Um quarto do ano já se foi e 2012 se impõe como um período movimentado para a agenda nacional. Nos próximos meses, teremos Jogos Olímpicos em Londres, eleições municipais e a intensificação das obras que devem preparar o país para a sua mais importante Copa do Mundo. Nas redações, jornalistas se preparam para coberturas que vão exigir preparo técnico, concentração e dedicação, e doses extras de cuidados éticos. Isso sem contar com os esforços que serão despendidos em eventos isolados como a Conferência Rio+20 e o segundo ano do governo Dilma Rousseff, quando fatalmente o Planalto será mais cobrado em suas realizações.
Entre todos esses compromissos jornalísticos o mais decisivo, na minha opinião, deve ser a cobertura das eleições de outubro, quando seis mil municípios brasileiros escolherão, mais uma vez, seus prefeitos e vereadores. Mas por que tanta importância para o evento?, pode perguntar o leitor. Porque entre as efemérides citadas é a que impacta mais diretamente no cotidiano do cidadão comum.
A vida nacional acontece primeiro nas cidades, onde se estabelecem mais diretamente as relações entre eleitores e seus representantes, onde os contratos de confiança política são mais visíveis em seus cumprimentos ou não. Eleger o gerente da cidade e seus fiscais é uma experiência política muito imediata e concreta, difícil de se abster e com instâncias de mediação reduzidas. Cobrar resultados e desempenho desses escolhidos parece um exercício mais possível que em outras instâncias da representação política.
Julgar, criticar
Para as redações, os desafios de cobertura se renovam também a cada quatro anos. E no contexto brasileiro, esse tipo de cobertura assume contornos mais importantes, dado o fortalecimento do discurso da participação e da cidadania, e dado o aumento da influência da mídia na vida pública nos últimos anos. Isto é, cada vez mais, grandes veículos de comunicação têm se preocupado em produzir conteúdos para um noticiário mais comunitário, mais regionalizado, de maneira a engrossar os laços que os atam aos seus públicos.
O resultado está em séries de reportagem com acento local, estratégias de incentivo à interação da audiência e uma preocupação mais evidente de que é preciso horizontalizar o diálogo com quem está do lado de lá na equação comunicativa. Internet, blogs e redes sociais online fragmentam o noticiário, bem como espalham e geram mais e mais opinião e análise.
Neste sentido, podemos arriscar que, de abril até outubro, haverá seis meses para um novo teste para a mídia e os jornalistas. Se as eleições municipais deste ano têm a dimensão e a importância já elencadas, e se os meios de comunicação ocupam um papel tão decisivo nesse tipo de experiência social, é de se supor que não apenas os candidatos estarão em julgamento.
É também um tempo em que as coberturas atrairão os olhares de até quem costuma se desviar. Ávido por informação, o cidadão deve aumentar seu consumo noticioso. Servido com fartura e por muitos fornecedores, o cidadão também terá condições de comparar, escolher, julgar, criticar, preferir e dispensar. Em alguma medida, também elegerá suas fontes de informação já que suas decisões diante da urna dependem de conhecimento e discernimento.
Pacto de confiança
É um momento rico para a cidadania não apenas porque os eleitores cumprem seus papeis constitucionais, mas também porque a sociedade se obriga a discutir prioridades, visões e vocações locais, projetos de desenvolvimento coletivo. Também porque o sujeito comum se reposiciona diante do noticiário, desacomodando-se do lugar de mero receptáculo de conteúdos.
Para o jornalismo – que nos últimos anos vem sendo questionado sobre seu futuro –, é uma oportunidade de reatar velhos pactos de confiança com seus públicos, aqueles mesmos que delegaram às instituições do ramo a função de investigar e informar, contextualizar e atribuir sentido ao caos diário. É ou não é um tremendo teste?
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[Rogério Christofoletti é professor da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador do objETHOS]