Depois de 244 anos, a Encyclopaedia Britannica vai parar de publicar sua versão impressa, de 32 volumes. Em vez disso, vai concentrar-se em seus esforços digitais, em um marco que ressalta a mudança de rumo dos produtores de conteúdo na era da internet. Publicada pela primeira vez em Edimburgo, na Escócia, em 1786, a Encyclopaedia Britannica imprimiu mais de 7 milhões de coleções, tornando-se pedra de toque cultural à medida que o conhecimento era democratizado nos séculos 19 e 20.
“Estou de coração partido”, disse A.J. Jacobs, que leu toda a Encyclopaedia Britannica para seu primeiro livro, The Know-It-All (O Sabe-Tudo, em tradução livre). “Havia algo tão maravilhosamente concreto na versão impressa, e eu amava a ideia de que todo conhecimento do mundo podia estar contido naquelas páginas.” O explorador Ernest Shackleton levou alguns volumes da enciclopédia em sua malsucedida expedição para a Antártica, e os teria queimado, página por página, para manter-se aquecido. “Você não pode fazer isso com a internet”, disse Jacobs.
Jorge Cauz, presidente da companhia Encyclopaedia Britannica, disse que abandonar a publicação dos volumes impressos era um passo necessário para a evolução da companhia. “Nós vimos há algum tempo que isso aconteceria”, afirmou. “Não se trata de nos defendermos da Wikipedia, mas precisamos diversificar e digitalizar.” O crescimento da web reduziu drasticamente as vendas da Britannica. De um pico de 120 mil coleções em 1990, o movimento caiu para apenas 8,5 mil coleções da edição vendida em 2010.
“Substituímos dinheiro impresso por trocados digitais”
Ao apostar na web, Cauz vai entrar em uma disputa direta com a Wikipedia, a enciclopédia online gratuita e cujo conteúdo é feito pelos próprios usuários. A Wikipedia tem largamente substituído a Britannica como principal fonte de informação. A Wikipedia tem mais de 3,7 milhões de verbetes, frente aos 100 mil da Britannica. Cauz disse que os verbetes da Britannica são checados por editores profissionais, o que os torna mais confiáveis que os da Wikipedia. Mesmo isso, no entanto, não a torna à prova de falhas, ele reconheceu. “Não vamos ser 100% precisos durante o tempo todo”, afirmou.
A Britannica também vai enfrentar uma tarefa difícil para fazer seu conteúdo fácil de achar no meio online. Cauz disse que tem boas relações com o Google e o Bing, o serviço de busca da Microsoft, mas que melhorar sua posição no ranking de busca permanecia um desafio. “Os algoritmos deles não diferenciam fato de ficção e conteúdo de boa qualidade do que não é de boa qualidade”, disse Cauz. “Nós poderíamos estar ganhando rios de dinheiro se fôssemos como a Wikipedia.”
O acesso online à Britannica estará disponível pelo preço de US$ 70 por ano – a cobrança será por número de usuários para empresas e organizações – e parte do conteúdo estará, em breve, disponível de maneira gratuita a todos os usuários. A companhia Encyclopaedia Britannica tem se afastado da enciclopédia. Os softwares educacionais agora representam 85% das receitas, enquanto 15% do faturamento vem das vendas das versões impressa e online do conteúdo da enciclopédia. Cauz disse que a companhia – uma empresa de capital fechado – tem sido lucrativa há oito anos, embora seja menor do que costumava ser. “Substituímos dinheiro impresso por trocados digitais”, disse Cauz.
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[David Gelles, do Financial Times, de Nova York]