Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Documentário foge dos padrões de sucesso da web

Qual a receita para criar um bom vídeo viral? Daqueles que se espalham rápido pela web, que todo mundo vê e comenta na mesa de bar?

Na história recente da internet, com o YouTube e sites de compartilhamento, o caminho parecia claro: vídeos engraçados, de preferência com bebês ou animais, ou clipes de fenômenos que começaram na internet, como Lady Gaga e Justin Bieber.

“Kony 2012”, um documentário com ares de produção hollywoodiana, 30 minutos de duração e nenhuma gota de humor ou absurdo -elementos tidos como necessários para o sucesso de um viral- quebrou a receita.

“Ele é a prova de que, apesar de existir um certo padrão nos virais, não há uma fórmula”, diz Kaluan Boarini, produtor de conteúdo da YouPix, empresa que organiza eventos de cultura digital.

O documentário, feito pela ONG americana Invisible Children, já é considerado o viral a se disseminar mais rapidamente pela internet.

Segundo dados da empresa de monitoramento Visible Measures, “Kony 2012” atingiu 100 milhões de visualizações em apenas seis dias -ele foi publicado originalmente em 5 de março. O monitoramento contabiliza o vídeo original e também republicações e repercussões.

A proposta do vídeo é chamar a atenção da comunidade internacional para atrocidades de Joseph Kony, líder do LRA (Exército de Resistência do Senhor), em Uganda. Seu grupo sequestra e tortura crianças em protesto contra o governo do país.

Apesar do sucesso na web, o vídeo foi recebido com reprovação em Uganda.

Victor Ochieng, que organizou a exibição do vídeo na cidade de Lira e teve dois parentes sequestrados pelo LRA, disse ao “Guardian” ter sido “muito doloroso para as vítimas ver pôsteres, braceletes e bótons da pessoa que é a maior responsável pela destruição de suas vidas”.

No site de leilões e compras eBay, já é possível comprar mais de 7.000 produtos relacionados ao vídeo. Alguns se comprometem a doar 10% do valor do produto à causa.

“Por um lado, o vídeo chama atenção à temática, mas ele não trata de toda a complexidade do assunto. Prefere ir para o lado mais tocante”, diz Adriana Amaral, professora de pós-graduação em ciência da comunicação da Unisinos e autora de uma tese sobre vídeos virais.

“O sucesso do Kony 2012 deve criar nova fórmula de ‘viral de mobilização’, usando basicamente os mesmos princípios do cinema e da publicidade e aplicando-os à internet”, diz Boarini.

Leia também

O dilema da imprensa no drama das “crianças invisíveis” em Uganda– Carlos Castilho

***

[Leonardo Martins, colaboração para a Folha de S.Paulo]