusiva para cientistas, o Research Gate (http://researchgate.net).

“Foi muito interessante ver as diferentes opiniões em relação ao resultado obtido pelo Cern [centro europeu que anunciou os dados sobre os supostos neutrinos velozes]”.

Oliveira também tem usado o site para pesquisar na sua área, o magnetismo.

“Outro dia alguém perguntou como se estabiliza uma nanopartícula magnética. Várias pessoas deram dicas. Interessante a cooperação.”

O espaço de interação mencionado pelo físico acontece nos grupos temáticos do site.

Além dos grupos, os cientistas cadastrados também podem buscar pesquisadores por área (como neurociência ou biologia) e trocar mensagens privadas, como e-mails.

Artigos na vitrine

Alguns cientistas também disponibilizam seus artigos científicos ou as suas prévias abertamente nos perfis.

“O Research Gate serviu para encontrar novos textos de autores que costumo ler”, conta o biólogo Atila Iamarino, que faz doutorado na USP sobre evolução do vírus HIV.

Ele também gosta de acompanhar o que os pesquisadores “líderes” de algumas áreas publicam ou curtem.

Mas a maior vantagem, para ele, é a possibilidade interagir com colegas de fora.

“Sempre tive dificuldade em encontrar um currículo e publicações de pesquisadores no exterior”, conta.

Essa dificuldade foi o que motivou o cientista da computação Ijad Madisch a criar o site enquanto ainda estudava na Alemanha.

“Tive muita dificuldade para encontrar pessoas da minha área [computação aplicada à medicina] no doutorado. Por isso pensei em criar uma rede para cientistas”, conta Madisch no Youtube. Ele trabalha no Hospital Geral de Massachusetts, ligado à Universidade Harvard.

O site, criado em 2008, tem 1,4 milhão de usuários. A ideia de Madisch é chegar a 8 milhões até 2013.

“Os cientistas vão se acostumar com o Research Gate. Meu orientador dizia que o orientador dele não queria usar e-mail quando a internet surgiu. É mais ou menos a mesma adaptação”, diz.

Do total, apenas 3% dos usuários vem do Brasil. O número ainda pequeno de usuários no Brasil, de acordo com Iamarino, pode ser justificado pelo uso do Lattes.

É uma espécie de currículo on-line de cientistas exigido pelo CNPq, a principal agência financiadora de ciência do país. Há mais de 1,8 milhão de currículos cadastrados no sistema brasileiro.

No entanto, o Lattes não traz os contatos eletrônicos dos cientistas, como e-mail, e não possibilita interação.

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[Sabine Righetti, da Folha de S.Paulo]