Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O mundo digital em três telas

Televisão, computador e smartphone são as três telas que abrangem praticamente todas as comunicações do mundo digital, setor que passa, aliás, pela mais radical e profunda mudança de paradigmas de toda a história da eletrônica. Na verdade, a palavra que poderia definir com maior precisão essa mudança talvez fosse disrupção (do inglês, disruption) – já registrada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Sintetizar em três telas toda a comunicação do mundo digital é, sem dúvida, uma fórmula didática perfeita que tem sido utilizada por especialistas para facilitar a compreensão do processo de convergência, entre os quais Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm para a América Latina.

De que modo convergem as três telas? Da forma mais completa e abrangente possível. E mais: as três telas são totalmente reversíveis, pois tudo que uma faz as outras duas também fazem. Assim, a cada dia que passa, a TV mais se transforma e se aproxima de um computador com tela grande. Da mesma forma, pode até exercer as funções de um smartphone. O computador, por sua vez, comporta-se como uma TV ou como um smartphone. E o smartphone assume os papeis de um computador ou de uma TV com tela pequena.

O que muda

“Nas últimas décadas – relembra Rafael Steinhauser – as pessoas se comportavam diante da televisão de forma totalmente passiva, recebendo conteúdos prontos e acabados, tanto da TV aberta quanto da TV por assinatura. Esse público acostumou-se a receber programas preparados e empacotados pelas emissoras, sem se preocupar com aplicativos ou sistemas operacionais. O mesmo acontecia até há pouco com os usuários de computadores e do celular. O cliente recebia o aparelho com os aplicativos essenciais, prontos e acabados, num pacote fechado, e passava a usá-lo sem mais problemas.

Mas esse mundo da comunicação está mudando. A convergência das três telas, entretanto, transforma radicalmente esse cenário, pois a grande tendência dos novos smartphones, laptops e tablets é oferecer um sistema operacional aberto. Daí o grande sucesso do Android.

O mesmo tem acontecido com outros sistemas operacionais, como o iPhone e o iOS – e, agora, com o Windows Phone, pois todos os smartphones permitem a qualquer desenvolvedor colocar seu aplicativo na plataforma e vendê-lo ou distribuí-lo gratuitamente, via celular ou via internet. E o usuário escolhe o que acha melhor, pagando ou baixando gratuitamente. E não há mais lugar para sistemas operacionais fechados, como no caso do Simbia, que está sendo abandonado pela Nokia em favor do Windows Phone. “Por isso, o Simbia está morrendo” – afirma Steinhauser.

Sistemas abertos

A correlação entre as três telas é hoje tão profunda que, para os especialistas, um celular só adquire o status de smartphone se tiver sistema operacional aberto. Eis aí a grande mudança de paradigma, que permite a colocação de qualquer aplicativo ou software à disposição do usuário. E vale lembrar que os smartphones já dispõem de milhões de aplicativos, um número que nenhum usuário, isoladamente, poderá utilizar em toda a sua vida.

Com esses aplicativos, o cidadão pode baixar também conteúdos da mais variada natureza, inclusive de publicidade. Os sistemas operacionais abertos mudam, assim, toda a cadeia de valores. Isso é disruptivo, como quebra de paradigmas.

Uma diferença fundamental nesse novo cenário é que o cliente deixa de ser verticalizado, como no passado, isto é, vinculado exclusivamente a um pacote de serviços ou conteúdos oferecidos por sua operadora. Hoje, o cliente se comporta de forma horizontal, aberta ao acesso a conteúdos ou serviços globais ou universais.

O mesmo acontece mais recentemente com outros dispositivos, como os tablets. A grande tendência, portanto, é que todos esses dispositivos – bem como os desktops, laptops, ultrabooks e até mesmo os televisores – tenham num futuro próximo sistemas operacionais abertos.

“Um bom exemplo – relembra Steinhauser – é o receptor de TV aberta, lançado no Consumer Electronics Show (CES 2012), em janeiro, em Las Vegas, pela Lenovo e pela Qualcomm, que usa o sistema operacional Android. E funciona perfeitamente bem para tudo que quisermos”.

Três competências

A convergência entre as três telas é resultado de três fatores tecnológicos: capacidade computacional, conectividade e multimídia. Essas três capacidades ou competências tecnológicas precisam ser comuns às três telas. Sem eles não haveria convergência entre smartphones, televisores e computadores.

Vejamos o que ocorre com os novos smartphones, que são acionados a cada dia por chipsets com maior capacidade computacional. Alguns deles são processadores de quatro núcleos, como alguns exibidos Mobile World Congress 2012, em Barcelona, em fevereiro.

“Aqueles pequenos smartphones – lembra Rafael Steinhauser – incorporam uma tecnologia ainda mais sofisticada que os nossos melhores home theaters, pois os seus chipsets dispõem de recursos extraordinários, como alta definição, microfones sensíveis, alto-falantes, dolby avançado, som surround 7.1”.

A grande diferença é que os smartphones consomem muito menos energia, não aquecem e custam apenas uma pequena fração dos home theaters.

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[Ethevaldo Siqueira é jornalista e colunista do Estado de S.Paulo]